A Secretaria de Saúde do Estado do Pará (Sespa) confirmou, na última terça-feira (18), que a água dos poços de diversas comunidades de Barcarena está imprópria para consumo humano. O resultado parcial das análises aponta contaminação após o despejo irregular de substâncias tóxicas pela mineradora norueguesa Hydro Alunorte, ratificando os laudos apresentados pelo Instituto Evandro Chagas (IEC).
“Nosso esforço inicial foi alertar a comunidade para que não consumisse água dos poços, pela suspeita de contaminação levantada pelo Instituto Evandro Chagas (IEC). Fizemos novas coletas em poços residenciais em algumas comunidades e mantivemos o monitoramento, além do permanente alerta para que a população não consumisse água destes pontos. Os resultados preliminares demonstram que de fato a água está imprópria para consumo humano”, explicou o secretário de Saúde do Estado, Vítor Mateus, para completar.
A Sespa recomendou que a Hydro, responsável pela distribuição de água para o consumo nas áreas afetadas, intensifique a ação junto às comunidades de Barcarena. A secretaria informou ainda, que apresentará, em alguns dias, um relatório às instituições que acompanham o caso.
Desde fevereiro, foram realizadas ações de coletas de amostras de água em 10 comunidades: Burajuba, Murucupi, Itupanema, Bom Futuro, Vila Nova, Jardim Paraiso, Caripi, Renascer com Cristo, Praia do Conde e Vila dos Cabanos. Foram identificados padrões anormais de alumínio nas comunidades de Itupanema, Vila Nova e Jardim Cabano. A Sespa informou ainda que está monitorando, por meio de exames, a presença de metais pesados em cabelo e sangue de mulheres das comunidades.
Em coletiva no dia 9 de abril, a Hydro Alunorte voltou a afirmar que não houve vazamento de efluentes e contaminação nos rios Pará e Murucupi, após os flagrantes da lama vermelha que chegou às margens em 17 de fevereiro.
DISTRIBUIÇÃO
Lideranças de Barcarena denunciaram, na Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Pará, que suas comunidades não foram incluídas na rede de distribuição de água da Hydro. Segundo a Defesa Civil, presente na reunião, apenas as comunidades apontadas no relatório do IEC como atingidas diretamente pela contaminação (Burajuba, Vila Nova e Bom Futuro) estão sendo atendidas pela mineradora.
A reunião da Comissão ocorreu na última segunda-feira (16), e reuniu representantes de associações comunitárias, quilombolas e sindicais, para discutir as ações de assistência emergencial para os atingidos. Também estiveram presentes representantes da gestão municipal de Barcarena e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Além disso, os moradores das comunidades que estão sendo atendidas pela Hydro, afirmam que não há água para todos. Ângela, líder da comunidade Vila Nova, relatou que o fornecimento de água é feito apenas uma vez por semana e que só algumas casas são “escolhidas”. “Muita gente continua usando a água dos poços, que sabemos que está contaminada. Algumas casas estão a apenas 250 metros da bacia de rejeitos da Hydro e descobrimos tubos clandestinos. Tem criança com febre alta e dor de barriga. A nossa situação é precária”, relatou.
Para Ludmila de Oliveira, da Associação Cainquiama, é urgente garantir fornecimento de água potável para todo o município de Barcarena. “Já sabemos que está tudo contaminado. Precisamos forçar a empresa a ampliar essa cobertura emergencial”, afirmou.