Os dois começaram com cerca de 50% de aprovação e, ao final de um ano, caíram para 29%
Uma compilação de séries históricas de pesquisas do Ibope ao final de um ano de governo, organizada pelo jornal Estado de S. Paulo, mostra uma evolução muito semelhante entre o desempenho, nos primeiros 365 dias de governo, de Jair Bolsonaro e de Fernando Collor de Mello.
No gráfico abaixo, o que se pode ver é que neste mesmo período de governo – a última pesquisa foi feita no 12º mês de governo -, Bolsonaro tem 29% de aprovação, praticamente o mesmo índice de Collor.
O gráfico revela também que a trajetória dos dois tem quase o mesmo traçado. Os dois começam suas administrações com cerca de 50% de aprovação. Ambos apresentam queda acentuada já no primeiro quarto do ano.
Collor caiu 12 pontos percentuais no quarto mês de governo e a queda de Jair Bolsonaro foi de 14 pontos percentuais. O apoio a Bolsonaro derreteu na mesma velocidade da queda de Collor.
Comparação entre Bolsonaro (verde) e Collor de Mello (preto)
O estilo agressivo, com frases de efeito, marca registrada de Fernando Collor, foi aprofundando o seu isolamento político.
Um escândalo de corrupção envolvendo seu círculo mais íntimo, de frequentadores da famosa “Casa da Dinda”, onde Collor residia, levou à abertura de processo de impeachment contra ele pelo Congresso Nacional.
A evolução do governo de Fernando Collor caminhou ininterruptamente para baixo até que, ao final de 1992, isolado e repudiado por quase toda a população, ele foi impedido.
No lugar de Collor de Mello assumiu o vice, Itamar Franco, que, lentamente foi recuperando o apoio da população e terminou o governo com cerca de 50% de aprovação.
Itamar representou uma importante barreira à onda neoliberal surgida à época e que ameaçava varrer as conquistas sociais e econômicas obtidas com a Constituinte Cidadã de 1988.
Os ataques à Constituição foram retomados quando o neoliberalismo, obrigado a abrir mão da truculência collorida, passou a adotar “argumentos” que acabaram envolvendo de uma forma ou de outra os governos sociais democratas que o sucederam.
Neste primeiro ano de governo, Bolsonaro priorizou um discurso dirigido à sua base extremada e fanatizada e entrou em atrito com praticamente toda a sociedade. Este comportamento, em muitos aspectos semelhante ao de Collor, está provocando um enorme isolamento político do atual governo.
Não é à toa que o próprio Collor de Mello, hoje senador, chegou a dizer recentemente que “já tinha visto esse filme”, ao comentar a situação do governo. “É um filme que eu já vi, embora haja diferenças entre o início do governo Bolsonaro e o início do meu governo, parece que está passando novamente na minha frente”, observou o senador.
Neste primeiro ano, Bolsonaro atacou a Educação com cortes de verbas e ameaças a estudantes, professores e pesquisadores. Estes não se intimidaram e foram para as ruas aos milhões em protestos gigantescos.
O governo demitiu o presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o renomado cientista Ricardo Galvão, acusando-o de estar mentindo ao divulgar dados sobre o aumento do desmatamento da Amazônia.
Os fatos confirmaram os alertas de Galvão e ele foi homenageado internacionalmente.
Bolsonaro perseguiu funcionários responsáveis pela fiscalização do Ibama e humilhou militares de alta patente que discordaram de suas condutas, entre eles o general Santos Cruz, um dos generais mais respeitados do Exército. O general Juarez Aparecido de Paula Cunha também foi demitido dos Correios por discordar de sua privatização.
O governo perseguiu artistas, atacou a Cultura, nomeou lunáticos para o setor e desenterrou a censura no país. O discurso de ódio apregoado pelo bolsonarismo estimulou grupos de fanáticos e bandos de milicianos que passaram a agir e realizar atentados racistas e sectários pelo Brasil afora.
O presidente perdeu credibilidade também ao acobertar os crimes de seu filho, o atual senador Flávio Bolsonaro, acusado de lavagem de dinheiro e organização criminosa quando era deputado estadual no Rio.
Bolsonaro chegou a intervir na Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro com o intuito de paralisar as investigações.
Ele também, praticamente, acabou com o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeira), órgão que denunciou as movimentações financeiras suspeitas na conta de Fabrício Queiroz, um ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O governo atacou violentamente toda a imprensa brasileira, particularmente a Rede Globo, pela cobertura que esta vem fazendo das investigações de corrupção que atingem a família Bolsonaro.
Tudo isso está provocando a mesma queda acentuada de apoio ao governo, que ocorreu também ante os destemperos de Collor de Mello em 1992. Essas semelhanças ficaram bem demonstradas no gráfico acima.