O coordenador de Mobilidade Urbana do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Rafael Calabria, afirmou, em entrevista ao HP, que o fim da gratuidade da passagem para os idosos no transporte foi uma medida “absurda e covarde que prejudicará e muito quem mais precisa do transporte público”.
“A medida que retira a gratuidade da passagem para os idosos no transporte foi uma medida antidemocrática, autoritária, feita sem nenhuma discussão com a sociedade”, afirmou Rafael Calabria.
Na entrevista, realizada na sexta-feira (8), Calabria falou sobre as decisões dos governos estadual e municipal de São Paulo que acabam com o benefício para os idosos com mais de 60 anos.
Nesta semana, as decisões dos executivos estadual e municipal foram suspensas, pelo menos provisoriamente, pela Justiça e o direito à passagem gratuita foi restabelecido.
Para Calabria, caso as ações dos governos sejam mantidas, “o efeito sobre a população idosa será gravíssimo. Isso porque atinge diretamente as pessoas de baixa renda, as mais vulneráveis, que vão deixar de utilizar o transporte, inclusive para necessidades mais urgentes, como consultas médicas”, afirmou.
Em relação à gratuidade nos ônibus municipais, garantida na lei municipal 15.912/2013, e revogada pelo prefeito Bruno Covas, Calabria rebateu os argumentos da Prefeitura de que a medida reduziria os subsídios para o transporte.
De acordo com o especialista, atualmente “o idoso mostra o RG no ônibus, não passa na catraca e não é contabilizado para a SPTrans. Já o idoso que passa o bilhete do idoso é contabilizado e a SPTtrans paga para as empresas o referente aos passageiros”.
“No entanto, o novo contrato com a Prefeitura prevê o fim disso. A SPTrans vai passar a pagar o custo da operação, ou seja, paga o motorista, o diesel, pneu, manutenção, e não importa se no ônibus tem 5 ou 48 idosos. O custo para a SPTrans será o mesmo. Então esse argumento é injustificável”, afirmou.
Além disso, explica Calábria, “essa economia terá ainda menos efeito se considerarmos que o idoso vai deixar de utilizar o transporte público. Eles ignoram a população que deixa de usar o transporte”.
“Pesquisas mostram que 70% das pessoas já deixaram de usar o transporte por conta do valor da passagem. Isso quando há um aumento de R$ 0,10 ou R$ 0,20. Quando aumenta a tarifa, há perda de passageiros. Para o idoso é um aumento de R$ 4,40 de uma vez só. Então haverá uma perda de passageiros muito grande, o que a Prefeitura não estimou e não tem a capacidade de estimar”, sentenciou.
“O que eles fazem é tratar a tarifa como um ente integrante do sistema. Não veem o transporte como uma política social, e sim de engenharia, mas tem um impacto social e econômico gravíssimo. Acham que o idoso vai pagar. É, na realidade, uma manobra absurda e covarde que prejudicará e muito quem mais precisa do transporte público”, afirmou o especialista do Idec.