Publicamos hoje o artigo de João Marcelo Goulart, médico brasileiro, neto do ex-presidente João Goulart, formado em Cuba e integrante do Programa Mais Médicos. João Marcelo, que já atuou como médico de família na Comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, diz que é um médico “apaixonado por gente”. Ele desmonta em seu artigo as aleivosias de Jair Bolsonaro que, para agradar o governo dos EUA, agride os médicos cubanos e as suas autoridades, em prejuízo da população brasileira.
Sem dúvida um país como o Brasil, se investisse o que deveria em saúde pública, não precisaria importar médicos estrangeiros para atender as populações mais carentes. No entanto, não é isso o que ocorre. Grande parte dos municípios mais pobres e mais distantes não possuem atendimento em saúde. Do total de 414.831 médicos registrados no Brasil, boa parte deles permanece nos grandes centros. Os motivos para isso são muitos, desde uma formação inadequada até a falta de uma política pública de saúde que tenha como meta a cobertura dessas populações.
O Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB), implantado em 2013, nasceu como uma medida emergencial, até que se implantasse um programa nacional de interiorização da assistência em saúde. Não bastou o estímulo, dado na época, à abertura de novas faculdades de medicina, porque o problema principal não era apenas a falta de médicos. Surgiram dezenas de escolas médicas privadas, formando médicos que seguiram despreparados para o atendimento no interior do país. O Brasil continuou mantendo o subfinanciamento do SUS e uma formação médica super especializada e altamente elitista.
Diante da inação e do descaso com a saúde da população brasileira, o programa, que era para ser emergencial, tornou-se permanente. Os cubanos, os brasileiros abnegados e os demais médicos estrangeiros do programa vêm dando mostras de grande dedicação e cumprem seus deveres de forma exemplar. A população aprovou os seus esforços e está atônita com a possibilidade de colapso do atendimento. Os Secretários Municipais de Saúde também se manifestaram apreensivos com o que poderá ocorrer após as trapalhadas de Jair Bolsonaro.
Os ataques demagógicos de Bolsonaro aos médicos cubanos, uma atitude clara de vassalagem ao governo dos EUA, que, através do Departamento de Defesa, acaba de elogiá-lo por atacar Cuba e desrespeitar os médicos do país irmão, trará como consequência um colapso anunciado no atendimento às populações mais carentes, que são cobertas pelos mais de 8 mil médicos cubanos que atuam no Brasil.
Bolsonaro, que sempre se vangloriou de votar contra os trabalhadores durante toda sua vida parlamentar, usa como pretexto para acabar com o atendimento às populações mais pobres, a qualidade dos médicos cubanos e seus salários e impostos, que, segundo ele, não seriam “adequados”. Como se ele tivesse alguma moral para falar em defesa de direitos, e como se Cuba não fosse reconhecida no mundo inteiro pela qualidade de sua medicina e por suas invejáveis conquistas sociais. Tudo isso que é dito por Bolsonaro é contestado neste importante texto feto por alguém que está dentro do programa. Com vocês, o artigo de João Marcelo Goulart.
S.C.
AULA DE HIPOCRISIA, PELO BEM DO MEU POVO, MEU…APENAS MEU
João Marcelo Goulart
Graças às promessas de campanha, que constam no programa de governo do presidente eleito de expulsar os médicos cubanos do Brasil, vivemos um momento histórico e gravíssimo de desassistência no nosso País.
Bolsonaro com seu discurso xenofóbico, racista e depreciativo conseguiu concluir uma ação tão esperada pela classe médica, elitista e neoliberal que começou desde os primeiros dias que os médicos cubanos chegaram ao Brasil. Quem não se lembra dos discursos racistas, passeatas com cartazes xenofóbicos explicitamente racistas? Dizeres como… parecem umas empregadas domésticas… isso não é médico, tudo isso pelo seu simples e humilde modo de vestir-se.
Os médicos eram acusados de falsos médicos…paramédicos… enfermeiros e pasmem… até espiões, incrivelmente apoiados pela grande mídia…Revista Veja por exemplo. O Mais Médicos foi boicotado pelos finos médicos formados no Brasil. Nos primeiros editais houve inscrição em massa, ocupando a quase todas as vagas, para que não sobrasse nenhuma aos médicos Cubanos. Quando os “Doutores” Hipocráticos eram chamados para assumirem as vagas simplesmente não apareciam, a população continuava desassistida e necessitada e cubanos seguiam sem ser chamados.
A classe médica, CFM, CRMs mostraram sua face. Sempre disseram que o Brasil tem médicos suficientes, que não precisamos de estrangeiros, mas os números mostram outra realidade. A prática mostra outra realidade. A qualidade todos conhecem, consultas de 2 minutos e se for mais não ganha atestado, por aí vai…
Eis que os “espiões cubanos” caíram na graça de nosso povo, mais de 95% de aprovação entre a população. Eles começaram a ficar famosos e a raiva dos colegas aqui graduados aumentou também. O boicote se manteve na forma de falsificar documentos com carimbos de médicos cubanos que pelo habito de honestidade sempre tem o costume de deixar seus carimbos soltos nas mesas. Mesmo assim o sucesso do programa atravessou continentes recebendo varias menções de reconhecimento e prêmios. Daí não teve jeito, tiveram que inventar outras desculpas. O foco passou a ser a revalidação de diplomas, salário “roubado pela ditadura sangrenta Castrista”.
Um tanto quanto hipócrita esse discurso. Vamos aos fatos.
Estou de acordo que um médico qualquer, com graduação em medicina no exterior e queira exercer sua profissão no Brasil deva submeter-se a uma prova de revalidação. OK. Mas temos que entender que os médicos estrangeiros ou brasileiros graduados no exterior estão vindo para ocupar vagas remanescentes, que nenhum médico graduado aqui se sentiu atraído. Resumindo, são as vagas que ninguém quer, locais mais distantes e interiorizados, pobres e abandonados, que não fazem parte do interesse dos que fizeram o juramento em solo Canarinho e pentacampeão do mundo.
Por tanto o objetivo com esses médicos vindos de fora é que eles trabalhem exclusivamente (40 horas semanais) em seus postos de atendimento. Eles não podem atender em UPAS, Hospitais ou outras unidades, apenas na Estratégia da Saúde da Família (ESF) designada para uma população determinada. Ora, a partir do momento que você os impõe o exame de revalidação (aliás, há dois anos que o governo federal não aplica um exame de revalidação, imagina agora de uma hora pra outra mais de 16 mil médicos), todos estariam aptos a trabalhar em qualquer lugar do território nacional, poderiam escolher trabalhar onde quisessem e assim não cumpriríamos o objetivo do Mais Médicos que é a expansão da atenção básica e ESF. Quando o Médico vem para o Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB) passa por um extenso processo de validação e reconhecimento do diploma, comprovação de registro médico, são escolas médicas reconhecidas pela OMS/OPAS.
Logo após os médicos passam por um exaustivo curso de Sistema Única de Saúde (SUS), português e medicina em geral. Passam por um exame teórico e prático, organizado pelos próprios Ministério da Saúde (MS) e Ministário da Educação (MEC) com supervisão da Organização Panamaricana de Saúde (OPAS). Como pode um presidente eleito questionar a capacidade e inclusive a formação dos médicos? Nosso Ministérios da Educação e Saúde participam dessa avaliação.
Claro está que o “mitomaníaco” usou da mentira e desconhecimento da população geral do bem, para colocá-los contra dos cubanos.
Ainda usa do discurso humanitário, preocupado com a questão salarial, que o governo cubano “rouba 30% dele. Mais mentira para convencer aos desavisados.
Quem conhece o sistema cubano sabe e entende porque, mesmo sendo um país que sofre um criminoso bloqueio econômico dos EUA, consegue ser referência em educação e saúde pública. Erradicou o analfabetismo, tem os melhores indicadores de saúde do mundo, erradicou doenças que até hoje matam milhares de pessoas no Brasil. Isso acontece porque o pouco que eles têm é de fato investido nesses setores. O problema é que, em função do bloqueio (Países, empresas indústrias proibidas de realizar parceria comercial com Cuba se não são sancionados pelo tio Sam), de ser uma ilha pequena com um solo pobre e clima que não ajudam, o país produz muito pouco e o pouco que produz é exportado através de acordos internacionais e ainda assim pagando até 4 x o valor do produto. Agora por que parte do salário vai para o governo cubano?
Há mais de meio século Cuba envia médicos em missões através de cooperação internacional como agora no Brasil. O governo Cubano através da OPAS assina um contrato de serviços oferecendo x médicos por x valor, o médico Cubano vai de missão através de contrato, recebendo um salário previamente estipulado no contrato. Resumindo, o médico sabe o quanto vai receber, não estão sendo roubados e ainda recebem a mesma ajuda de custo nos municípios que os demais médicos. Recebem uma outra parte do salário em uma conta em seu país que os familiares podem usar, seu emprego original em Cuba é mantido e ainda segue recebendo o salário daquele emprego deixado temporariamente. Pra quem não conhece Cuba o poder aquisitivo lá é completamente diferente. Com 100 dólares por exemplo você pode andar de ônibus até a terceira idade e vai sobrar uns 90 dólares. Os médicos cubanos vivem em nosso país e ainda conseguem guardar dinheiro pra levar pra casa. A realidade daquele país e compreensível apenas para os que tem a grata possibilidade de conhecê-lo.
No mínimo uma tremenda hipocrisia quando usam argumentos de salário quando não os vemos questionarem os 30% de impostos que pagamos e não vemos retorno. E os demais impostos que pagamos no dia a dia! Por que se dizem tão “indignados” que os cubanos são submetidos a trabalho escravo quando os mesmos compram nas lojas da Nike, Zara, Apple? Todas condenadas por trabalho análogo à escravidão e exploração infantil? Que hipocrisia essa estranha preocupação. E que estranho lutarem pelos salários dos Cubanos e não com seu próprio (Meses de atraso, descontos absurdos de IR, etc. ) Por que não boicotam essas famosas empresas que sustentam seus egos?
Deixem os Médicos cubanos cumprirem suas missões, deixem-nos fazer o que sabem e ao que vieram. Vamos ajudar as populações mais necessitadas, mais carentes. Temos que nos preocupar um pouco mais com os outros e não apenas em nossos interesses.
Graças as promessas de governo do Bolsonaro de expulsar os médicos cubanos, mais de 28 milhões de pessoas serão desassistidas. O impacto será imediato e grave. Há pelo menos 1.575 municípios que contam apenas com médicos cubanos. 90 % das áreas indígenas contam apenas com esses médicos.
Resta esperar pelo espírito humanitário e altruísta de nossos médicos, sua vontade de trabalhar para os mais necessitados.
Eles estão terminando com o SUS, realizando o desmonte para assim justificar malévolo plano de sempre… Planos de saúde populares, saúde para os pobres como esmola e esforço humanitário.
Enfim, termino esse artigo agradecendo em nome do povo brasileiro pelo trabalho e serviços prestados pelos mais de 16.000 médicos cubanos que estiveram em nossos pais, longe de suas famílias para cuidar de nossa população carente. Foram anos onde aprendemos muito com eles e amadurecemos como atenção básica e SUS.
Obrigado Cuba,
Hasta pronto!!!
Cuba rompeu o acordo porque quis, prefeituras que recontratem os médicos demitidos para ficarem só com bolsistas temporários. O programa mais médicos colocou o maior número de médicos cubanos em São Paulo e Bahia.Parabéns Bolsonaro.
Não. Cuba não rompeu o acordo porque quis. Tanto assim que você está dando parabéns ao Bolsonaro.
Quanto ao demais: os médicos cubanos – e de mais 41 países, além do Brasil – foram colocados onde faltavam médicos. Por que a leitora acha que os paulistas e os baianos, habitantes dos Estados em que, em termos absolutos, havia maior falta de médicos, deviam ser discriminados? Se somarmos a Bahia com São Paulo, esses Estados têm 26% dos médicos cubanos – e nada há de excessivo nisso, diante das necessidades.
Em 2013, quando o programa Mais Médicos começou, havia 18.240 postos vagos para médicos (em 4.058 municípios e 34 Distritos Indígenas). Os médicos cubanos preencheram, então, 11.429 vagas. Hoje, há 8.500 médicos cubanos. Em 2.340 municípios (58% do programa), os médicos cubanos são os únicos que existem e eles ocupam 62% dos postos de trabalhos situados em locais mais distantes e com condições mais precárias.
Todos esses dados são do Ministério da Saúde.
Agora, leitora, dar parabéns ao Bolsonaro por deixar 28 milhões de pessoas sem assistência médica, é mais ou menos como dar parabéns a Hitler pela bela assistência sanitária que ele proporcionou a poloneses, tchecos, russos – e, claro, aos judeus de todas as nacionalidades.