Um incêndio de grandes proporções destruiu o Laboratório de Zoologia do Instituto de Biociência da Universidade Estadual Paulista (UNESP), na última quarta-feira (31), em Rio Claro, interior de São Paulo.
Conforme a UNESP, o fogo começou por volta das 16 horas no acervo do laboratório e se espalhou pelas outras instalações. O prédio foi rapidamente esvaziado e ninguém ficou ferido. A direção do instituto lamentou a perda de coleções inteiras de animais usados para pesquisa científica e a elevada monta dos prejuízos materiais.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo se iniciou no laboratório de zoologia, onde um acervo de animais é conservado em álcool, o que favoreceu a propagação das chamas. Os funcionários deram o primeiro combate ao fogo até a chegada dos bombeiros.
Em nota, a UNESP disse que a área atingida pelo incêndio abriga salas de aula, laboratório e salas de professores. “As causas do ainda estão sendo apuradas. Quando o fogo começou, as principais medidas de segurança foram tomadas e o espaço, prontamente evacuado sem que houvesse vítimas. Os bombeiros foram chamados e seguem no local tentando controlar o fogo, que se espalhou rapidamente. Há significativos prejuízos materiais, ainda sendo dimensionados”, disse.
O professor José Eusébio de Oliveira Souza Aragão, diretor do Instituto de Biociências, afirmou que o fogo destruiu coleções importantes para o ensino e a pesquisa.
“O incêndio se alastrou pela metade do prédio. As perdas maiores foram nas coleções de animais utilizados para pesquisas que estavam inclusive em um armário novo. Outros pequenos laboratórios também foram atingidos. Além do prejuízo para a ciência, o prejuízo financeiro também é alto”, disse.
Ele informou que a reitoria da UNESP vai dar apoio para recompor o que foi danificado. A extensão dos danos ainda será avaliada. A direção do câmpus informou que as aulas nas duas unidades universitárias da Unesp em Rio Claro, o Instituto de Biociências e o Instituto de Geociências e Ciências Exatas (IGCE), estão interrompidas por questões de segurança.
DESMONTE
A diretora de Cultura da União Estadual dos Estudantes (UEE) e integrante do Centro Acadêmico de Geografia do campus da Unesp de Rio Claro, Annebelle Rene Andria, afirmou em uma declaração ao HP que o sentimento no campus é de luto e revolta. Anne afirmou que os estudantes realizaram uma assembleia às 16h para a paralisação do campus.
“Estava na biblioteca quando o Laboratório de Zoologia, no Instituto de Biociências, começou a pegar fogo. Alguns professores e estagiários do laboratório tentaram apagar o fogo com os extintores, mas quando viram que sairia do controle, evacuaram o prédio rapidamente e acionaram o corpo de bombeiros. Logo a evacuação foi orientada por todo o campus. Saí da biblioteca e a cena doeu. Fogo no local onde eu passava todos os dias, onde eu ia tomar um cafezinho entre as aulas, onde ficavam exposição e pesquisas importantíssimas. Saindo do campus a ficha caiu aos poucos. Circularam diversos áudios de professores e pesquisadores desolados, vídeos deles tentando salvar livros e fazendo o possível para que nada fosse perdido. Infelizmente, pela quantidade alta de produtos inflamáveis nos laboratórios, o fogo se espalhou rapidamente e todos precisaram se retirar. Ficamos sem saber como estavam os 60 anos de pesquisa daquele instituto”, disse.
“Ontem doeu, doeu pela ciência, pela pesquisa e pelo grande descaso com as Universidades Públicas. Doeu saber que poderia ser evitado. Doeu ver os pesquisadores sem chão. O sentimento no campus é de luto e de revolta. O momento político em que vivemos é de desmonte e ataque à ciência e à educação. Esse incêndio é resultado do descaso e da negligência de quem tem nas mãos o poder de mudar as coisas e não muda, só piora”, lamentou Anne, emocionada.
PERDA CIENTÍFICA
Em um dos locais consumidos pelo fogo havia uma coleção didática de zoologia, iniciada na década de 60, com animais vertebrados e invertebrados.
“Além do prejuízo financeiro, que é de milhões, o principal prejuízo é o científico. Nós perdemos coleções de animais que eram utilizadas para pesquisa, para ensino de graduação e pós-graduação e extensão. E também equipamentos e pesquisas em andamento”, disse Aragão.
O professor de zoologia José Paulo Guadanucci explicou que a coleção didática de zoologia era um acervo criado na década de 1960 com animais in vitro, material que foi preparado por professores que aprenderam técnicas novas como de histologia, de taxidermia e esse material vinha sendo preservado e usado na formação de biólogos.
“Tinha peixe da Antártida, tinha um material em álcool em via úmida de Napoli do Mar Mediterrâneo, então animais marinhos tanto invertebrados como vertebrados eram usados em demonstrações de aulas práticas. Os alunos manipulam, observam sob microscópio e isso também foi perdido, além de laminário, material seco como concha de molusco e insetos, enfim, [perda] inestimável”, afirmou.
Os estudantes do campus estão se somando em uma força-tarefa para verificar o que foi perdido no incêndio, juntando todas as fotos possíveis e imagens realizadas pelos estudantes antes do ocorrido.
https://drive.google.com/drive/u/0/folders/19n0QMyfIWu151V5ka_t-WYr-NA5WVFdV