Deputados da Comissão que investiga a invasão de 6 de janeiro ao Capitólio decidiram, por unanimidade, abrir processo criminal contra o ex-assessor de Trump, Steve Bannon, por “desacato”. Bannon deixou de comparecer, no dia 14, para depor diante da Casa dos Representantes (equivalente a nossa Câmara dos Deputados) alegando estar protegido por privilégios executivos, mesmo sem ocupar atualmente qualquer cargo dentro da Casa Branca.
“Acreditamos que o Sr. Bannon tem informações relevantes à nossa investigação e nós iremos usar de todos os meios ao nosso alcance para conseguir estas informações”, afirmou – antes da votação pelo início do processo – o deputado Bennie G. Thompson, democrata pelo Missouri, presidente da Comissão que investiga a invasão.
“Espero que a Casa como um todo apoie esta decisão e leve o pedido de indiciamento ao Departamento de Justiça (equivalente ao nosso Ministério da Justiça) e que o produrador-geral dos EUA cumpra o seu dever e avance no processo por desacato criminoso contra o Congresso”, acrescentou o deputado após a aprovação da proposta.
Thompson adiantou que Bannon “está isolado” em sua tentativa de esconder os fatos pois a comissão já recolheu “milhares de páginas documentais e coleta depoimentos de forma firme e constante”.
Referindo-se a uma fala de Bannon no dia 5 de janeiro, em seu podcast, de que “o inferno explodiria” no dia seguinte, que coincidiu com a invasão do Capitólio, a vice-presidente da comissão, deputada Liz Cheney, republicana pelo Estado de Wyoming, sublinhou que “o que já conseguimos avançar em termos de conhecimento sobre os planos para o dia 6 de janeiro mostram que ele teve um papel importante na formulação destes planos”.
“O Sr. Bannon estava no quarto do hotel Williard no dia 6 de janeiro”, acrescentou Cheney, em referência ao hotel localizado em Washington onde ele se encontrou com Trump e comparsas antes dos eventos daquele dia.
“Ao que tudo indica ele também tinha conhecimento detalhado dos esforços do presidente Trump para vender a milhões de americanos a fraude de que as eleições teriam sido roubadas, como muitos depoentes que participaram do ataque de 6 de janeiro atestam”. Segundo eles, a violência daquele dia foi uma resposta direta aos repetidos reclamos do presidente Tump, desde a noite das eleições até o 6 de janeiro, de que ele havia vencido”.
Cheney disse ainda que o conhecimento privilegiado dos fatos por parte de Bannon apontam para a conclusão de que “Trump esteve pessoalmente envolvido no planejamento e execução do 6 de janeiro”.
“Nós vamos até o fundo na investigação”, finalizou Cheney.
LIGAÇÕES PERIGOSAS COM BOLSONARO
A Polícia Federal monitora, no Brasil, as ações de Bannon relacionadas às eleições de 2022. Bannon tem se metido a criticar o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nos mesmos termos de Bolsonaro que constantemente levanta dúvidas quanto à segurança das urnas eletrônicas brasileiras.
Segundo a PF os seguidores de Bolsonaro usam os mesmos métodos de desinformação em redes sociais aos que Bannon coordenava em favor de Trump quando era conselheiro sênior da Casa Branca.
Um dos responsáveis pela aproximação de Bolsonaro e seguidores a Steve Bannon foi o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins.
Martins, o mesmo que em sessão do Congresso brasileiro fez o gesto dos supremacistas norte-americanos brancos do “White Power” (Poder Branco), fez contatos com Bannon quando este era editor do site propagador de notícias falsas, o Breitbart News.
Outra ligação perigosa de Bolsonaro com os produtores de fake news nos EUA é Allan dos Santos, que teve prisão preventiva decretada pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, na quinta-feira (21).
Ao embasar a determinação de prisão de Allan dos Santos, o ministro do STF citou um trecho da representação em que a Polícia Federal aponta proximidade entre o blogueiro bolsonarista e o norte-americano Owen Shroyer, colaborador do site de notícias falsas Infowars. Shroyer atualmente responde à Justiça dos EUA, acusado de invadir a sede do Legislativo norte-americano, em janeiro: “Identifica-se articulação de [Allan dos Santos] com pessoas diretamente envolvidas na invasão ao Capitólio, inclusive utilizando o canal de [Jonathan] Owen Shroyer” que atua “para reiterar e reverberar, dessa vez em solo americano, a difusão de teorias conspiratórias voltadas a desacreditar o sistema eleitoral brasileiro”, afirmou a representação da PF, assinada pela delegada Denisse Ribeiro, em setembro.
Allan Santos, também próximo a Bannon, como mostra a foto acima, está foragido nos Estados Unidos, desde que as investigações por difusão de fake news tiveram início, tem o visto vencido e, a partir de agora, por decisão do ministro do STF, tem seu nome incluso na lista de procurados pela Interpol.