Já são 27 milhões e 600 mil no desespero
Crise é tão grave que 4,8 milhões desistiram de procurar emprego
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou na semana passada os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), mostrando que, no segundo trimestre, faltava trabalho no país para 27,6 milhões de pessoas.
Enquanto o governo insiste que a recessão é coisa superada e alguns candidatos no atual pleito eleitoral atribuem a seus feitos uma suposta “recuperação” econômica, o assustador número de pessoas na fila pelo emprego cresceu 1,3 milhão no segundo trimestre de 2018 na comparação com o mesmo período do ano passado.
A pesquisa considera a população que se enquadra na chamada “taxa de subutilização do trabalho”, ou seja, pessoas sem emprego e que procuraram trabalho nos últimos 30 dias; que trabalham por conta própria e gostariam de ter um emprego formal; que são subempregadas; ou que desistiram de procurar emprego (desalentados).
A parcela da população que faz parte da força de trabalho potencial nessa situação já é de 24,7% – no mesmo segundo trimestre de 2017, a taxa estava em 23,8%.
A pesquisa observou que 3,16 milhões de brasileiros procuram emprego há mais de 2 anos – o maior número da série histórica da pesquisa iniciada em 2012. Esse número corresponde a cerca de 24% do total de desempregados, que no trimestre encerrado em junho ficou em 13 milhões. Desde o começo da crise, em 2014, esse contingente cresceu 162%.
NÚMERO DE DESALENTADOS CRESCE
A PNAD Contínua revelou também um recorde no crescimento do número de desalentados no segundo trimestre do ano. Já são 4,8 milhões de pessoas nessa condição – 203 mil a mais em relação ao primeiro trimestre.
A população desalentada é aquela que, por diversos motivos, desistiu de procurar emprego. De acordo com os critérios da pesquisa do IBGE, o desalentado está fora da força de trabalho porque não tem experiência ou qualificação ou é considerado jovem ou idoso demais ou ainda porque não há trabalho próximo ao local que reside. Todos os enquadrados nesses critérios assumiriam uma vaga, apesar de já terem perdido a esperança de procurar.
“Muitas dessas pessoas desalentadas sequer têm dinheiro para pagar passagem e procurar emprego”, avalia o gerente da pesquisa do IBGE Cimar Azeredo.
Segundo Azeredo, o tempo de espera pela recolocação no mercado de trabalho tem relação direta com o desalento. “A probabilidade de uma pessoa desistir de procurar emprego está muito relacionada ao tempo em que ela está na fila do desemprego”, disse.
Em relação à população fora da força de trabalho, a taxa de desalentados no segundo trimestre ficou em 4,4% – a maior da série histórica. Alagoas e Maranhão registraram as maiores, com desalento em 16,6% e 16,2%, respectivamente. O maior índice geral de desalento foi verificado entre mulheres nordestinas.
CARTEIRA ASSINADA RECUA
A medida que o desemprego cresce, é natural que as pessoas procurem meios alternativos de subsistência. Isso se expressa no aumento do número de camelôs nas ruas e de pessoas que passam a viver de biscates e bicos, que na pesquisa do IBGE está refletido no aumento de 9,6% na categoria de “trabalhador por conta própria” de um ano para o outro. Ao contrário do que tenta passar a mídia a esse respeito – de que trata-se do crescimento do “empreendedorismo”, “próprio negócio” – a situação refere-se a pessoas que vão buscar na rua o seu sustento, por não conseguir um trabalho.
Enquanto esse tipo de “emprego” precário cresce, cai o trabalho com carteira assinada – aquele que estabelece piso salarial, direito a férias, licença maternidade, e etc. Foram menos 497 mil vagas (-1,5%) com carteira assinada no período de um ano. Hoje o total de trabalhadores é 32,8 milhões.
Essa tendência pode ser explicada pela queda da formalidade no trabalho doméstico: no trimestre encerrado em junho do ano passado, 30,6% tinham carteira assinada. Neste ano, esse percentual caiu para 29,4%.
PRISCILA CASALE