A defesa do general Mario Fernandes, indiciado pela Polícia Federal por urdir os assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes e um golpe para manter Bolsonaro no poder, disse que a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro age como “promotora” ao tentar passar a culpa para o general e outros militares.
Paulo Cunha Bueno, que defende Jair Bolsonaro, disse que o complô “Punhal Verde e Amarelo”, que previa os assassinatos, disse que os generais Mario Fernandes, Braga Netto e Augusto Heleno seriam os únicos beneficiários do crime.
Essa declaração causou irritação na defesa dos militares aliados de Bolsonaro e, como parte de uma estratégia conjunta, ficaram em silêncio nos depoimentos.
O advogado de Mario Fernandes, Marcus Vinícius, disse que a colocação de Cunha Bueno “é irresponsável. Ele é advogado de defesa ou promotor? Está atuando como promotor. Como faz isso? Me causa perplexidade”.
Para defender Jair Bolsonaro, Cunha Bueno tentou jogar a culpa sobre os militares e distorcer o que o próprio documento do “Punhal Verde e Amarelo” dizia.
Na versão da defesa de Jair, “quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação (…) e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro. Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso”.
“Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo, em dando certo esse plano terrível (…), não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, falou.
A defesa de Jair se refere ao “Gabinete de Crise” que estava previsto para ser criado no dia 16 de dezembro, um dia depois dos assassinatos de Lula, Alckmin e Moraes.
O órgão, que seria presidido pelo general Augusto Heleno, que era chefe Gabinete de Segurança Institucional (GSI), teria a participação de Braga Netto e Mario Fernandes.
A defesa de Jair Bolsonaro, para tentar livrar seu cliente da acusação, optou por omitir que o plano dizia com todas as letras que o objetivo do Gabinete de Crise seria “proporcionar ao Presidente da República maior consciência situacional das ações em curso a fim de apoiar o processo e tomada de decisão”.
Além disso, o grupo deveria “acompanhar as ações estabelecidas no Decreto Presidencial” que instalaria a ditadura.
O decreto citado pelo “Punhal Verde e Amarelo” seria, na visão dos investigadores, “exatamente o ato que consumaria o golpe de Estado, elaborado pelo então presidente Jair Bolsonaro e seu núcleo jurídico e que foi rechaçado pelo Comando do Exército e da Aeronáutica, fato que impediu a consumação da ruptura institucional”.
Bolsonaro também não cita que seu assessor e homem de confiança, Filipe Martins, seria o assessor de Relações Internacionais do órgão.
“TODO MUNDO TEM UM CHEFE”
O advogado Luiz Eduardo Kuntz, que representa os ex-assessores de Bolsonaro Marcelo Câmara e Tércio Arnaud Tomaz, afirmou que “todo mundo tem um chefe”.
Segundo a defesa, os dois “não tiveram poder decisório na trama” e aparecem como “coadjuvantes de um roteiro”. Kuntz informou que a defesa negará a autoria, por parte de ambos, dos fatos apontados pela PF.
Enquanto assessor direto de Bolsonaro, Marcelo Câmara é apontado pela Polícia Federal como membro do “núcleo de inteligência paralela” e é acusado de ter monitorado Alexandre de Moraes, passando informações para Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair.
O monitoramento tinha como objetivo a prisão imediata de Moraes quando da assinatura do decreto presidencial que instalaria uma ditadura.
A versão apresentada pela defesa é que o “monitoramento” identificado pela PF em mensagens era, na verdade, uma tentativa de realizar uma reunião secreta entre Moraes e Bolsonaro.
Já Tércio Arnaud Tomaz é citado como membro do núcleo de fake news e ataques contra as urnas eletrônicas. Segundo o relatório da Polícia Federal, foi ele quem editou, para viralizar “cortes” nas redes sociais, a gravação da live do argentino Fernando Cerimedo, na qual foram disseminadas diversas fake news sobre o processo eleitoral brasileiro.