O professor Ildo Sauer, vice-diretor do Instituto de Energia da USP, condenou a declaração do general Aléssio Ribeiro Souto, colaborador de Jair Bolsonaro para as questões educacionais, científicas e tecnológicas, de que o Brasil deve adotar o ensino do criacionismo nas escolas da mesma forma que se ensinam “outras ciências”. “Isso é um absurdo e seria um grande retrocesso civilizatório. O que ele está defendendo é a volta ao passado medieval. Isso é inaceitável”, denunciou o professor Ildo, em entrevista ao HP, nesta quarta-feira (17).
Para o general, o criacionismo, crença religiosa de que os seres humanos, a terra e o universo são uma criação de uma entidade sobrenatural, deve ser tratado da mesma forma que a teoria científica da Evolução de Charles Darwin. “Cabe citar o criacionismo, o darwinismo, mas não cabe querer tratar que o criacionismo não existe”, disse ele. “Houve Darwin? Houve, temos que conhecê-lo. Não é para concordar, tem que saber que existiu”, diz o general.
Ildo Sauer contestou essa afirmação e disse que ela não tem o menor cabimento. “Pode-se discutir e ensinar religião nas escolas. Deve haver liberdade religiosa. O que não se pode admitir é que as crenças religiosas, visões de mundo e conceitos que estão no âmbito da fé de cada um, sejam tratadas, debatidas e ensinadas nas escolas da mesma forma que se faz com o ensino das ciências”, observou. O ensino de questões religiosas não pode ser tratado no mesmo patamar e no mesmo campo do ensino da ciência e da pesquisa científica, como quer o general”, afirmou.
“São coisas completamente diferentes. A ciência percorreu um longo caminho para se libertar do obscurantismo e das amarras impostas pelas proibições religiosas. Ela venceu as limitações e perseguições impostas pela própria igreja católica”, argumentou. “Percorreu-se um caminho longo e difícil. Muito sacrifício foi feito, muita gente foi silenciada, muita gente morreu nas fogueiras da inquisição para que a ciência pudesse cumprir o papel libertador que cumpriu e vem cumprindo até hoje na Humanidade”, observou o pesquisador.
“Essa pretensão de equiparar religião e ciência significaria um retrocesso enorme nas conquistas da sociedade humana. Os avanços seculares, que tanto custaram à nossa civilização, estariam sob risco”, avaliou o professor da USP. “Há muito tempo nós superamos tudo isso e garantimos a separação entre religião e Estado”, disse. “São várias as religiões existentes e o Estado deve garantir a liberdade de todas elas. Assim como deve estimular o avanço da ciência. Há o campo da crença religiosa e o campo da ciência. São duas coisas bem distintas. Misturá-las é um sintoma evidente do retorno ao passado, de retorno ao obscurantismo medieval”, alertou Sauer.
“Com a libertação da ciência, depois de uma longa jornada, após o fim das inquisições da idade média e das perseguições religiosas, as pesquisas puderam se desenvolver. Houve uma grande ampliação do conhecimento humano sobre a natureza, sobre si próprio e sobre o universo. A ciência liberada pôde trazer o progresso para a Humanidade, o bem estar para as sociedades e proporcionar, inclusive a paz”, avaliou o professor. “Isso foi uma grande conquista da Humanidade. Não podemos admitir a volta ao passado”, destacou o professor da USP.
“A liberdade religiosa deve ser garantida. Pode-se praticar e ensinar religião em qualquer lugar, mas no campo apropriado. A religião tem que estar no campo da fé e das crenças e não no campo da ciência”, enfatizou Ildo Sauer. “Essa afirmação do general causa uma grande perplexidade no mundo científico. Porque se a ideia é parear religião no mesmo patamar da ciência, daqui a pouco vai ter gente querendo também fazer isso com alquimia, magia, bruxaria e outras atividades não científicas”, ponderou Ildo Sauer.
SÉRGIO CRUZ
Ta com medo do que?, nós os cientistas, professores, temos que ensinar que uma Teoria, a da evolução, seja uma verdade inconteste, indo contrariamente ao próprio método cientifico, que estabelece, …” observe com os sentidos,(visão, tato, olfato, paladar, audição), os fatos, formule uma teoria que explique os fatos observados, e que seja capaz de prever novos fatos, formule testes capazes de comprovarem e corroborarem os fatos observados, que sejam reproduzíveis, nas mesmas condições, em qualquer tempo e lugar, divulgue os resultados à comunidade científica. se os testes reproduzirem os fatos observados ou previstos, a teoria é boa e deve ser mantida, se um único teste não reproduzir tais resultados, deve-se abandonar a teoria, ou reformula-la, completa ou parcialmente… então uma teoria nunca pode ser tida como a verdade absoluta, mas uma boa explicação aceita, até que provem o contrario…
Vem cá, desde quando o criacionismo foi aprovado pelo método científico? O problema é exatamente o oposto. A teoria de Darwin jamais foi encarada como “verdade absoluta”. No entanto, não existe, até hoje, nenhuma teoria científica que a tenha contestado. Já o criacionismo, simplesmente, nada tem a ver com ciência. O dogma é o criacionismo, não a evolução das espécies. Por favor, leitor, não confunda capitão de fragata com aquela outra categoria…