
Índia repele chantagem da Otan e duplos padrões, reiterando que segurança energética e desenvolvimento econômico são metas primordiais do país
Diante da ameaça proferida pelo secretário-geral da Otan, Mark Rutte, contra os compradores de petróleo russo, o ministro do Petróleo e Gás Natural da Índia, Hardeep Singh Puri, sublinhou que a Índia deveria ser aplaudida por comprar o petróleo russo ou então os preços globais do petróleo, teriam disparado, e defendeu a importância do petróleo russo para a segurança energética e o desenvolvimento econômico indiano.
“Devemos ser aplaudidos por comprar petróleo russo”, afirmou Puri durante um evento do setor em Nova Delhi na quinta-feira (17), depois de apontar que os preços poderiam muito bem ter atingido “US$ 130 a US$ 140 o barril” se a Índia tivesse colocado um ponto final na compra de petróleo russo.
No mesmo sentido, o porta-voz da chancelaria indiana, Randhir Jaiswal, repeliu os “padrões duplos” e reiterou que “as necessidades energéticas de nosso povo são compreensivelmente uma prioridade primordial para nós”.
Ao lado da China e do Brasil, a Índia foi citada como alvo de sanções secundárias após os 50 dias anunciados por Trump em relação à Ucrânia.
“Se você é o presidente da China, o primeiro-ministro da Índia ou o presidente do Brasil, e continua a negociar com a Rússia e comprar petróleo e gás, então você sabe: se o homem em Moscou não levar a sério as negociações de paz, vou impor sanções 100% secundárias”, disse o abusado enfeite da Otan, durante o “ultimato teatral” da terça-feira passada na Casa Branca, onde os vassalos europeus foram informados, na hora, que irão ter de pagar pelas armas americanas entregues ao regime de Kiev.
O ministro indiano observou que nas próximas duas décadas “25% do crescimento global na demanda por petróleo virá da Índia”. Ele acrescentou que a Rússia é um dos principais fornecedores e produz cerca de 9 bilhões de barris de petróleo por dia. “Isso é cerca de 10% da produção e consumo global por dia”, destacou Puri.
Sancionar os suprimentos russos, conforme previsto pela Otan e pelos EUA, ele reiterou, levaria a duas possibilidades. “O mundo inteiro consome 10% menos. Algumas pessoas não terão aquecimento no inverno, algumas não terão ar condicionado no verão, algumas pessoas não terão transporte. Portanto, a redução de 10% no consumo não é uma coisa fácil.”
“A outra coisa é que, dos 90% restantes, você tenta comprar mais. Você sabe o que isso faria com os preços. Os preços que estavam aqui vão disparar”, assinalou Puri.
O ministro disse que, nesse cenário, de acordo com sua própria análise, os preços podem chegar a US$ 130 a US$ 140 o barril. “Devemos ser aplaudidos por comprar petróleo russo”, afirmou Puri.
Ele lembrou que o petróleo russo nunca foi submetido a sanções, mas apenas a um “teto de preço”.
“Não hesito em admitir que estou feliz em comprar abaixo de um limite de preço. O limite de preço me faz comprar o petróleo mais barato. Mas de qualquer forma, eu tenho um sistema simples. Meus OMCs (Oil Marketing Companies) estão sentados aqui, eles lançam licitações para uma importação. Quem puder fornecer um determinado tipo de petróleo bruto no momento, quem for o mais barato, receberá a licitação”, explicou o ministro indiano.
Ele disse que a Índia estava comprando energia russa conforme começou a se tornar disponível, o que o disse ser do interesse da “segurança energética” do país.
“Eu compro US $ 20 bilhões em energia de uma fonte específica. Eles são atores globais. Serei culpado por ser responsável por algumas de suas ações? Não. Da mesma forma, compro energia da Rússia. Se a Rússia realizasse uma operação em outro lugar, tenho certeza… quando comecei a comprar, foi uma consequência de que a energia ficou disponível”, afirmou.
Durante a conversa, Puri também se referiu aos padrões duplos da União Europeia, ao pedir à Índia que cortasse as importações de energia russa, enquanto ainda continuava a comprá-las. “Chegando ao GNL russo, a UE é o maior comprador, comprando 51% das exportações de GNL da Rússia, seguida pela China e pelo Japão. A UE foi o maior comprador, comprando 37% do gás de gasoduto da Rússia, seguida pela China e pela Turquia”, completou.