Na sexta-feira (07/08), Bolsonaro esteve na reinauguração da ponte de Barreiros, no município paulista de São Vicente.
Ao seu lado estava o ex-vice-governador de São Paulo, Márcio França, atualmente pré-candidato a prefeito da capital do Estado.
Mais tarde, Márcio França escreveu no Twitter, acima de sua foto com Bolsonaro:
“Nesse momento, me encontrando com o Presidente Jair Messias Bolsonaro. Através das boas relações, diálogo e união é que podemos ajudar o povo. Vamos achar maneiras para que a ajuda humanitária chegue aos que necessitam. #DiálogoComJair #AjudaHumanitária #UniãoDeEsforços“
Bolsonaro é, reconhecidamente, um especialista em ajuda desumanitária, expressão algo desajeitada, mas que traduz bem o conteúdo de seu governo. Da extinção do Ministério do Trabalho até as covas nos cemitérios que recebem os mortos pela COVID-19, se existe algo que um ser humano não pode esperar dele é ajuda. Exceto, talvez, se fizer parte da família Bolsonaro, mas existe quem conteste a substância humana dessa gente…
O melhor comentário – pela precisão e síntese – sobre essa comemoração de Márcio França de um encontro com Bolsonaro, foi do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), também no Twitter:
“Tem muito camaleão na política, mas tem gente exagerando. Nascido na esquerda, crescido nas asas do tucanato e de namorico com o bolsonarismo. Cuidado, a esperteza costuma engolir o esperto.”
Realmente, esperar alguma coisa de Bolsonaro parece esperteza que se torna tolice. Bolsonaro não conseguiu apoiar nem a deputada Joice Hasselmann ou o senador Major Olímpio – ambos em choque com o filho zero-alguma coisa, Eduardo Bolsonaro, que chefia o bando bolsonarista em São Paulo.
Eduardo Bolsonaro – isto é, Jair Bolsonaro – irá apoiar Márcio França? Logo Bolsonaro, que, em seu discurso de posse, disse que o maior inimigo de seu governo é o “socialismo”?
Independente do que esse elemento entenda por “socialismo”, o ex-vice-governador Márcio França é membro do Partido Socialista Brasileiro (PSB), desde a sua refundação, após a derrubada da ditadura.
Por que Bolsonaro iria ajudá-lo ou apoiá-lo, seja lá para o que for?
Bolsonaro, o máximo que poderá fazer, seria torrar o passado progressista de Márcio França, algo que seu mandato – lembrado por Orlando Silva – como vice-governador de Geraldo Alckmin, do PSDB, não conseguiu fazer.
Entretanto, Márcio França tem dito que o inimigo é Doria, e não Bolsonaro – inclusive com a avaliação de que Bolsonaro está se saindo melhor no combate à epidemia de COVID-19 do que o governador João Doria (ver sua entrevista à Folha de S. Paulo, 27/07/2020, na qual responsabiliza Doria pela situação em São Paulo – “São Paulo virou a vergonha do País na pandemia” -, ao mesmo tempo que diz, sobre Bolsonaro: “Acho que o atual presidente é um rapaz com pouca experiência administrativa. Uma coisa é viver no Parlamento, outra é no Executivo. Por isso, ele tem enfrentado essas dificuldades todas“).
Não existe ninguém, em sã consciência, sobretudo após 100 mil mortos no Brasil, vitimados pela COVID-19, que tenha essa opinião.
Não será invertendo a realidade – ou escamoteando a desastrosa conduta de Bolsonaro, com as mortes que já causou – que será possível angariar os votos do povo da capital de São Paulo.
Os compreensíveis ressentimentos pessoais, sequelas da última campanha eleitoral para o governo de São Paulo, não podem justificar uma atitude que não corresponde ao interesse público, ao interesse do povo.
Em janeiro, Bolsonaro já fora visitado pelo filho de Márcio França, o deputado estadual Caio França (PSB) e pelo prefeito de São Vicente, Pedro Gouvêa (MDB), também presente à reinauguração da ponte de Barreiros, na última sexta-feira. Esta visita de Bolsonaro a São Vicente, segundo foi dito durante o ato, foi articulada pela deputada federal Rosana Vale (PSB-SP).
É verdade que, algumas horas depois de postar a nota que transcrevemos acima, não a encontramos mais em seu Twitter. Pode ser que o ex-vice-governador tenha se arrependido do que pode ter sido um rompante.
Mas, nesse caso, melhor seria esclarecer a questão. Ninguém é obrigado a acertar sempre. Mas reconhecer um erro faz parte da grandeza de um político.
C.L.