Os números da Pnad Contínua divulgados na terça-feira (31/07) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) resumem bem o tamanho do crime cometido com a adoção da política neoliberal na administração petista, exacerbada pelo vice Michel Temer, que assumiu a seguir. De abril a junho, o contingente de pessoas fora da força de trabalho, pessoas que não trabalham ou desistiram de procurar emprego, atingiu o nível recorde, e absurdo, de 65,6 milhões de brasileiros, isto é, cerca de 62% das pessoas com idade para trabalhar.
As pessoas fora da força de trabalho são as que têm idade para trabalhar, mas, por alguma razão, não procuram emprego. Conforme o IBGE, esse é o nível mais alto desde 2012, início da série histórica. Atualmente, a força de trabalho (pessoas ocupadas e desocupadas) é de 104,2 milhões.
Pelos dados do instituto, aumentou em 774 mil pessoas (1,2%) o número de pessoas fora da força de trabalho no trimestre de abril a junho frente ao trimestre de janeiro a março e houve alta de 1,2 milhão de pessoas (1,9%) na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Com a diminuição de procura por vaga, a taxa de desemprego (“taxa de desocupação”) registrada pelo IBGE no trimestre abril/junho ficou em 12,4%, uma ligeira queda em relação ao trimestre janeiro/março (13,1%). Mesmo assim, ainda na casa dos 13 milhões de desempregados, conforme a Pnad Contínua.
É bom registrar que essa pequena variação na taxa de desemprego se deveu pelo insano número de pessoas fora do mercado de trabalho e pelo emprego informal, precário, isto é, bicos em geral.
“A taxa de desemprego está menor, mas isso embute dois problemas: a subutilização ou a precariedade por conta da informalidade do trabalho. E na informalidade estão o comércio ambulante, o transporte por aplicativo, até mesmo na indústria, de confecção, por exemplo, e na construção civil, com pequenas obras. Isso significa que são muitas pessoas sem proteção social, sem contribuir para a Previdência”, afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
No segundo trimestre, o número de emprego informal (sem carteira de trabalho assinada) cresceu 2,6% (+276 mil pessoas) e 3,5% em 12 meses (+367 mil pessoas).
Já o número de trabalhadores com carteira assinada recuou -0,2% em três meses e diminuiu -1,5% em um ano (-497 mil pessoas), para 32,8 milhões de pessoas.
Segundo o IBGE, 40,6% dos ocupados, cerca de 37 milhões, são trabalhadores informais ou estão próximos da informalidade – empregados sem carteira, domésticos sem carteira, conta própria sem CNPJ, empregador sem CNPJ e empregos domésticos auxiliar.
O rendimento médio foi estimado em R$ 2.198 no trimestre de abril/junho, quase que o mesmo arrocho registrado no trimestre anterior (R$ 2.192). De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em junho, o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 3.804,06.
Os números do IBGE sobre o emprego – ou melhor, sobre o desemprego, subemprego e desalento – são a demonstração cabal que para o país sair do atoleiro em que se encontra é preciso mudar a política econômica de juros estratosféricos, corte de investimentos públicos e desnacionalização.
Não é à toa que as estimativas mais otimistas para a economia brasileira são de crescimento de no máximo 1,5% para este ano.
VALDO ALBUQUERQUE