“Índia de Bolsonaro não nos representa”, dizem caciques de 16 povos do Xingu

O-é Kayapó, líder da Associação Floresta Protegida (AFP), confirmou que a indígena levada por Bolsonaro à ONU não tem apoio entre as comunidades do Xingu. Foto: Agência Amazônia - BBC

Os caciques de 16 povos indígenas do Xingu divulgaram uma carta pedindo respeito à sua autonomia e criticando Bolsonaro por ter escolhido uma indígena não reconhecida como liderança para levar para a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

Sem consultar a liderança de nenhum dos povos indígenas do Xingu, Jair Bolsonaro escolheu Ysani Kalapalo para participar de sua comitiva para o evento da ONU, que está acontecendo em Nova York.

Para os caciques, essa atitude desrespeita a “autonomia de organização dos povos indígenas, de decisão e indicação de seus representantes em eventos nacionais e internacionais”.

Bolsonaro escolheu Ysani porque ela apoia seu governo, sua política anti-indigenista e nega que as queimadas na Amazônia, que em agosto foram as maiores dos últimos nove anos, tenham sido causadas por grileiros e latifundiários.

Em um de seus vídeos para o Youtube, Ysani afirma que os incêndios são causados pelos indígenas que queimam roças e por um fenômeno chamado “fogo de chão”, no qual o fogo apareceria espontaneamente.

O governo Bolsonaro, “não se contentando com os ataques aos povos indígenas do Brasil, agora quer legitimar sua política anti-indígena usando uma figura indígena simpatizante de suas ideologias radicais com a intenção de convencer a comunidade internacional de sua política colonialista e etnocida”, afirmam os caciques.

“Ofende as lideranças indígenas do Xingu e do Brasil ao dar destaque a uma indígena que vem atuando constantemente em redes sociais com o objetivo único de ofender e desmoralizar as lideranças e o movimento indígena do Brasil”.

Através da carta, os povos Aweti, Matipu, Kamaiurá, Kuikuro, Kisedje, Ikpeng, Yudjá, Kawaiweté, Kalapalo, Wauja, Yawalapiti, Trumai, Nafukuá, e Mehinako “reafirmam seu direito de autonomia de decisão através de seu próprio sistema de governança composto por todos os principais caciques dos povos xinguanos”.

“Não aceitamos e nunca aceitaremos que o governo brasileiro indique por conta própria nossa representação indígena sem nos consultar através de nossas organizações e lideranças reconhecidas e respaldadas por nós”, concluíram. 

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