As escolas amanheceram fechadas e os locais de trabalho vazios na segunda (19) e uma multidão de haitianos tomou as ruas da capital, Port Au Prince, no segundo dia de manifestações contra a corrupção que assola o país mais pobre das Américas.
No domingo, enquanto depois de uma grande concentração, os manifestantes se dirigiram a sede do parlamento e foram atacados por policiais e paramilitares, bloqueios com barricadas em chamas com o incêndio de pneus, moveis e carros pipocaram por diversos departamentos parando as principais vias do país.
O protesto denominado “Kot Kob Petwo Karibe a?” (Cadê o dinheiro do PetroCaribe?), que foi convocado pela coalizão Setor Democrático e Popular e outros grupos exige o paradeiro de US$ 2 bilhões que foram roubados de um total de US$ 3,8 bilhões fornecidos ao Haiti desde 2010 – como ajuda na recuperação do terremoto que devastou o país naquele ano – através do programa PetroCaribe, com o qual a Venezuela forneceu combustível subsidiado e dinheiro ao país mergulhado na pobreza, no qual dos 10,4 milhões de habitantes, 6 milhões sobrevivem com US$ 2,41 ao dia (dados do Banco Mundial).
Segundo os organizadores, que denunciam paramilitares atirando indiscriminadamente na multidão a partir de veículos sem placa, 11 pessoas, incluindo um policial, morreram durante os dois dias de protesto e 45 ficaram feridos.
As manifestações coincidem com o 215º aniversário da Batalha de Vertiéres, principal vitória da revolução dos escravos contra o ocupante francês, vitória que permitiu aos haitianos proclamarem a independência menos de um ano depois.
Com os confrontos, o amedrontado presidente, Jovenel Mosé, cancelou a ida ao Cabo Haitiano, onde se deu a histórica batalha, e limitou-se a uma cerimônia de 10 minutos no Panteão Nacional na capital.
Os haitianos exigem medidas concretas do governo que vem acobertando membros de seu partido Tèt Kale (Cabeças Calvas) implicados no roubo de recursos que seriam destinados para projetos de retomada econômica e infraestrutura, o que foi revelado em um informe divulgado ano passado pelo Senado do Haiti. O próprio Jovenel é acusado de lavagem de dinheiro.
As provas levantadas pelos senadores envolvem 14 integrantes do governo anterior, do presidente Michel Martelly do mesmo partido do atual presidente. Nenhum dos implicados foi até agora processado.
O governo de Moisé aprofunda seu desgaste desde julho quando o seu plano de acabar com os subsídios aos combustíveis, o que elevou os preços em perto de 50% do dia para a noite, levou a eclosão de gigantescas manifestações e confrontos que duraram uma semana. O corte foi levantado e o primeiro-ministro, Jack Guy Lafontant, renunciou.
O opositor Moise Jean Charles que esteve na cerimônia pela independência em Cabo Haitiano, afirmou que só com a saída do presidente do poder haverá um julgamento do caso Petrocaribe. “Jovenel tem de sair, não há outra opção. Ele é um obstáculo para a estabilidade e a paz. Ele e os seus amigos gastam milhões de dólares quando estamos vendo que outros estão morrendo de fome. Não é possível que ele siga como presidente, e vamos continuar com as mobilizações até que ele vá embora”, afirmou Charles.