Juros altos e salários arrochados provocaram aumento
Quatro em cada dez brasileiros adultos estavam negativados em dezembro de 2023, aponta CNDL/SPC Brasil. Por modalidade, as dívidas com água e luz (14,20%) e as com os bancos (9,94%) foram as que mais cresceram de um ano para o outro.
Em dezembro de 2023, o número de brasileiros com dívidas em atraso chegou a 66,12 milhões de pessoas no país, segundo o indicador de inadimplência realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), junto com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).
Frente ao mesmo período de 2022, o indicador apresentou um crescimento de 3,58%. Já em comparação ao mês de novembro, o número de devedores caiu -0,71%. No último mês de 2023, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 4.337,70 na soma de todas as dívidas.
“O crescimento do indicador anual se concentrou no aumento de inclusões de devedores com tempo de inadimplência de 1 a 3 anos (22,26%)”, afirmou a CNDL em nota.
Ante ao ambiente de juros altos no Brasil, a maioria das dívidas estão concentradas nos bancos, com 63,26% do total, segundo a sondagem da CNDL/SPC Brasil. Junto a isso, os salários baixos pagos no país também foram causa do aumento da inadimplência.
O ano de 2023 foi marcado por pressões de empresários, congressistas e governo para a queda da taxa de juros Selic do Banco Central (BC), que decidiu, mesmo com uma clara queda dos indicadores de inflação, postergar os cortes na taxa até a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC de agosto do corrente ano.
Desde então, o Copom realizou cortes minúsculos de 0,5% ponto percentual na Selic, em cada das quatro reuniões que ocorreram entre agosto e dezembro. Mas a redução da taxa nominal, hoje em 11,75% ao ano, não alterou o nível do juro real no Brasil (quando descontada a inflação), que segue alto, mantendo os brasileiros entre os maiores pagadores de juros do mundo – o que garante que o nível da inadimplência siga em patamares elevados no país.
Diante deste quadro, o governo federal seguirá em 2024 com o programa Desenrola (que facilita a negociação de dívidas), mas com ajustes que possibilitem uma contemplação maior de pessoas. As alterações do Desenrola serão voltadas a faixa1 do programa, pessoas com renda até dois salários mínimos e inscritos no CadÚnico.
Com início em julho de 2023, ao todo, o Desenrola já negociou R$ 34 bilhões em dívidas, beneficiando 11,5 milhões de brasileiros. Na faixa 1, foram atendidas até agora 1,5 milhão de pessoas e negociados R$ 7,7 bilhões.
“A inadimplência no país ainda é muito alta. O governo sabe disso e tem adotado medidas para tentar reduzir esse número. O acesso ao crédito e o poder de compra das famílias são fatores primordiais para o crescimento econômico do país”, afirmou o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Júnior.