Dados oficiais do Ministério da Saúde registraram, apenas em setembro, 977 mil casos de desnutrição em crianças e adolescentes. Em agosto, foram detectados 136 mil casos. Bolsonaro finge que não existe fome no seu governo
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nas redes sociais que “não podemos aceitar que crianças acordem sem ter o que comer no café da manhã”. O combate à fome foi determinado como principal foco do próximo governo.
“Nós vamos construir um governo para todos, mas com atenção especial para os que mais precisam”, disse.
Lula fez o comentário sobre uma reportagem do UOL intitulada “Escalada da fome gera 1 milhão de menores com desnutrição no país em 2022”.
A reportagem revela que dados oficiais do Ministério da Saúde registraram, apenas em setembro, 977 mil casos de desnutrição em crianças e adolescentes. Em agosto, foram detectados 136 mil casos.
No ano de 2015, eram 27 mil crianças com desnutrição, segundo o Sistema de Informação da Saúde da Atenção Básica (Sisab), do Ministério da Saúde.
Jair Bolsonaro, mesmo sabendo dessa realidade, falou diversas vezes que não há fome no Brasil. “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô”, comentou o então candidato à reeleição.
O Orçamento que seu governo produziu para 2023 prevê apenas R$ 25,5 milhões para ações e programas de “segurança alimentar e nutricional”, enquanto em 2022 a área teve R$ 66 milhões.
O próprio Ministério da Saúde admite que o Orçamento terá que ser adequado para que haja verba para o tema. O Ministério disse que “buscará, em diálogo com o Congresso Nacional, as adequações necessárias na proposta orçamentária para 2023”.
Uma médica ouvida pela reportagem do UOL, Viviane Xavier, que trabalha em uma Unidade de Saúde da Família (USF) na zona rural de Caruaru (PE), relatou que nunca viu tantos casos de desnutrição infantil como vê hoje sob o governo Bolsonaro.
“A maioria está realmente em estado de insegurança alimentar. Não sabe o que vai comer na próxima refeição, então é difícil traçar um perfil dietético. Eles afirmam que comem até osso, carcaça de galinha. A situação é preocupante”, falou.
“Hoje [quarta-feira] mesmo, recebi uma criança que estava em outra cidade, e a família voltou para Caruaru há um mês em busca de trabalho. Está com desnutrição importante, e precisamos enviá-la à UPA [Unidade de Pronto Atendimento] para ser hidratada e, depois, darmos a continuidade do tratamento”, disse a médica.
Ela ainda apontou que “são crianças que adoecem com mais facilidade do que as outras, pois não têm os nutrientes necessários inclusive para fabricar anticorpos suficientes”.
Uma pesquisa da rede Penssan revelou, em junho, que 33 milhões de brasileiros passam fome todos os dias, enquanto 125 milhões vivem em situação de insegurança alimentar. Desde 2020, mais 14 milhões de pessoas começaram a passar fome.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, falou que a pesquisa é mentirosa. “33 milhões de pessoas passando fome é mentira”, disse.