Pediu nomes dos servidores que aprovaram a vacinação. “A Anvisa repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada”, diz a nota, sobre os ataques feitos por Bolsonaro
No mesmo dia em que a Polícia Federal informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que Jair Bolsonaro fez ameaças ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e mentiu, para tentar criar um clima favorável a um golpe de Estado, o capitão cloroquina resolveu ameaçar também os servidores da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) por conta da aprovação pelo órgão da vacinação em crianças de 5 a 11 anos.
“Eu pedi extraoficialmente o nome das pessoas que aprovaram a vacina para 5 a 11 anos. Nós queremos divulgar o nome dessas pessoas. A responsabilidade é de cada um. Mas, agora mexe com as crianças, então quem é responsável por olhar as crianças é você, pai. Eu tenho uma filha de 11 anos de idade e vou estudar com a minha esposa bastante isso aqui”, disse Bolsonaro, ao vivo, em sua live de quinta-feira (16), numa clara ameaça aos servidores e diretores da agência regulatória.
Em resposta, a Anvisa afirmou, nesta sexta-feira (17), que repudia qualquer ameaça. “A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explicita ou velada, que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão”, disse a direção da Anvisa.
“Em outubro do corrente ano, após sofrer ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos, por parte de agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Agência Nacional se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento”, diz o texto. A nota é assinada pelo diretor-presidente, Antonio Barra Torres, e pelos diretores Meiruze Freitas, Cristiane Rose Jourdan, Romison Rodrigues Mota e Alex Machado Campos.
Os servidores já relataram à polícia ameaças de morte por grupos antivacina antes mesmo da aprovação do imunizante para crianças. “O serviço público aqui realizado, no que se refere à análise vacinal, é pautado na ciência”, lembra o órgão, que garante um ambiente de trabalho “isento de pressões internas e avesso a pressões externas.”
As principais associações da indústria farmacêutica divulgaram nota nesta sexta em defesa da Anvisa. O texto foi uma resposta às ameaças feitas pelo chefe do Executivo. “O conhecimento e a seriedade dos técnicos da Anvisa são inquestionáveis, haja vista sua atuação irreparável diante do cenário caótico vivido nesse tempo de pandemia”, disse a nota assinada por 16 entidades, como o Sindusfarma, a Interfarma e a Pró-Genéricos.” “São inadmissíveis as ameaças que os servidores da Anvisa vêm sofrendo devido às aprovações de vacinas contra a Covid-19”, dizem as principais representantes dessa indústria.
Não é a primeira vez que Bolsonaro ataca os servidores da Anvisa. Já na decisão sobre vacinação de adolescentes, o Planalto fez carga contra a medida e estimulou as milícias digitais fascistas contra a medida. Os servidores da Anvisa denunciaram as ameaças e pediram proteção contra elas.
Em outubro, cinco diretores da Anvisa foram ameaçados de morte caso ocorresse a aprovação da vacina para crianças. A ameaça foi feita por e-mail. Na nota, a Anvisa citou as ameaças de morte. O presidente da agência, Antonio Barra Torres, disse que a Polícia Federal ainda não respondeu ao pedido sobre garantir proteção dos dirigentes e técnicos mais expostos da agência.
Por meio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, Bolsonaro até havia conseguido suspender a vacinação da faixa etária acima dos 12 anos, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu o direito dos jovens de se vacinar. O capitão cloroquina defendeu durante toda a pandemia que a população deveria se infectar com o coronavírus o mais amplamente possível para “adquirir imunidade natural”. A medida foi considerada um verdadeiro genocídio, já que, se prevalecesse, provocaria a morte de milhões de pessoas.
Bolsonaro sabota a vacinação desde o início da pandemia. Foi contra a CoronaVac, demorou para assinar o contrato com a Pfizer, estimulou as aglomerações, combateu o uso de máscara e, agora, não quer controlar os aeroportos do país, uma medida fundamental para proteger a população contra a disseminação da variante ômicron, que está se espalhando por toda a Europa.
Foi por conta de todo esse esforço pró vírus por parte de Bolsonaro que o país foi o segundo do mundo em número absoluto de mortes. Enquanto o mandatário resistia, os brasileiros morriam. Mais de 616 mil brasileiros perderam a vida pela Covid-19.
Atualmente, diversos países no mundo já vacinam as crianças contra a Covid-19 e também usam a fórmula da Pfizer/BioNTech, que é de 1/3 da quantidade da fórmula dos adultos. Entre eles, estão Estados Unidos e todos os países-membros da União Europeia. A China e o Chile, por exemplo, também usam a CoronaVac para cobrir a vacinação deste grupo. O Instituto Butantan, de São Paulo, já entrou também com o pedido junto à Anvisa para a utilização da CoronaVac nesta faixa etária.
O governo segue boicotando. Disse que ainda vai analisar a decisão da Anvisa e que só em 2022 tomará uma medida a respeito do tema. É por esse comportamento infanticida que já se está associando o nome de Bolsonaro ao de Herodes, o monarca dos judeus no Oriente, que reinou entre os anos de 37 a.C. a 4 a.C. Ao saber do nascimento de Cristo, o facínora mandou, segundo relata Mateus, que fossem executados todos os meninos recém-nascidos de Belém.
Leia a íntegra da nota da Anvisa
Em relação às declarações do Sr. presidente da República durante live em mídia social nesta quinta-feira, 16 de dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária comunica:
A Anvisa, órgão do Estado brasileiro, vem a público informar que seu ambiente de trabalho é isento de pressões internas e avesso a pressões externas.
O serviço público aqui realizado, no que se refere à análise vacinal, é pautado na ciência e oferece ao Ministério da Saúde, o gestor do Plano Nacional de Imunizações (PNI), opções seguras, eficazes e de qualidade.
Em outubro do corrente ano, após seus dirigentes e seu corpo funcional sofrerem ameaças de morte e de toda a sorte de atos criminosos por parte de agentes antivacina, no escopo da vacinação para crianças, esta Agência Nacional se encontra no foco e no alvo do ativismo político violento.
A Anvisa é líder de transparência em atos administrativos e todas as suas resoluções estão direta ou indiretamente atreladas ao nome de todos os nossos servidores, de um modo ou de outro.
A Anvisa está sempre pronta a atender demandas por informações, mas repudia e repele com veemência qualquer ameaça, explícita ou velada, que venha constranger, intimidar ou comprometer o livre exercício das atividades regulatórias e o sustento de nossas vidas e famílias: o nosso trabalho, que é proteger a saúde do cidadão.
Antonio Barra Torres, diretor-presidente
Meiruze Sousa Freitas, diretora
Cristiane Rose Jourdan Gomes, diretora
Rômison Rodrigues Mota, diretor
Alex Machado Campos, diretor