“Mais uma vez vemos que uma forte expansão da agropecuária não basta para dinamizar nossa economia interna”, advertem empresários da indústria
Em análise sobre o resultado do Produto Interno Brasileiro (PIB) no 1º trimestre de 2023, que cresceu +1,9% em relação ao trimestre anterior, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considerou que, apesar de surpreender muitos analistas, que esperavam um resultado menor, de +1,2%, “o quadro é menos favorável do que parece à primeira vista”.
De acordo com o Iedi, “em primeiro lugar, porque o mercado interno não se saiu nada bem. O consumo das famílias seguiu perdendo força, de modo a ficar em uma situação de quase estagnação, e os investimentos não só ficaram no vermelho pela segunda vez consecutiva, como quase triplicaram a intensidade de sua perda”.
O Instituto continua em sua avaliação afirmando que, pelo lado da oferta, “a indústria em seu agregado registrou seu segundo sinal negativo consecutivo. Na indústria de transformação, já são três trimestres seguidos de perdas na série com ajuste sazonal, trajetória esta que passou a ser apresentada também pela construção. O setor de serviços ainda resiste, graças a transportes e serviços financeiros, mas já não cresce como antes”.
O Iedi destaca que o bom desempenho do PIB no início de ano deveu-se a “um dinamismo bastante concentrado na agropecuária” e, muito disso, “graças à safra da soja”.
O PIB da agropecuária teve alta de 21,6% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado, já descontados os efeitos sazonais.
De acordo com o Iedi, “embora este resultado tenha relações diretas com as exportações do país, já que somos grandes exportadores de soja, principal alavanca do setor neste início de 2023, não foi o suficiente para evitar contração dos embarques totais do país, que recuaram -0,4%.
Assim, se a contribuição da demanda externa foi positiva no 1º trim/23 foi devido a uma forte redução de nossas importações, que chegou a -7,1%, influenciadas pelo arrefecimento da demanda interna (do consumo e investimento) e também pela situação adversa na indústria”.
Enquanto a agropecuária avançou, o PIB da indústria de transformação recuou -0,6% no mesmo período e está 2,5% abaixo do patamar do segundo trimestre de 2022, quando registrou sua última variação positiva.
“Também é o único setor que ficou no vermelho em comparação com o mesmo período do ano anterior: -0,9%, ou seja, muito aquém do PIB total do país, que nesta comparação registrou +4,0%”, assinala o Iedi.
O Instituto destaca, ainda: “mais uma vez vemos que uma forte expansão da agropecuária não basta para dinamizar nossa economia interna”. “Faz falta ao país ter sua indústria em rota de crescimento”, afirma.
FREIO FOI AINDA MAIS INTENSO NOS INVESTIMENTOS
Sobre os investimentos, o Iedi destaca que “o freio foi ainda mais intenso”.
“A formação bruta de capital fixo saiu de uma alta de +3,5% no 2º trim/22 para uma queda de -3,4% no 1º trim/23 na série com ajuste sazonal. Frente ao 1º trim/22, também cresceu pouco: +0,8%. Em relação ao PIB, o investimento regrediu 14 anos: foi de 17,7% no 1º trim/23, isto é, abaixo dos níveis de igual período em 2022 e 2021, e voltou ao patamar do 1º trim/09 (17,8%)”.
O Iedi analisa também, pelo lado da demanda, que o consumo do governo não perdeu dinamismo “mas já não crescia muito”, ao registrar +0,3% no 1º trimestre, o mesmo resultado verificado no último trimestre de 2022.
Sobre o setor de serviços, que variou +0,6%, houve um distanciamento das taxas em torno de 1% verificadas entre o 3º trim/21 e o 3º trim/22.
“Os componentes do setor mais vinculados ao mercado interno quase não saíram do lugar: +0,3% para o comércio e para atividades imobiliárias, ou ficaram no vermelho, como outras atividades de serviços (-0,5%). Os impulsos positivos vieram de transportes (+1,2%), estimulados pelo escoamento da safra, e também das atividades financeiras (+1,2%), que repetiram o ritmo de crescimento do 4º trim/22”, prosseguiu o Iedi em sua análise.