As indústrias de alta e média-alta intensidade tecnológica foram muito prejudicadas pela queda nos investimentos públicos de longo prazo e “pelos elevados patamares de taxas de juros ainda praticados no país”, aponta a entidade
O ano de 2023 para a indústria brasileira apresentou mais um quadro desfavorável em suas operações, com uma piora no desempenho de complexos industriais de alta intensidade tecnológica, como eletrônicos e de saúde, por exemplo, segundo um levantamento feito pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
“A indústria brasileira tem apresentado um quadro de estagnação em 2023, mas excluídas as atividades extrativas, o desempenho recente é ainda mais desfavorável, acumulando perdas sucessivas”, disse o Iedi, em seu artigo “Deterioração na indústria de maior intensidade tecnológica”, publicado nesta semana.
“O valor adicionado da indústria de transformação, como mostraram os últimos dados do PIB, recuou -1,5% no 3º trimestre de 2023 e -1,6% entre janeiro e setembro deste ano. Já a produção física do setor encolheu, respectivamente, -1,1% e -1,2%, sempre em comparação com o ano anterior”, constatou o instituto.
O Iedi avaliou o desempenho da intensidade tecnológica de ramos industriais, com base na metodologia difundida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), utilizando dados da produção física nacional divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Em resumo, quanto maior a intensidade tecnológica, pior o resultado no 3º trimestre de 2023. A única expansão registrada foi no grupo de média-baixa tecnologia e isso tanto neste trimestre como no acumulado de jan-set/23. Já as faixas de alta e média-alta tecnologia apresentam uma trajetória de nítida deterioração ao longo do ano”, observou.
De acordo com o Instituto, a indústria de transformação possui ramos em quatro grupos por intensidade tecnológica: alta, média-alta, média e média-baixa intensidade. “Segundo a OCDE, nenhum dos ramos da indústria de transformação faz parte do segmento de baixa intensidade tecnológica”, disse a entidade.
A de alta tecnologia foi a categoria que mais regrediu neste ano. “Começou o ano crescendo +7,7% no 1º trimestre de 2023, o que foi revertido em declínio de -5,2% no 3º trimestre de 2023. Assim, se apresenta virtual estabilidade no acumulado jan-set/23 (+0,3% ante jan-set/22) é devido apenas ao primeiro trimestre do ano”, constatou o Iedi, que prosseguiu:
“Todos os ramos que compõem a alta tecnologia pioraram muito, mas aqueles associados à área de saúde merecem destaque por terem invertido o sinal de seu resultado. O ramo farmacêutico e farmoquímico saiu de +19,3% em jan-mar/23 para -0,6% em jul-set/23 e o de instrumentos médicos, ópticos e de precisão, de +8,8% para -5,6%, respectivamente. Já o complexo eletrônico agravou seu recuo de -4,1% para -13,3% no mesmo período”.
A indústria de média-alta apresentou uma retração mais acentuada no 3º trimestre deste ano, queda de -8,1% frente ao mesmo período do ano de 2022.
“Esta faixa não cresceu em nenhum dos três primeiros trimestres do ano. Muito disso deveu-se ao ramo automobilístico, que saiu de -1,4% no 1º trimestre de 2023 para -12,1% no 3º trimestre deste ano, a despeito de ações governamentais anticíclicas, que determinaram a redução de impostos sobre veículos”, também observou o Instituto.
“Outros ramos da média-alta”, apontou Iedi, “também regrediram muito, notadamente, aqueles associados ao investimento, que como vimos nos dados do PIB, seguiu se retraindo no 3º trimestre de 2023. São os casos de máquinas e equipamentos (-9,3% ante o 3º trim/22) e máquinas e aparelhos elétricos (-10,0%)”.
As indústrias de alta e média-alta tecnologia reúnem setores com cadeia produtivas mais longas, com inovação dinâmica, precisam de investimentos de financiamentos de longo prazo, com juros civilizados. De acordo com o Iedi, nos últimos anos, esses ramos foram “muito prejudicadas pelo contingenciamento de recursos pelos governos brasileiros, e seus mercados demandam confiança e condições adequadas de financiamento, dificultadas pelos elevados patamares de taxas de juros ainda praticados no país”.
Em nota, divulgada nesta sexta-feira (22), o Iedi afirma que “sem uma retomada firme do crescimento industrial, torna-se difícil dar robustez ao processo de modernização do setor em direção à digitalização e à sustentabilidade, caminhos perseguidos pelos principais países do mundo, por meio de suas estratégias industriais, e que serão cada vez mais parâmetros de competitividade no futuro”.
“No centro do marasmo que marca 2023 estão as atividades mais negativamente impactadas pelo elevado nível de taxas de juros que ainda persiste no país”, afirma o Iedi, defendendo que, além da continuidade, “a aceleração da fase atual de baixa da taxa Selic pelo Banco Central é tão importante”.
No terceiro trimestre deste ano, juntas, as indústrias de alta e média-alta tecnologia registraram recuo de -7,6%.
MÉDIA INTENSIDADE NO VERMELHO
Por sua vez, “a faixa de média intensidade tecnológica se manteve no vermelho, mas ao menos evitou a deterioração registrada pelos grupos de maior intensidade”, constatou a entidade. “Sua produção caiu -2,6% no 3º trimestre de 2023, isto é, em ritmo muito próximo ao do acumulado em jan-set/23: -2,2% frente ao mesmo período do ano anterior”.
Dentro desse grupo, porém, houve piora no ramo de borracha e plástico, que saiu da alta de 3,7% em jan-mar/23 para queda de -1,4% em jul-set/23, “compensada por alguma amenização da queda na metalurgia (-3,8% e -2,3%, respectivamente) e em minerais não metálicos (-9,4% e -5,6%)”.
Já a indústria de média-baixa tecnologia neste ano apresentou um crescimento, passando de +0,2% no 1º trimestre para +3,0% no 3º trimestre deste ano, devido a alimentos, bebidas e fumo (+1,3% e +4,8%, respectivamente) e coque, derivados de petróleo e biocombustíveis (+2,7% e +6,2%). No ano, esta faixa apresenta uma alta de 1,6% ante ao acumulado de janeiro a setembro de 2022.