Em outro golpe para o domínio do dólar, a Índia e os Emirados Árabes Unidos fecharam um acordo de comércio de petróleo sem converter as moedas locais em dólares pela primeira vez na segunda-feira, quando a principal refinaria da Índia fez um pagamento pelo petróleo em rúpias, registrou o portal Zero Hedge. A Indian Oil Corp. comprou um milhão de barris de petróleo da Abu Dhabi National Oil Company em uma transação livre de dólares.
A venda de petróleo foi a primeira depois que os dois países assinaram um Memorando de Entendimento (MoU) em julho. O acordo estabeleceu o sistema de Liquidação em Moeda Local (LCS), facilitado pelo Banco da Reserva da Índia e pelo Banco Central dos Emirados Árabes Unidos.
O sistema permite que os dois países realizem comércio bilateral usando a rupia e o dirham. De acordo com uma declaração do Reserve Bank of India, o acordo facilitará “transações e pagamentos transfronteiriços contínuos e promoverá uma maior cooperação econômica”.
O primeiro teste do LCS envolveu a venda de 25 kg de ouro de um exportador de ouro dos Emirados Árabes Unidos para um comprador na Índia por cerca de 128,4 milhões de rúpias (US$ 1,54 milhão). De acordo com WIONews indiano , o sistema LCS reduzirá custos e agilizará as transações entre os dois países.
Além disso, espera-se que a dependência de moedas nacionais reforce a resiliência econômica e fortaleça as relações bilaterais. “Além disso, quaisquer saldos excedentes nas moedas locais podem ser investidos em vários ativos locais, incluindo títulos corporativos, títulos do governo e mercados de ações.”
A Índia, que é o terceiro maior importador de petróleo do mundo, também comprou petróleo da Rússia usando moedas diferentes do dólar. A propósito, a Índia, que depende da importação de 80% do petróleo que consome e que antes só comprava 2 a 3% da Rússia, passou a ter a Rússia como seu maior fornecedor.
Se a tendência de transações sem dólar se expandir para outros países, a minimização do dólar no comércio global de petróleo seria uma má notícia para os Estados Unidos, observa o ZH. Tal como está, a maioria das vendas globais de petróleo é cotada em dólares. Isso garante uma demanda constante pelo dólar, já que todos os países precisam de dólares para comprar petróleo, fonte essencial de energia.
O que ajuda a sustentar as políticas de “emprestar e gastar” do governo dos EUA, junto com seus enormes déficits, aponta o portal. Enquanto o mundo precisar de dólares para o petróleo, isso garante a demanda por dólares. O que significa que o Federal Reserve pode continuar imprimindo dólares para monetizar a dívida.
O processo foi assim descrito pelo ZH: “Um dos principais pilares dos últimos 40 anos, e uma âncora sustentando o status de reserva do dólar, foi um sistema financeiro global baseado no petrodólar – este era um mundo em que os produtores de petróleo venderiam seus produtos para os EUA (e o resto do mundo) por dólares, que eles então reciclariam os rendimentos em ativos denominados em dólares e enquanto investiam em mercados denominados em dólares, sustentavam explicitamente o dólar como moeda de reserva mundial e, no processo, sustentavam a posição dos EUA como a superpotência financeira indiscutível do mundo.”
E, em paralelo, poderia se acrescentar ao oportuno comentário, permitindo pagar a máquina de guerra dos EUA e suas 800 bases no exterior, parte essencial de sua dominação unipolar.
Simplificando, a desdolarização diminuiria drasticamente o poder econômico dos EUA. E a Índia não é o único país se afastando do dólar.
SAUDITAS TAMBÉM
Em janeiro, o ministro das Finanças da Arábia Saudita, Mohammed Al-Jadaan, disse que o país está aberto a discutir o comércio em outras moedas além do dólar americano.
“Não há problemas em discutir como estabelecemos nossos acordos comerciais, seja em dólares americanos, seja em euros, seja em riais sauditas”, disse Al-Jadaan em entrevista à Bloomberg TV.
Al-Jadaan continuou dizendo: “Não acho que estamos descartando qualquer discussão que ajude a melhorar o comércio em todo o mundo”.
A Arábia Saudita vende petróleo exclusivamente por dólares desde 1974 sob um acordo com o governo Nixon. Se os sauditas se afastarem do dólar e venderem petróleo em outras moedas, outros países provavelmente seguirão o exemplo devido à influência do país no mercado global de petróleo.
CASTELO DE CARTAS
Embora a tendência de desdolarização ainda não ameace diretamente o papel do dólar como moeda de reserva mundial – o comentário é do ZH – pode-se prever problemas maiores no futuro, “especialmente se a tendência continuar a se acelerar”. Após a invasão russa da Ucrânia, o diretor-gerente do FMI, Gita Gopinath, alertou que as sanções à Rússia poderiam corroer o domínio do dólar ao encorajar blocos comerciais menores a usar outras moedas. “É exatamente isso que estamos vendo”, diz ZH.
Para o articulista, se a demanda por dólares caísse significativamente, as taxas de juros dos títulos do Tesouro dos EUA disparariam. Esta seria uma situação “insustentável” para um governo pagando mais de US$ 32 trilhões em dívidas.
Para concluir, ZH registra que “parece haver uma probabilidade crescente de o petrodólar enfrentar a concorrência de outras moedas. Este é mais um sinal de que o dólar pode eventualmente perder seu status de única moeda de reserva. Os americanos devem ter cuidado ao contar com o domínio do dólar a longo prazo para sustentar sua economia de castelo de cartas”.