
Ministros das Relações Exteriores da Índia e da Rússia revertem entraves impostos por Trump e anunciam aumento de 100% no comércio entre os dois países nos próximos cinco anos, além da superação de desequilíbrio
Índia e Rússia acertaram aumentar seu comércio anual para US$ 100 bilhões nos próximos cinco anos – um crescimento de 100% – superando entraves impostos pelo governo Trump à crescente cooperação entre os dois países. “Nosso comércio bilateral está hoje em torno US$ 50 bilhões. Isso torna a meta de atingir US$ 100 bilhões até 2030 mais do que realista”, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, durante visita a Moscou para participar do Fórum Empresarial Índia-Rússia.
A medida foi confirmada na quinta-feira (21), no encontro do ministro do Exterior da Rússia, Lavrov e o indiano.
Na oportunidade, Jaishankar enfatizou a necessidade de que as duas potências ampliem seus laços comerciais, promovam joint ventures adicionais entre suas empresas e realizem reuniões mais frequentes para resolver questões como sistemas de pagamento, que necessitam ser agilizados.
A Rússia é o quarto maior parceiro comercial da Índia, enquanto a Índia é o segundo maior da Rússia, com a Índia registrando um forte déficit comercial desde que começou a importar petróleo bruto de seu parceiro de longa data.
O ministro indiano destacou setores como medicamentos e produtos farmacêuticos, agricultura e têxteis, argumentando que eles poderiam ajudar a resolver o atual desequilíbrio comercial. A reunião também abordou medidas para garantir o fornecimento de fertilizantes a longo prazo.
Jaishankar observou ainda que trabalhadores indianos qualificados em tecnologia da informação, construção e engenharia poderiam atender à demanda por mão de obra na Rússia e aprofundar a cooperação bilateral.
As discussões na reunião incluíram iniciativas de conectividade, como os corredores internacionais de transporte Norte-Sul, o corredor marítimo oriental Chennai-Vladivostok e a cooperação na rota do Mar do Norte.
Para aumentar o comércio, a Índia e a União Econômica Eurasiática (EAEU), liderada pela Rússia, assinaram Termos de Referência em Moscou para iniciar negociações sobre um Acordo de Livre Comércio (ALC).
“PARCEIROS CONFIÁVEIS E ESTÁVEIS”
“Estamos todos perfeitamente cientes de que estamos nos reunindo em meio a uma situação geopolítica complexa. Nossos líderes permanecem estreita e regularmente engajados”, assinalou Jaishankar, frisando que a incerteza global coloca novamente a necessidade de “parceiros confiáveis e estáveis”. “Reafirmamos a ambição compartilhada de expandir o comércio bilateral de forma equilibrada e sustentável, inclusive aumentando as exportações da Índia para a Rússia”, enfatizou.
A declaração é uma resposta as recentes medidas adotadas por Trump para punir a Índia por suas compras de petróleo russo, que dispararam após o início da guerra com a Ucrânia em 2022. Depois que suas exportações de petróleo para a Europa entraram em colapso, a Rússia recorreu à Índia, oferecendo grandes descontos.
Como retaliação, Trump impôs uma tarifa de 25% sobre produtos indianos, sob a alegação de que as compras de petróleo ajudam a financiar a “máquina de guerra” do presidente russo Vladimir Putin. Não satisfeito, o governo dos Estados Unidos ameaçou elevar ainda mais as tarifas sobre a Índia, aumentando para 50%, taxa alta o suficiente para garantir que as exportações indianas deixem de ser competitivas.
Em resposta, Nova Délhi disse que tem o direito de comprar petróleo da fonte mais barata, chamando as tarifas norte-americanas de “irracionais”.
No início deste mês, a Índia também suspendeu os planos de comprar armas e aeronaves militares dos EUA. “A Índia planejava enviar o ministro da Defesa, Rajnath Singh, a Washington nas próximas semanas para um anúncio sobre algumas das compras, mas a viagem foi cancelada”, declararam duas fontes à Reuters.
Na semana passada, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi assegurou durante as celebrações anuais do 78º Dia da Independência no Forte Vermelho de Nova Délhi seu compromisso com a autossuficiência energética do país e o desenvolvimento de seus próprios sistemas de defesa.