Agências de notícias e redes sociais chamaram a atenção para as tatuagens nazistas exibidas por Fernando Andrés Sabag Montiel, o homem que tentou assassinar a vice-presidente Cristina Kirchner na quinta-feira com uma pistola. A vice-presidente está viva porque a arma falhou.
O atentado recebeu o repúdio da sociedade argentina, levou multidões às ruas do país e teve a reprovação veemente no mundo inteiro.
Montiel exibe no cotovelo esquerdo o assim chamado Sol Negro – Schwarze Sonne em alemão -, símbolo escolhido pelo chefe nazista Heinrich Himmler para adornar o quartel-general das SS.
Figura que é composta por dois círculos, um menor que o outro, dos quais nascem 12 raios que antes de chegar ao final se dobram e formam a clássica suástica nazista e doze runas. Na mão direita, Montiel tem tatuada uma cruz de ferro gamada, símbolo da Wehrmacht e, junto com a suástica, um dos mais notórios símbolos do regime de Hitler.
O sociólogo argentino, Jorge Elbaum, que postou com destaque nas redes as poses de Montiel com suas tatuagens neonazistas, assinalou ao portal Sputnik que “os símbolos tatuados no corpo de Montiel não devem nos surpreender”, mas, ao contrário, “fazem parte de uma lógica de ódio que, na Argentina, tem o kirchnerismo e sua chefe, Cristina Kirchner, como o destinatário”.
Ele lembrou esses símbolos são atualmente exaltados pelos nazistas ucranianos, como o Batalhão Azov, e advertiu sobre a existência de grupos neonazis “na América Latina”, que considera “ligados à tradição atlanticista da OTAN”. Daí a presença deles ao lado dos nazistas ucranianos desde 2014 até aqui.
Também veio à tona episódio de posse ilegal de arma branca por Montiel em 2021, caso depois arquivado, e suas duas aparições fugazes em um canal de TV criticando o kirchnerismo e seus programas sociais. A polícia argentina ainda informou ter encontrado 100 balas na residência alugada de Montiel.
OUTRAS FACETAS, DIZ LA NACIÓN
Por sua vez, o jornal La Nación, porta-voz oficioso do macrismo, preferiu destacar outras facetas do agressor, que não as tatuagens nazis.
Assim, Montiel vivia em um cômodo alugado de 15 metros quadrados nos fundos, com lixo e bagunça misturados, o que incluía vários “utensílios para práticas sexuais, como vibradores e um chicote de couro sintético preto”, “pia quebrada” e “vaso sanitário entupido”.
Ele morava ali há oito meses. Um amigo do locador do imóvel, Fabrício Pierucchi, relatou ao La Nación que “não está bagunçado assim porque foi mexido pela polícia; estava assim antes”. O mais surpreendente – acrescentou -, “além do cheiro e da sujeira, é a quantidade de utensílios fetichistas. Não tínhamos ideia dessa faceta dele”.
“Ele não parecia nem um pouco louco. Ele sempre foi muito educado, sempre com respeito. Por isso estamos tão surpresos”, disse o locador, Sergio Paroldi.
“BANIR O DISCURSO DE ÓDIO”
Após o atentado fracassado foi repudiado por todo o espectro político argentino e em mensagem ao país o presidente Alberto Fernandez assinalou que o ataque foi “o mais grave que aconteceu desde que recuperamos nossa democracia”. “Cristina continua viva porque, por algum motivo, a arma que tinha cinco balas não disparou apesar de ter sido acionada”, disse.
“Apelo a cada um dos homens e mulheres argentinos, toda a liderança política e social, a mídia e a sociedade em geral para que rejeitem qualquer forma de violência. Precisamos isolar, não validar e repudiar palavras desqualificantes, estigmatizantes e ofensivas que apenas nos dividem e nos confrontam”, disse o presidente, que convocou o povo argentino a expressar nesta sexta-feira “em paz e harmonia, em defesa da vida, da democracia e da solidariedade com nossa vice-presidente”.
Nas últimas duas semanas, pedido de dois promotores para a “inelegibilidade perpétua” de Cristina e “12 anos de prisão”, a um ano das próximas eleições, em um controverso caso de corrupção, em que a alegação é de que pelos cargos que ocupou “ela não teria como não saber”, vinha gerando um clima de confrontação e intolerância na Argentina.
Clima muito conveniente ao macrismo, que busca fugir de suas responsabilidades pela crise que atinge o país, após ter, quando no governo, endividado e quebrado o país e o submetido ao FMI e aos fundos abutres norte-americanos.