“Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo”, afirmou a ministra Marina Silva
Em coletiva de imprensa realizada nesta segunda-feira (26), o secretário Nacional de Proteção e da Defesa Civil, Wolnei Wolff, afirmou que 99,9% dos focos de incêndio no interior do estado de São Paulo foram causados por ação humana.
“Não houve raio e também não houve acidente de torres de alta tensão que justificasse esse início dos incêndios, 99,9% é atividade humana mesmo. O ser humano por algum objetivo acha que o fogo resolve o problema dele, mas não tem ideia de que pode perder o controle”, afirmou.
Ainda segundo Wolff, a Polícia Federal informou que, até domingo (25), 32 processos foram abertos para investigar possíveis incêndios criminosos no Brasil, sendo que dois desses foram no estado de São Paulo. O secretário também explicou que ainda não foi decretado estado de emergência estadual porque nem todos os pedidos dos municípios afetados foram concluídos oficialmente.
“O reconhecimento federal só é feito quando solicitado pelo governo do estado. No caso concreto ontem nós tínhamos a informação no nosso sistema que 51 municípios estavam sendo coletados pelo estado, hoje são 56, mas essas informações não foram completadas no sistema, concluídas pela Defesa Civil do estado, a gente não consegue agir em relação ao reconhecimento federal”, afirma.
Raoni Rajão, do Departamento de Controle do Desmatamento e Queimadas do Ministério do Meio Ambiente, afirmou também que o início dos incêndios causa “estranheza”, mas ainda não é possível cravar que houve uma ação coordenada. Segundo Raoni, os incêndios foram repentinos, mas em locais com longa distância.
Segundo o Ipam, a simultaneidade dos focos indica uma origem não natural, já que incêndios que ocorrem de forma natural tendem a começar em momentos diferentes, influenciados por fatores como umidade do solo, vegetação seca e condições climáticas.
Em meio à estiagem, calor extremo e incêndios que causaram transtornos e medo a moradores do interior de São Paulo, o estado registrou entre quinta-feira (22) e sexta-feira (23) 2.316 focos de fogo, número quase 7 vezes maior do que o registrado em todo o mês de agosto do ano passado, quando foram contabilizados 352 incidentes.
Os registros, segundo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), colocam São Paulo no topo da lista de incêndios do país no fim desta semana, inclusive à frente de estados da Amazônia Legal, que enfrentam uma temporada recorde de queimadas – com fumaça chegando a 10 estados, incluindo São Paulo e até o Rio Grande do Sul.
FOCOS NO MESMO HORÁRIO
Em entrevista ao podcast do g1 “O Assunto”, Ane Alencar, especialista em monitoramento de incêndios, reforça que essa coincidência de horários é um forte indício de interferência humana, já que em condições normais, o comportamento do fogo seria mais variado.
“O que nós vimos é que grande parte dos focos começaram a gerar fumaça mais ou menos no mesmo horário. E isso foi curioso”, explicou a especialista. “[E isso] indica que se não foram, se não se conversaram, tem uma coisa muito interessante acontecendo ali, onde todos os focos começaram mais ou menos na mesmo hora”, acrescentou.
Em meados de agosto de 2019, fazendeiros no Pará se articularam criminosamente para provocar queimadas ilegais em diversos pontos da região. Ao todo, foram 1.173 focos registrados no “Dia do Fogo”.
Aquele mês de agosto de 2019 foi marcado por queimadas recordes no bioma, fazendo até mesmo que a cidade de São Paulo visse o dia virar noite por causa da fumaça vinda de queimadas na região da Amazônia.
NOVO DIA DO FOGO
No domingo (25), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que os incêndios registrados no interior de São Paulo são atípicos e precisam ser investigados. Segundo Marina, a PF abriu dois inquéritos para apurar as causas das queimadas em São Paulo.
Agora, cinco anos depois, face ao fogo que atinge o estado de São Paulo e sufoca os moradores de regiões paulistas, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou, neste domingo (25), que os incêndios registrados em agosto de 2024 são atípicos e precisam ser investigados. A Polícia Federal abriu inquéritos.
“Do mesmo jeito que nós tivemos o ‘dia do fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo”, afirmou Marina Silva.
Ainda de acordo com o governador, as Forças Armadas continuam mobilizadas com o Corpo de Bombeiros para fazerem trabalhos preventivos nos 48 municípios que permanecem em alerta. Na avaliação de Tarcísio, três grandes fatores foram responsáveis pelo alastramento do fogo nos últimos dias: estiagem, altas temperaturas e ventos fortes: “Primeiro, de fato, é estiagem severa que se alastrou aí por muito tempo… O estado de São Paulo vem sofrendo. A gente já tinha vários municípios em situação de emergência.”
“Nós tivemos uma combinação explosiva de fatores: alta temperatura, ventos muito fortes e baixíssima umidade relativa do ar nesses últimos dias. Então, qualquer coisa poderia causar uma ignição”, completou.
O governo paulista estima que o prejuízo provocado ao estado devido às queimadas supere o valor de R$ 1 bilhão.
CIDADES EM ALERTA
A onda de incêndios deixou 48 cidades da região em alerta máximo para queimadas. Duas pessoas morreram e mais de 800 tiveram que deixar suas casas desde que o fogo começou, na sexta-feira (23), segundo dados do governo estadual.
Mais de 20 mil hectares já queimaram na região, que teve mais de 2.300 focos de incêndio em apenas três dias, de acordo com a Defesa Civil. Imagens de moradores de cidades afetadas mostram o céu coberto por uma camada de fumaça.
Foi o agosto com mais focos de incêndio da história do estado de São Paulo desde 1998.