
Na noite desta sexta-feira (5), morreu, aos 92 anos, Mário Jorge Lobo Zagallo, um dos maiores nomes da história do futebol mundial, que deteve o recorde de títulos das Copas do Mundo FIFA. O anúncio foi feito no perfil de uma rede social do tetracampeão.
Com idade avançada, Zagallo vinha com a saúde fragilizada há alguns anos. Em setembro de 2023, ficou cerca de 20 dias no hospital com infecção urinária. No dia 26 de dezembro, foi novamente internado no Hospital Barra D’Or e morreu vítima de falência múltipla dos órgãos, resultante de progressão de comorbidades previamente existentes.
Ainda em suas redes sociais, já na madrugada deste sábado (6), os familiares do jogador publicaram uma fotografia icônica em preto e branco de Zagallo, em que o jogador surge de terno e gravata segurando duas Taças do Mundo. A imagem foi compartilhada para acompanhar a nota de pesar.
“É com enorme pesar que informamos o falecimento de nosso eterno tetracampeão mundial Mario Jorge Lobo Zagallo. Um pai devotado, avô amoroso, sogro carinhoso, amigo fiel, profissional vitorioso e um grande ser humano. Ídolo gigante. Um patriota que nos deixa um legado de grandes conquistas”, diz o comunicado.
“Agradecemos a Deus pelo tempo que pudemos conviver com você e pedimos ao Pai que encontremos conforto nas boas lembranças e no grande exemplo que você nos deixa”, seguiram os familiares.
Mario Jorge Lobo Zagallo, mundialmente conhecido por seu sobrenome, esteve presente em quatro dos cinco títulos mundiais da Seleção Brasileira. Levantou a taça como jogador em 1958 e 1962, como técnico em 1970, e em 1994 como coordenador técnico, totalizando quatro prêmios máximos na carreira.
Ele ainda esteve no comando da Seleção em 1974 (quarto lugar) e 1998 (vice-campeão), além de ter sido novamente coordenador em 2006. A vitoriosa carreira rendeu a Zagallo a mais alta honraria da Fifa: o prêmio de Ordem de Mérito da entidade, concedido em 1992. O brasileiro, aliás, tornou-se o primeiro esportista da história a receber a condecoração.
TRAJETÓRIA
Mário Jorge nasceu em 9 de agosto de 1931 e, com menos de um ano, passou a morar no Rio de Janeiro. Foi no bairro da Tijuca que ele deu seus primeiros passos no América. O tradicional clube da zona norte recebeu o jovem canhoto, que demonstrou habilidade na peneira e passou, mesmo com a inicial desaprovação do pai, a integrar as equipes de base já adolescente.
Em meio ao futebol, Zagallo passou a atuar como soldado da Polícia do Exército e, aos 19 anos, participou de sua primeira Copa do Mundo, mesmo que indiretamente. O então soldado estava no Maracanã no fatídico 16 de julho de 1950, quando Ghiggia calou um Maracanã abarrotado e tirou o mundial do Brasil, no episódio que é conhecido por “Maracanaço”.
“Os lencinhos brancos que a torcida acenou para receber a seleção na saída do vestiário para o jogo serviram para enxugar as lágrimas depois da derrota. Mas eu não chorei, mantive a postura de um soldado”, disse Zagallo, em 2014.
Em 1950 deixou o América rumo ao Flamengo, como ponta-esquerda, que ficou conhecido como “Formiguinha” no elenco, o clube faturou o tricampeonato carioca (53, 54 e 55). Ficou no rubro-negro até 1958, assinou com o Botafogo e ganhou uma série de outros títulos, encerrando sua trajetória vencedora como atleta entre 1965 e 1966.
Zagallo estava no bicampeonato mundial, onde o ponta fez parte das seleções que conquistaram o mundo tanto em 1958 quanto em 1962 e fez, ao lado de Pelé, história.
Aos 34 anos, o jogador do Botafogo virou treinador do Botafogo. Ele iniciou sua triunfal carreira no clube carioca e acumulou dezenas de trabalhos. Além de comandar os quatro times do Rio, Zagallo se aventurou no Kuwait, na Arábia Saudita e nos Emirados Árabes entre o fim dos anos 70 e início dos anos 90.
Foi na seleção, no entanto, a maior identificação. Apaixonado pela amarelinha, o alagoano-carioca comandou o histórico esquadrão da Copa de 1970 e tornou-se o técnico que mais vezes dirigiu o Brasil. O amor pela camisa brasileira rendeu mais um título: em 1994, atuou como coordenador técnico do elenco que tornou-se tetracampeão mundial.
Zagallo sempre foi um personagem autêntico e supersticioso. Desde a época de jogador, ele adotou o número 13 como número da sorte. A obsessão tem a ver com Alcina, que fisgou o coração do ainda atleta nos anos 50. Devota de Santo Antônio, ela se casou com o Velho Lobo no dia 13 de janeiro de 1955. Sua esposa faleceu em 2012.
O 13 serviu para marcar vários momentos de Zagallo. O nome “Roberto Baggio”, italiano que chutou para fora e garantiu o tetra, tem 13 letras, assim como “Brasil campeão” e “Argentina vice”, como ele mesmo brincou nos anos 2000.
As frases do multicampeão também ganharam o mundo. A mais famosa delas certamente é a célebre “Vocês vão ter que me engolir”, proferida aos gritos após a conquista brasileira da Copa América de 1997. O momento de êxtase foi, na verdade, um desabafo por toda pressão que vinha sofrendo no cargo de treinador.
Zagallo deixa quatro filhos, além de netos, bisnetos e uma legião de brasileiros que se tornaram fãs do esporte que tem o alagoano-carioca como um dos gigantes de sua história.
A estátua de Zagallo, no entanto, será eterna: ele ganhou, nos últimos anos, homenagens tanto do Botafogo quanto da CBF e já faz parte da galeria dos imortais do futebol.
Veja as homenagens nas redes: