Feito da espaçonave Chandrayaan-3 ocorre em meio à realização da cúpula do BRICS. “Este sucesso pertence a toda a humanidade”, diz o primeiro-ministro Modi
A Índia se torna a primeira nação no mundo a pousar com sucesso uma espaçonave no polo sul da Lua, a Chandrayaan-3, uma grande conquista para a ciência indiana e para os BRICS, cuja cúpula ocorre em Johannesburgo. O pouso ocorreu por volta das 9h33 desta quarta-feira (23), horário de Brasília.
“A Índia conseguiu pousar com sucesso. A Índia está na Lua. Estamos na Lua”, festejou a Organização de Pesquisa Espacial Indiana (ISRO).
“Este é um momento sem precedentes. Este é o momento para uma nova Índia em desenvolvimento”, comemorou Narendra Modi, primeiro-ministro do país, que ingressou na sede de controle da missão virtualmente desde a África do Sul, onde participa da cúpula do BRICS.
“A bem-sucedida missão lunar da Índia não é só da Índia… Este sucesso pertence a toda a humanidade”, acrescentou Modi. O pouso bem-sucedido faz da Índia o quarto país a chegar à Lua, depois dos Estados Unidos, da União Soviética e da República Popular da China.
A missão lunar indiana foi lançada em 14 de julho e entrou na órbita lunar em 5 de agosto. O módulo de pouso Vikram separou-se da estação em 17 de agosto, que realizara anteriormente duas manobras para diminuir sua órbita. Vikram trouxe um rover chamado Pragyan com uma duração de bateria de 14 dias terrestres ou um dia lunar.
A corrida ao Pólo Sul lunar se deve à descoberta anterior de sinais de depósitos de gelo de água na região, ao mesmo tempo em que, por estar do ‘lado oculto’, é constantemente iluminado pelo Sol, o que significa que painéis solares podem ser colocados ali para gerar energia para futuras missões e pode ser obtido oxigênio e hidrogênio a partir dos depósitos de água.
“Ainda precisamos de muito mais detalhes sobre onde e quanto de água existe, e saber se toda ela está congelada”, disse à BBC Akash Sinha, professor de robótica espacial na Universidade Shiv Nadar University, perto de Delhi.
Acredita-se que a água tenha chegado à Lua por meio de cometas, portanto, ao analisá-la, os cientistas poderiam “descobrir algo novo sobre a história da Lua, bem como as leis fundamentais do Universo”, explicou o cientista russo Aleksandr Bloshenko.
No domingo (20), a missão Luna-25 da Rússia saiu de controle e se chocou contra a Lua. Em abril deste ano, o Japão tentou enviar a sonda ispace, mas perdeu a comunicação minutos antes de completar o pouso. A agência espacial russa Roscosmos parabenizou a Índia pelo sucesso do pouso da espaçonave Chandrayaan-3 na Lua. “A exploração da Lua é importante para toda a humanidade, no futuro ela pode se tornar uma plataforma para a exploração do espaço profundo”, disse a Roscosmos em um comunicado.
À Sputnik Índia, o cientista TV Venkateswaran, do Departamento de Ciência e Tecnologia de Vigyan Prasar, disse que o Vikram “ousou com sucesso na cratera lunar. Agora, a estação ISRO está recebendo sinais do módulo. Vikram tem um sensor ativo que envia sinais para a Terra.”
“Temos que esperar pelas fotos por um tempo, pois após o pouso haverá poeira e, assim que a poeira baixar, o Pragyaan Rover clicará na foto de Vikram e, em seguida, Vikram tirará uma foto de Pragyaan.”
A exploração da superfície das regiões polares da Lua, compostas de rochas e solo, também pode dar respostas sobre a formação do Sistema Solar.
A confirmação da existência de água é fundamental para a definição dos programas de estabelecimento de bases habitadas na Lua em fase de preparação.
OLHOS VOLTADOS PARA O CÉU
Milhões de indianos mantinham os olhos voltados para o céu para o pouso do Chandrayaan-3, com muitos mantendo os dedos cruzados ou orando, acrescentou a Sputnik. Orações e recitais foram realizados em várias partes do país, incluindo Nova Delhi, Calcutá, Mumbai e Varanasi. Universidades e instituições de ensino superior organizaram transmissões e assembleias para assistir ao pouso na lua ao vivo.
A Índia lançou três missões à Lua em 15 anos. O Chandrayaan-1 foi lançado em 2008, com 11 instrumentos científicos e orbitou a Lua a uma altura de 100 km para mapeamento químico, mineralógico e fotogeológico. Depois de completar todos os objetivos primários da missão com sucesso, a órbita foi elevada para 200 km em maio de 2009. No entanto, a comunicação com Chandrayaan-1 foi perdida em agosto de 2009, mas a missão atingiu 95% de seus objetivos.
Chandrayaan-1 também criou o primeiro mapa de água presa na camada superior do solo da Lua e confirmou a presença de água lá.
A segunda missão da Índia à Lua, Chandrayaan-2, lançada em 2019, cumpriu a maioria dos seus objetivos, mas a sonda não conseguiu fazer uma aterragem suave de um modulo que levava a bordo.
Outra característica do programa lunar indiano é o baixo custo. A missão da Chandrayaan-2 de 2019 custou US$ 140 milhões, enquanto a primeira, de 2009, custou em torno de US$ 79 milhões.
A Chandrayaan-2 custou pouco mais de US$ 80 milhões, graças a não ser preciso enviar um novo orbitador. A agência espacial indiana reativou o orbitador da missão anterior, cuja vida útil foi prorrogada para sete anos, que está fornecendo todas as comunicações entre o módulo de pouso, o rover e o centro de controle.