“A proporção de famílias com dívidas atrasadas foi mais expressiva entre as famílias de menor renda, que sofreram mais com o alto nível de juros e preços”, destacou a entidade
Em 2023, o contingente de famílias com dívidas em atraso chegou a 29,5% do total de lares no país. Essa é a maior proporção de inadimplentes desde 2010, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
“A proporção de famílias com dívidas atrasadas foi mais expressiva entre as famílias de menor renda, que sofreram mais com o alto nível de juros e preços, especialmente no grupo de despesas de maior peso nos orçamentos desses consumidores”, destacou a CNC no relatório da pesquisa, divulgado na quinta-feira (12).
Em 2023, a taxa de endividamento ficou em 77,8% da população, o que representa uma ligeira queda de 0,1% frente ao ano anterior (-108 mil a menos de endividados). Essa é a primeira queda deste indicador em 4 anos. No entanto, as famílias mais pobres estão no topo da lista de endividados, aponta a pesquisa da CNC.
“Duas em cada dez se sentem muito endividadas (22,2%). Isso confirma que as famílias de baixa renda estão mais vulneráveis às variações de juros e renda do que aquelas de maior renda”, diz outro trecho do documento.
Em 2023, o cartão de crédito, com seus juros proibitivos, seguiu sendo o principal vilão das dívidas dos brasileiros. Entre as diferentes formas de contratação de crédito, o cartão de crédito representou 87,2% das dívidas contraídas, em seguida vêm os carnês (16,4%), seguidos pelo crédito pessoal (9,4%), financiamentos de carro (8,2%) e financiamentos de casa (8%).
A entidade destaca que o cartão de crédito é um meio de pagamento altamente difundido no Brasil, mas alerta que ao longo de 2023, em média, as famílias brasileiras pagaram de juros em suas operações 34,5% ao ano, ao passo que os juros do rotativo bateram a marca de 434,4% a.a., e do cartão de crédito parcelado chegaram a 195,2%.
Para a CNC, enquanto a taxa básica de juros (Selic) do Banco Central (BC) segue em um patamar elevado, “o desempenho do setor de comércio perdeu tração”.
“A dependência do consumo das famílias em relação ao crédito é tamanha que é praticamente inelástica à variação dos juros das operações, porque desde janeiro de 2022 o juro médio às famílias brasileiras vem aumentando, mas, aparentemente, sem impactar o faturamento do setor de comércio”, observou a CNC, que afirma que, “ao passo que os juros entraram em trajetória decrescente, o faturamento do setor de comércio e serviços voltou a crescer”.