“Não fazer o Censo é fatal. Não dá para adiar, pois tem consequências para a população, é essencial para as pessoas que estão na pobreza, passando fome, até na questão da pandemia, porque a distribuição dos recursos aos municípios, a sua destinação, é feita com as informações do Censo”, diz o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves
Após o corte de 96% dos recursos destinados ao Censo Demográfico, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) suspendeu o concurso para a contratação de funcionários temporários para o Censo de 2021.
O IBGE deveria receber R$ 2 bilhões para a realização do Censo, mas com o corte, aprovado na votação do orçamento da União para 2021, vai receber cerca de R$ 70 milhões, o que, segundo o Instituto, inviabiliza a realização do Censo.
Seriam 204 mil contratações, sendo 181.898 mil vagas para recenseador e 22.409 para agente censitário municipal e supervisor.
A presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, pediu demissão logo após o anúncio do corte de recursos, no final de março.
Para o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, a realização do Censo em 2021, além de ser obrigatório, é essencial, em especial nesse momento da pandemia, para termos a exata noção da realidade. Como exemplo ele cita a estimativa que vem sendo feita por especialistas e pesquisadores de que esse ano, “pela primeira vez na história do país, o número de mortes vai superar o número de nascimentos”.
“Não fazer o Censo é fatal. Não dá para adiar, pois tem consequências para a população, é essencial para as pessoas que estão na pobreza, passando fome, até na questão da pandemia, porque a distribuição dos recursos aos municípios, a sua destinação, é feita com as informações do Censo”, diz.
Segundo ele, “não se combate a pobreza, a desigualdade, o desemprego, sem o Censo, que reflete a realidade atualizada e não de dez anos atrás”.
“O adiamento no ano passado foi compreensível, pois ainda não sabíamos das dimensões do vírus, não sabíamos como lidar, não havia vacina, mas esse ano o Brasil precisa dessa informação e precisa nesse momento”, afirmou em live ao Valor Econômico.
A opinião de José Eustáquio é corroborada pelo ex-presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes, que afirmou em entrevista ao Jornal Nacional que o Censo é essencial para a definição das políticas públicas do país.
“A educação vai penar, a habitação, o saneamento, as condições de transporte, que são pesquisadas no censo, de locomoção da população. Em suma, as condições de vida de uma população em um nível mais detalhado, que é o município brasileiro, nós só temos no censo a cada 10 anos. Não podemos ficar sem censo, porque sem censo, um país não se conhece, e um governo não planeja o futuro”, disse.
O Censo Demográfico acontece desde 1940 e, conforme previsto em lei, deve acontecer a cada dez anos. O levantamento que deveria ter acontecido no ano passado foi cancelado por causa da pandemia e transferido para esse ano.
“O IBGE vem trabalhando desde o ano passado no planejamento do censo. A nossa expectativa ainda é conseguir realizar, mas aguardamos a negociação entre o Ministério da Economia e o governo para saber se isso será viável do ponto de vista orçamentário”, afirmou o coordenador de Recursos Humanos do IBGE, Bruno Malheiros.
Em nota, o IBGE afirma que ainda avaliará com o organizador do concurso um novo planejamento para aplicação das provas, “a depender de um posicionamento do Ministério da Economia acerca do orçamento do Censo Demográfico”.
As contratações para agentes censitários deveriam acontecer no dia 31 de maio e para recenseadores, em julho.