Os índios da aldeia kamayurás, no Xingu, relataram à revista Época que a filha adotiva da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, foi levada irregularmente da reserva indígena no norte de Mato Grosso.
Na verdade, pelo que contam os índios, a menina Kajutiti Lulu Kamayurá, então com 6 anos, foi sequestrada.
Lulu, hoje com 20 anos, é apresentada pela ministra como sua filha adotiva, mas a adoção nunca foi formalizada legalmente, como a própria ministra já admitiu em entrevistas.
Segundo a reportagem, os índios contaram que a menina era criada pela avó paterna, Tanumakaru, até que chegaram à aldeia Damares Alves e a amiga que é braço direito da ministra, Márcia Suzuki, se apresentando como missionárias. Eles relatam que a menina foi levada por Márcia Suzuki sob o pretexto de fazer um tratamento dentário, e nunca mais retornou.
“Chorei, e Lulu estava chorando também por deixar a avó. Márcia levou na marra. Disse que ia mandar de volta, que quando entrasse de férias ia mandar aqui. Cadê?” Questionada sobre se sabia, no momento da partida de Lulu, que ela não mais retornaria, foi direta: “Nunca”, contou a avó.
A ministra e Márcia, na época, já estavam à frente da ONG Atini, fundada por elas, que é conhecida, inclusive dentro da Funai, por incitar o ódio à cultura e aos costumes indígenas. Em 2013, Damares afirmou em um culto que além de Lulu ter sido salva do infanticídio e ter sido maltratada pela miséria dos kamayurás, a menina seria escrava do próprio povo.
A irmã do Pajé Kamayará, Mapulu, também confirmou a versão do sequestro da menina: “Márcia veio na Kuarup (festa tradicional em homenagem aos mortos), olhou os dentes todos estragados (de Lulu) e falou que ia levar para tratar”.
Os repórteres contam que, enquanto ainda estavam no Xingu foram procurados pela ministra que, via WhatsApp, disse: “à disposição para responder às perguntas (…) sobre nossas crianças, sobre minha filha e sobre as famílias”. “Não temos nada a esconder. Mas insisto: tratem tudo com o olhar especial para estes povos, para as mães e crianças que sofrem”.
No entanto, procurada pela revista em Brasília, ela se recusou a dar entrevista e respondeu apenas parcialmente a 14 questionamentos.
Perguntada por que não devolveu a criança à aldeia, Damares disse: “Lulu Kamayurá já retornou à aldeia. Ela deixou o local com a família e jamais perdeu contato com seus parentes biológicos.” A questão sobre não ter adotado formalmente Lulu foi ignorada.
Os índios, por sua vez, dizem que a primeira visita de Lulu só aconteceu há cerca de dois anos.
A adoção de uma criança indígena, ou mesmo a guarda ou a tutela, precisa passar pelo crivo da Justiça Federal e da Justiça comum, e ainda pelo aval da Funai.
O processo inclui também estudos psicossociais, que devem analisar os vínculos entre a criança e o adotante e a anuência da família mais extensa da criança, que no caso dos indígenas é a aldeia.