Estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), com base nos dados do IBGE, aponta que, sem indústria e investimento, a expansão do PIB total tende a ser fraca e ter pouca durabilidade
O IEDI constatou, através de estudo baseado nos dados mais recentes sobre o desempenho da indústria brasileira divulgados pelo IBGE, que o setor acumula uma década perdida.
O Instituto aponta, ainda, que, em 2023, os níveis elevados de taxas de juros obstruíram mais uma vez a alavanca industrial do crescimento. O PIB da indústria de transformação encolheu -1,3% no acumulado do ano, sob influência da retração do investimento, acrescenta o documento, demonstrando o retrocesso que atinge o setor mais dinâmico da indústria.
“Sem indústria e sem investimento, a expansão do PIB total tende a ser fraca e a durar pouco”, diz o estudo.
“Esta assimetria foi a regra na última década, marcada pela crise de 2015-2016 e pela pandemia de Covid-19, agravando uma trajetória adversa de mais longo prazo que resultou na desindustrialização do país”, acrescenta o estudo ainda.
Conheça na íntegra o estudo do IEDI
Os dados divulgados hoje pelo IBGE mostram que a indústria brasileira segue sem crescer neste início de ano. Embora bem menos intensa do que no mês anterior, houve nova queda da produção na passagem de jan/24 a fev/24: -0,3%, já descontados os efeitos sazonais.
Muito disso, contudo, tem se restringido ao desempenho do ramo extrativo, que depois de um ano majoritariamente positivo em 2023 vem devolvendo parte do que ganhou, em uma trajetória de acomodação. A indústria de transformação, por sua vez, não se expandiu, mas também não está encolhendo, como ocorreu na entrada do ano passado.
Ainda na comparação com ajuste sazonal, a produção do agregado da indústria de transformação registrou 0% tanto em jan/24 como em fev/24, enquanto o ramo extrativo caiu -6,9% e -0,9%, respectivamente, o que influenciou o desempenho do macrossetor de bens intermediários por este congregar algumas atividades extrativas.
Entre os macrossetores industriais, como mostram as variações com ajuste sazonal a seguir, apenas bens intermediários recuaram tanto em jan/24 como em fev/24. Bens de consumo semi e não duráveis voltaram a se expandir, anulando a queda anterior, e bens de capital e de consumo duráveis parecem ter deixado para trás a sequência de meses adversos do 2º sem/23.
• Indústria geral: +1,5% em dez/23; -1,5% em jan/24 e -0,3% em fev/24;
• Bens de capital: -0,4%; +9,3% e +1,8%, respectivamente;
• Bens intermediários: +1,8%; -2,7% e -1,2%;
• Bens de consumo duráveis: +6,6%; +1,5% e +3,6%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -0,2%; -0,4% e +0,4%, respectivamente.
Outra observação importante a respeito da evolução mais de curto prazo, indicada pelos resultados com ajuste sazonal, é que, embora 12 dos 25 ramos industriais identificados pelo IBGE não tenham conseguido aumentar produção em fev/24 (ante 7 ramos em jan/24), a maioria deles (58%) ficou virtualmente estagnada, com variações entre 0% e -0,3%.
Na comparação com a situação de um ano atrás, os sinais negativos se dispersam, cabendo a ressalva de que existe um efeito calendário favorável, já que fev/24 possui um dia útil a mais do que fev/23.
A indústria geral registrou +5,0% em fev/24, consistindo na alta interanual mais forte desde jun/21 (+12,1%), quando bases de comparação deprimidas pelo choque da Covid-19 em 2020 ajudavam na obtenção de variações positivas expressivas.
Além disso, todos os macrossetores também ampliaram produção em fev/24 ante fev/23, com destaque para bens de consumo duráveis (+9,3%), puxados por equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos (+18,1%), mas também pela indústria automobilística (+9,8%).
Os demais macrossetores cresceram em ritmo bastante parecido: +5,3% em bens de capital, +5,1% em bens intermediários e +4,8% em bens de consumo semi e não duráveis, sempre em comparação com fev/23.
Deste modo, a entrada de 2024 se mostra bem diferente do início de 2023. No primeiro bimestre do presente ano, a produção industrial avança +4,3%, mas recuava -1,1% no mesmo período do ano passado, e agora, todos os seus macrossetores estão no positivo.
Bens de capital é quem apresenta a maior mudança de quadro: -9,4% no 1º bim/23 e +3,6% no 1º bim/24. Neste caso a base de comparação é baixa, já que sua produção caiu sistematicamente ao longo de 2023. Outro a também inverter sinal foi o macrossetor de bens intermediários, de -2,4% para +4,8%, respectivamente.
Quanto aos bens de consumo, já estavam no azul em jan-fev/23 e assim permaneceram em jan-fev/24. Para os semi e não duráveis houve inclusive reforço no desempenho: de +2,7% para +4,1%, respectivamente.
Os bens de consumo duráveis, por sua vez, cresceram +7,6% no 1º bim/23 e +5,2% no 1º bim/24, mantendo-se na liderança entre os macrossetores, devido principalmente à produção de eletrodomésticos.
Segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal do mês de fevereiro de 2024 divulgados hoje pelo IBGE, a produção da indústria nacional registrou recuo de 0,3% frente ao mês de janeiro de 2023 na série com ajuste sazonal. No acumulado em doze meses registrou-se incremento de 1,0% e no acumulado no ano houve expansão de 4,3%. Em comparação com mesmo mês do ano passado (fevereiro/2023), aferiu-se a variação positiva de 5,0%.
Categorias de uso. Na comparação com o mês anterior (janeiro/2024), segundo dados com ajuste sazonal, três dos cinco segmento analisados apresentaram crescimento: bens duráveis (3,6%), bens de capital (1,8%) e bens de consumo (1,3%). As duas categorias restantes apresentaram retração no período: bens intermediários (-1,2%) e bens semiduráveis e não duráveis (-0,4%).
No resultado observado na comparação com o mesmo mês do ano passado (fevereiro/2023), todas as categorias apresentaram variação positiva, na seguinte ordem: bens duráveis (9,3%), bens de consumo (5,4%), bens de capital (5,3%), bens intermediários (5,1%) e bens semiduráveis e não duráveis (4,8%).
No acumulado no ano registrou crescimento em todas as categorias analisadas: bens duráveis (5,2%), bens intermediários (4,8%), bens de consumo (4,2%), bens semiduráveis e não duráveis (4,1%) e bens de capital (3,6%).
Para o índice acumulado em 12 meses, quatro dos cinco segmentos assinalaram resultados positivos: bens semiduráveis e não duráveis (2,2%), bens de consumo (2,1%), bens intermediários (1,5%) e bens duráveis (1,0%). Os bens de capital caíram -9,4% nessa base de comparação.
Setores. Na comparação de fevereiro de 2024 com o mesmo mês do ano anterior (fevereiro de 2023), houve variação positiva no nível de produção de 16 dos 25 ramos pesquisados. As maiores variações positivas foram percebidas nos seguintes setores: produtos eletrônicos e ópticos (18,1%), produtos de madeira (16,0%), veículos automotores, reboques e carrocerias (9,8%), outros equipamentos de transporte (9,6%), artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (9,3%), e produtos alimentícios (8,3%). Por sua vez, as maiores variações negativas nessa base de comparação ficaram por conta dos seguintes setores: produção, produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-17,5%) e manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,3%).
Na comparação do acumulado do ano de 2024, 20 dos 25 setores cresceram, sendo as maiores variações positivas: produtos eletrônicos e ópticos (16,7%), produtos de madeira (16,1%), bebidas (8,7%), outros equipamentos de transporte (8,3%) e artefatos de couro, artigos para viagem e calçados (7,9%). Já produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-16,4%) o setor de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (-8,4%) apresentaram as maiores quedas.
No acumulado nos últimos 12 meses, a produção industrial apresentou variação positiva em dez dos 25 ramos analisados, com destaque para impressão e reprodução de gravações (9,6%), fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores (9,4%), indústrias extrativas (7,5%), fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis (7,3%), fabricação de produtos do fumo (5,0%). Já fabricação de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-7,3%), fabricação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-7,6%), fabricação de produtos diversos (-7,7%) apresentaram as maiores quedas.