O professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, afirmou, em entrevista ao Jornal do Brasil, publicada na edição deste fim de semana, que “há um enorme equívoco na forma como o atual governo e os gestores tratam a Petrobrás, como se fosse um negócio convencional, subordinado às regras do sistema financeiro do eixo Nova Iorque-Londres”. “A Petrobrás deveria estar fora disso”, disse ele.
“Muitos analistas celebraram as intervenções iniciadas pelo (Aldemir) Bendine no governo (Dilma) Rousseff e replicada com absoluta ortodoxia sob Temer. Essas pessoas entendem que o único papel da empresa é gerar dividendos e prestar contas sob ótica míope que só olha o curto prazo”, prosseguiu Sauer, não deixando de criticar que “a Petrobrás passou, especialmente de 2011 para cá, por processo de má gestão, de ausência de visão estratégica e de instrumentalizacão política”.
Ildo Sauer lembrou que ele e Luís Pinguelli Rosa foram os responsáveis por elaborar o programa para área de energia do governo do PT. “Depois foi jogado no lixo para fazerem essa lambança toda aí”, salientou. “Eu não vejo o porquê de alguém que já teve a chance de construir uma vez precisar voltar”, avaliou Ildo Sauer, ao falar sobre Lula. “Acho que o mundo gira para frente. Falar isso me dói muito. Desde a adolescência, quando o PT foi criado, estive junto. Fui massacrado dentro do partido, expulso da Petrobrás e fizeram o que fizeram depois que saí de lá”, prosseguiu.
Segundo ele, a resposta dada agora em função da má gestão nos projetos de refinaria “é absolutamente escandalosa”. “Primeiro veio o Bendine, que ainda se revelou um corrupto. Com ele veio o Ivan Monteiro, que montou toda essa estratégia, foi mantido pelo Parente e hoje é o presidente. O Ivan Monteiro é o continuador dessa estratégia que pode ser o início do fim da Petrobras”, denunciou o especialista.
“Vender gasodutos para a Brookfield e depois pagar valores de pedágio que, em dois ou três anos, se equiparam ao montante recebido, é absolutamente equivocado”, observou. “Uma empresa que tem controle potencial da produção de 100 bilhões de barris, não deveria se submeter aos ditames da ortodoxia financeira. Deveria buscar parceiros como a China e a Índia para garantir créditos e aumentar a capacidade de produção. Não era o caso de amputar, mas sim de empreender”, acrescentou.
O professor observou que “há uma privatização explícita da Petrobrás e ninguém vê, porque é tudo mistificado. Privatizaram três mil quilômetros de gasodutos e as pessoas não sabem. Entregaram o campo de Carcará, por menos de US$ 2 o barril, quando a Petrobrás pagou entre US$ 8 e US$ 11 à União pelo óleo que ela mesmo descobriu”.
“A população é contra a privatização, mas estão privatizando”, denunciou Ildo. “Dizem que estão repassando ativos para tapar o buraco deixado pela má gestão anterior. Este é o discurso, mas é tudo mistificação. Também usam os escândalos para legitimar a ortodoxia financeira como a única capaz de salvar a empresa”, destacou Sauer. “É um modelo de negócio errado. No futuro, aparecerão as verdadeiras razões, hoje impublicáveis”, disse o acadêmico.
Perguntado sobre a cessão onerosa, Sauer disse que se tivessem ouvido o que ele dizia à época, “não teria havido nem cessão onerosa e nem partilha. Por mim, quando estes campos foram descobertos, o governo teria contratado a Petrobrás para produzir o petróleo a preços que compensassem todos os custos de produção e gerassem uma margem excelente de retorno para mantê-la como a empresa mais capacitada em termos tecnológicos do mundo”.
“Este é”, segundo ele, “o maior embuste já criado pela mídia. Em quase todo o pré-sal, o operador é a Petrobrás, que tem a responsabilidade de dirigir a exploração (pesquisa), coordenar a contratação das plataformas e toda a operação”. “Cabe às outras petroleiras dos consórcios acompanhar e dizer sim. Qual é o papel delas? A Petrobrás informa o cronograma e coordena os investimentos. Se alguém não cumprir, outro assume ou a cota é vendida”, observou o professor ao condenar a venda da cessão onerosa.
Por fim, o professor Ildo Sauer lembrou que chegou a ser cotado para ser o candidato a presidente do Partido Pátria Livre (PPL) à Presidência da República, e disse que desistiu porque nesse momento prefere atuar como analista na academia, fazer proposições ao debate, que, em sua opinião, “é o mais importante agora”.