O conflito fundiário entre indígenas e ruralistas, no Mato Grosso do Sul, que já dura 23 dias, fez mais vítimas nos últimos dias. Em novo confronto armado, que começou na noite de domingo (4) e se estendeu até a madrugada desta segunda-feira (5), seis pessoas ficaram feridas.
Segundo o governo federal, os ruralistas promoveram o novo ataque após a divulgação de fake news nas redes sociais. Nas publicações, afirmava-se que os indígenas haviam invadido fazendas.
No último sábado (3), pelo menos dez pessoas ficaram feridas, sendo duas delas em estado grave. De acordo com o g1, cinco indígenas foram atingidos com arma de fogo e munição de borracha e precisaram ser encaminhados ao Hospital da Vida, em Dourados (MS).
No final da tarde deste domingo (4), perfis ruralistas nas redes sociais começaram a divulgar notícias falsas, as fake news (veja print abaixo), afirmando que os Guarani e Kaiowá “invadiram” mais fazendas em Douradina (MS), indo além das sete retomadas em que já se encontram dentro dos limites da Terra Indígena Lagoa Panambi.
A fake news foi o estopim para que, no começo da noite, entre 18 e 19 horas, mais um ataque contra os indígenas tivesse início, desta vez na retomada Yvy Ajere. Nem sequer a presença de órgãos de governo intimidou os criminosos.
“Vão cavar covas aqui pra jogar a gente tudo dentro. Pode fazer isso. Se querem Guarani e Kaiowá fora daqui, matem a gente. Enterrem aqui e aí podem plantar soja por cima. Essa é a vontade do governo? Isso é o que quer a Justiça? Então façam isso logo, matem a gente tudo. Jagunçada atira na gente, destrói o pouco que temos e a Força Nacional só olha, governo vem aqui e não faz nada. Saiam daqui, desgraçados! É a nossa terra e estão caçando a gente feito animal. Só quero fazer saber que vamos morrer aqui”, declarou um indígena ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Segundo o CIMI, “a Força Nacional está no local, mas conforme observadores externos e os próprios indígenas, os agentes se mantiveram atrás da linha de ataque dos jagunços sem esboçar qualquer reação para impedir as agressões aos indígenas”.
Ainda de acordo com apuração do CIMI, com tratores e caminhonetes, os jagunços avançaram na noite de domingo. Foram do acampamento em que estão para a área retomada, a poucos metros, sobreposta pela fazenda de Cleto Spessato, arrendada para um homem conhecido como ‘Baiano’, apontado pelos indígenas como um dos mais agressivos contra a comunidade.
“Barracos, pertences e símbolos da cosmologia Guarani e Kaiowá foram destruídos e incendiados, parte também da tática de ataque da jagunçada mobilizada”, afirmou o CIMI.
Os Ministérios da Justiça e Segurança Pública, dos Povos Indígenas e dos Direitos Humanos, e também o Ministério Público Federal, montaram uma força-tarefa para acompanhar a situação dos indígenas Guarani Kaiowá, atacados por grupos armados na Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, em Douradina, no Mato Grosso do Sul.
O secretário-executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, disse que pediu explicações ao Ministério da Justiça e Segurança Pública sobre a retirada da Força Nacional do local. Também pediu que fosse garantida a permanência do efetivo no território, para evitar outros casos de violência.
A Terra Indígena Lagoa Panambi foi identificada e delimitada em 2011. Um ataque já havia ocorrido no local na sexta-feira (02/08), sem ferir os indígenas. Pelas redes sociais, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, considerou o ataque aos indígenas inaceitável depois que a Força Nacional deixou o local, e disse não tolerar violência e intimidação contra aqueles que lutam por suas terras e seus direitos.