Em desaceleração desde o segundo trimestre, a atividade econômica brasileira seguiu sem ânimo no início do quarto trimestre deste ano.
Em outubro ante o mês imediatamente anterior, o faturamento real dos serviços recuou -0,6%, as vendas do comércio registraram queda de -0,2% e a produção industrial variou 0,1%.
Com o resultado de outubro, o volume de serviços prestados no Brasil – setor que tem a maior participação no PIB (Produto Interno Brasileiro) e que mais emprega no país – já padece de três quedas seguidas: -1,4% em agosto, -0,2% em setembro e -0,6% em outubro.
Após a queda de 0,6% em julho frente a junho, a produção industrial nacional estagnou: 0,4% em agosto, 0% em setembro e -0,1% em outubro.
Já as vendas do comércio, também desde julho, orbitam em torno de zero: 0,6% em agosto, 0% em setembro e -0,4% em outubro.
Diante deste quadro, o IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) avalia que o “último quarto do ano teve início prolongando o quadro de desaceleração do PIB verificado no trimestre de 2023” – época em que o PIB (a soma dos bens e serviços finais produzidos no país) variou em alta de 0,1%, em comparação com o segundo trimestre (1%). No primeiro trimestre, a economia havia crescido 1,4%.
“Ainda que as taxas de juros venham dando sinais de arrefecimento, os empréstimos no país continuam caros e relativamente escassos”, destaca o IEDI.
Na virada do segundo trimestre, sem mais contar com impulso dado pela supercolheita agropecuária deste ano, a economia brasileira passou a sentir fortemente os efeitos da política contracionista monetária/econômica do Banco Central (BC), que apesar de ter iniciado o ciclo de cortes na taxa de juros da economia (Selic) em agosto, mantém os juros reais (descontado a inflação) em níveis escorchantes, mantendo a oferta de crédito cara e inibindo o consumo de bens e serviços no país.
“Mesmo com as reduções na Selic em agosto, setembro e novembro, a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação – está em 8% ao ano”, denunciou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, de reduzir mais uma vez a taxa Selic, em apenas 0,5 ponto percentual, de 12,25% para 11,75% ao ano.
Na avaliação da CNI, a decisão do Copom foi “excessivamente conservadora e prejudicial à atividade econômica”.
“O cenário de controle da inflação justifica plenamente a redução da Selic em ritmo mais acelerado”, defendeu Ricardo Alban, presidente da entidade. “É preciso – e possível – mais agressividade para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas e consumidores”, ressaltou.
Para se ter uma ideia o quão maligna está sendo a política contracionista monetária do BC ao setor produtivo brasileiro, no acumulado de janeiro e outubro de 2023, as concessões de crédito às empresas tombaram 5,6% em termos reais frente ao mesmo período do ano passado, segundo a CNI.
“Os dados, em particular do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2023, evidenciaram desaceleração da economia, sobretudo em setores mais sensíveis aos juros, como o de investimento”, observou a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que também emitiu nota cobrando “cortes mais intensos” na taxa Selic pelo BC.
“O atual patamar da taxa de juros ainda limita a capacidade produtiva do Brasil. Em 2023, as concessões de crédito às empresas diminuíram e os dados recentes confirmaram o baixo dinamismo da atividade industrial”, disse a Firjan.
A CNI projeta que os investimentos recuem em 3,5% neste ano. No terceiro trimestre de 2023, os investimentos recuaram -2,5% frente ao segundo trimestre, sendo o quarto trimestre consecutivo de queda no indicador de Formação Bruta de Capital Fixo (FBC), que mede a ampliação da capacidade produtiva por meio de investimentos em ativos fixos, como máquinas e equipamentos, por exemplo.
Quando comparado ao mesmo período do ano passado, os investimentos no país caíram -6,8%, o maior declínio por esse tipo de comparação desde o terceiro trimestre de 2020 – ano inicial da pandemia de Covid-19, em que os investimentos ficaram 8,8% em baixa.
A indústria de transformação deve encerrar 2023 com uma queda de -0,7% e a indústria da construção com um recuo de -0,6%, ambas em comparação com o ano anterior, prevê a CNI.
“A expectativa é de que a taxa de investimento, que é a relação entre a formação bruta de capital fixo e o PIB, deve cair para 18,1%, ante 19,3%, em 2022. Essa queda no investimento vai impedir um melhor desempenho nos próximos anos”, também alertou a CNI nesta semana.
Outro fator grave para o fraco desempenho da economia do país é o baixo salário pago aos trabalhadores, o que contrai mais ainda o mercado interno. O salário mínimo no país é um dos mais baixos do mundo.
Na terça-feira (5), foi anunciado que o salário mínimo, com aumento real e tudo, em 2024, será de R$ 1.421,00. Atualmente, o seu valor é de R$ 1.320,00. Serão R$ 101,00 de reajuste, descontada a inflação, 2,9% de aumento real.