“Qualquer governo sério que venha depois deste vai ter de rever tudo isso, o que foi feito com as privatizações na Petrobrás, nas privatizações no setor elétrico e todos esses contratos danosos impostos às empresas públicas e ao Estado brasileiro. É o ponto mínimo de qualquer governo democrático e popular, que respeite a soberania da população”, afirmou Ildo Sauer, em entrevista à Rádio Independência.
“Reverter privatizações é ponto mínimo do próximo governo”
“Qualquer governo sério que venha depois deste vai ter de rever tudo isso, o que foi feito com as privatizações na Petrobrás, nas privatizações no setor elétrico e todos esses contratos danosos impostos às empresas públicas e ao Estado brasileiro. É o ponto mínimo de qualquer governo democrático e popular, que respeite a soberania da população e que tenha um mínimo de dignidade”, declarou o professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (IEE-USP), em entrevista à Rádio Independência (www.independenciabrasil.com.br).
Sauer disse ser infundada a empolgação do ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, ao afirmar em seminário em Nova Iorque que o valor de mercado da Eletrobrás vai duplicar ou triplicar – “hoje já vale R$ 30 bilhões e, com esse processo de democratização do capital, nossa expectativa é ver a Eletrobrás, em um futuro breve, valendo de R$ 80 bilhões a R$ 90 bilhões” – com a privatização, anunciada em agosto.
“Valor de mercado de uma empresa depende da expectativa de lucros futuros. Para aumentar o lucro da Eletrobrás, no futuro tem de fazer duas coisas. Reduzir alguns custos, que é possível, mas, acima de tudo, aumentar a receita, o que só é possível com aumento das tarifas. Com a Medida Provisória 579 da Sra. Rousseff, a maior parte da energia produzida pelas usinas das subsidiárias da Eletrobrás, especialmente Furnas e Chesf, passou a ser vendida abaixo do custo de operação e manutenção. A receita atual não garante a operação e manutenção adequadas ao padrão técnico. Então, se ele está anunciando que o valor vai dobrar com a privatização, pode até triplicar. Só que vai ter de aumentar as tarifas”, ressaltou o engenheiro.
O professor da USP desmascarou o modus operandi privatista, realizado aqui e em outros lugares: “Privatiza-se agora a preço muito baixo, porque a receita atual é baixa. Depois muda-se a regra para repor as tarifas com preços de venda de energia que vai para o mercado das distribuidoras, que depois repassam os custos aos consumidores. Este éom golpe. Privatiza-se na bacia das almas, em uma estrutura regulatória que deprime o valor das empresas públicas. Depois, em mãos privadas acha-se um jeito de mudar a estrutura regulatória, em vez de vender a energia a um custo de produção mínimo, pois as usinas já estão quase amortizadas. Em vez de se apropriar deste valor para aplicar na educação e saúde públicas e para a melhoria da própria empresa, pois a energia gerada por ele pertence ao povo brasileiro, usurpa-se do povo essa riqueza para fazer lucro privado e acha que está fazendo um grande negócio. Bom para os acionistas, mas para o povo não”.
CEMIG
Ildo Sauer analisou a queda da liminar que impedia a realização do leilão das usinas de Jaguara, Miranda, Volta Grande e São Simão, operadas pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), cujas concessões se encerram neste ano. “O que esse governo ilegítimo quer fazer é tomar as usinas da Cemig, que passariam a pertencer ao povo brasileiro, pois vencidas as concessões passariam ao governo nacional, para privatizar, arrecadar algum dinheiro para arrumar as contas e fazer os acertos que eles sempre fazem com seus parceiros. É um governo em que ratos abandonam o navio que está afundando, tentando sair com o maior naco de queijo possível. Então, é mais um capítulo do assalto ao patrimônio público”, ressaltou.
PRÉ-SAL
Diretor de Gás e Energia da Petrobrás por quatro anos (2003/2007), Sauer condenou a realização das 2ª e 3ª Rodadas de Licitações de Partilha de Produção na Área do Pré-Sal, programadas para outubro: “É preciso anunciar desde já que qualquer leilão ou venda de concessão feita por este governo deve ser revisto. Provavelmente deve ser anulado. A estratégia de abrir a concessão e acelerar a produção é contra o interesse nacional, porque para reduzir o preço do petróleo se intensificou o ritmo de produção. O Brasil deve estar em sintonia com a Opep e grandes produtores exportadores como Rússia, Canadá e México. Para fazer isso, o governo tem de deter o controle sobre o ritmo de produção. Nem o regime de concessão, nem o de partilha permite fazer isso. Então, precisa anunciar que qualquer medida feita agora, qualquer concessão, qualquer contrato, vai ser revisto depois, porque este governo não tem legitimidade e não pode promover esses assaltos à riqueza pública, construída por luta popular de quase um século. A Petrobrás e a Eletrobrás são patrimônios construídos pelo povo brasileiro a partir de um governo que tinha como plataforma o desenvolvimento nacional”.
VALDO ALBUQUERQUE
SÉRGIO CRUZ