“Ante ao mesmo período do ano passado, já são oito meses seguidos no vermelho, sendo que a queda acumulada no 1º trim/22 chegou a -4,5%”
Os últimos resultados da produção das indústrias do país configuram um quadro de “anemia industrial”, classifica o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Nesta terça-feira (03), o IBGE divulgou os dados do setor em março apontando para uma variação de 0,3% no mês em relação a fevereiro. O resultado, além de ser quase nulo, não repõe as perdas que a indústria teve nos últimos meses.
“Embora o setor industrial tenha observado a segunda alta seguida, não compensa nem mesmo a queda de janeiro, que foi de 2%”, afirmou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal do IBGE ao comentar a divulgação dos resultados. O ano começou com um tombo de -2% em janeiro e em fevereiro houve crescimento de 0,7%.
Para o Iedi, “o primeiro quarto do ano se encerrou com um desempenho, no mínimo, anêmico”. Ante ao mesmo período do ano passado, destaca o instituto, já são oito meses seguidos no vermelho, sendo que a queda acumulada no 1º trim/22 chegou a -4,5%.
Na comparação com os níveis de produção pré-pandemia, o estado de desmonte da indústria é ainda mais evidente. Segundo o IBGE, o volume atual está 2,1% abaixo do que estava em fevereiro de 2020.
Não foi só a pandemia e as restrições de produção e circulação que levaram a esse desempenho. A política econômica do governo Bolsonaro que levou à explosão da inflação, elevou os juros básicos e arrochou rendas tem grande impacto sobre a indústria.
“Desabastecimento de matérias-primas, encarecimento de custo de produção, inflação em patamar mais elevado, que diminui a renda das famílias, contingente grande de trabalhadores fora do mercado de trabalho…. São fatores que pesam sobre a indústria”, diz Macedo.
NO ACUMULADO DO 1º TRI/22, 80% DOS 26 RAMOS FICARAM NO VERMELHO
O Iedi ainda ressalta que os níveis de produção vão de mal a pior mesmo antes da pandemia. Em março de 2022, o volume está nada mais nada menos que 15% abaixo do que era em março de 2014.
“E, por pior que isto seja, há setores com defasagens muito maiores, como por exemplo, veículos (-27,3% ante mar/14), têxteis (-28,0%), máquinas e aparelhos elétricos (-30,8%), equipamentos de informática e eletrônicos (-35,3%), vestuário (-37,5%), móveis (-37,7%) e outros equipamentos de transporte (-47,2%)”, mostra.
“Não é pequena a parcela da indústria presa em níveis inferiores de produção: 73% dos 26 ramos acompanhados pelo IBGE tem quedas de dois dígitos frente a mar/14, isto é, antes da recente fase de declínio da indústria. E também é largamente majoritária a participação dos ramos que ficaram no vermelho no acumulado do 1º trim/22: 80% dos 26 acompanhados, sinalizando que os últimos sinais não são muito promissores”.
“Ao todo, temos três trimestres consecutivos de declínio industrial e a grande diferença do 1º trim/22 em relação aos demais é que não há mais exceções: todos os macrossetores ficaram no vermelho, como mostram as variações a seguir. E mais, a fração dos ramos em queda não parou de aumentar, indicando uma disseminação do sinal negativo. No 3º trim/21, 54% dos ramos perderam produção, no 4º trim/21 foram 69% e agora no 1º trim/22, como vimos, 80% deles.
• Indústria geral: -1,1% no 3º trim/21; -5,8% no 4º trim/21 e -4,5% no 1º trim/22;
• Bens de capital: +27,0%; +5,5% e -2,6%, respectivamente;
• Bens intermediários: -1,8%; -4,6% e -3,4%;
• Bens de consumo duráveis: -17,4%; -22,1% e -18,3%;
• Bens de consumo semi e não duráveis: -2,9%; -8,0% e -4,4%, respectivamente.”