A polícia hondurenha reprimiu com bombas de gás lacrimogêneo e munição real nesta segunda-feira (26) a uma multidão que marchava em Tegucigalpa para recordar o primeiro ano da fraude eleitoral que reelegeu o presidente Juan Orlando Hernández (JOH).
Portando uma gigantesca bandeira com as cores azul e branca da pátria, faixas e cartazes “Contra a ditadura” e entoando “Fora JOH!”, a caminhada saiu da Universidade Pedagógica até o palácio presidencial, sendo bloqueada e dispersada com nuvens de gás e jorros de água de um caminhão tanque.
Um jornalista do canal Unetv, Geonavi Serra, foi alvejado com um tiro no braço e várias pessoas ficaram lesionadas e intoxicadas. Conforme denunciou o militante Miguel Briceño, do Partido Liberdade e Refundação (Libre), do ex-presidente Manuel Zelaya, de oposição, “a polícia disparou balas vivas contra as pessoas” e o resultado poderia ter sido bem mais grave. Reagindo à agressão covarde, ativistas devolveram as bombas lançadas e também jogaram pedras, impedindo que a polícia avançasse.
“Chegou o momento em que a população hondurenha deve assumir seu papel diante de um Estado narco e corrupto”, enfatizou Zelaya, lembrando que Juan Antonio Hernández (Tony), irmão menor de Juan Orlando, foi capturado em Miami na sexta-feira pela DEA (órgão da Polícia Federal dos EUA de combate ao narcotráfico) e levado a uma corte em Nova Iorque, acusado de ser um “narcotraficante em grande escala”.
NARCOTRAFICANTE
Conforme a DEA, Juan Orlando “intencionalmente falsificou, ocultou e encobriu com armações um esquema e um dispositivo, um fato material, e realizou declarações e representações materialmente falsas, fictícias e fraudulentas”. Além disso, o irmão menor do “presidente” mentiu ao dizer que “nunca aceitou dinheiro de narcotraficantes para nenhum propósito e que nunca auxiliou a narcotraficantes”.
O líder do temido cartel dos Cachiros, Devis Leonel Maradiaga, testemunhou que pagou a Tony para “lavar dinheiro” para o tráfico. Além disso, o irmão menor de JOH é denunciado por “importar cocaína, posse de armas e dispositivos destrutivos, conspiração e falso testemunho”. A fim de garantir a livre circulação de seu patrimônio, esclarece o documento da DEA, Juan Antonio Hernández colocava as iniciais (JAH) nos paquetes da droga que transportava pelo território hondurenho.
Após a fraude de 26 de novembro de 2017, a população saiu e ocupou as ruas e rodovias do país durante mais de um mês para exigir a posse do candidato oposicionista Salvador Nasralla, apoiado pelo Libre. Na ocasião, pelo menos 33 pessoas morreram durante a repressão aos protestos, de acordo com os organismos internacionais.
“Na contagem da noite de 26 para 27 de novembro se produziu o primeiro anúncio dos resultados e depois se relataram alguns problemas de comunicação ou de retransmissão de dados. Quando voltaram a aparecer as informações com os resultados, mudou completamente a tendência inicial que havia sido comunicada. Na madrugada a tendência era de uma vitória significativa de Nasralla”, confirmou Adeline Neau, pesquisadora da Anistia Internacional.
Neste momento uma marcha com a participação de milhares de hondurenhos se dirige até os Estados Unidos, buscando uma alternativa de sobrevivência.
Para Karen Valladares, diretora do Fórum Nacional de Migrações de Honduras (Fonamih), a insegurança, a violência e o deslocamento interno são uma “realidade palpável”. “A pobreza que se alimenta na desigualdade e na falta de emprego”, avalia, faz da marcha não uma “opção” mas uma “expulsão”.
LEONARDO SEVERO