Nesta terça-feira (2) o porta-voz da Autoridade Nacional de Gestão de Desastres (BNPB) da Indonésia, Sutopo Purwo Nugroho, atualizou para 1.234 o número de mortes causadas pelo terremoto e tsunami na ilha de Celebes, durante nova coletiva de imprensa transmitida pelo canal Kompas TV.
Até o dia anterior, a segunda-feira (1) , o número de mortos estava em 844 mas com expectativas de que esse número podia ainda crescer quando os agentes de resgate chegassem a locais de difícil acesso, devastados por um tremor de magnitude 7,5 na sexta-feira (28) e por um tsunami logo em seguida de até seis metros de altura.
Segundo relatos, dezenas de pessoas estão presas nos escombros de vários hotéis e um shopping center na pequena cidade de Palu, 1.500 quilômetros a nordeste de Jacarta. Teme-se que centenas mais estejam soterradas por deslizamntos de terra que engoliram vilarejos inteiros.
Existe uma preocupação específica com Donggala, região de 300 mil habitantes situada ao norte de Palu e próxima do epicentro do terremoto, e dois outros distritos onde a comunicação foi interrompida.
Na cidade de Palu, capital provincial, 17 mil pessoas estão desabrigadas, há dezenas de desaparecidos e centenas de feridos, destroços se espalham por toda parte, os hospitais não dão conta e boa parte do atendimento é feito em tendas. Um shopping center, uma mesquita, um hotel e uma ponte foram destruídos, bem como milhares de casas. A eletricidade e comunicações foram cortadas. O atual e ex-prefeito de Palu também estão entre os mortos, segundo a Cruz Vermelha. Equipes de socorro e médicas, aviões militares com suprimentos e soldados continuam chegando para o resgate.
O presidente da Indonésia, Joko Widodo, foi a Palu no domingo para supervisionar os trabalhos e avaliar de perto a situação. Aos militares que já lá estão ajudando nos resgates e no atendimento à população, ele convocou: “estou pedindo a todos vocês que trabalhem dia e noite para completar todas as tarefas relacionadas à evacuação”. “Quero ver eu mesmo e assegurar-me de que a resposta ao impacto do terremoto e do tsunami chega a todos os nossos irmãos”, ele havia postado no twitter antes de deixar Jacarta. Do mundo inteiro, chegam mensagens de solidariedade e ofertas de ajuda.
O porta-voz da Agência de Gestão de Desastres da Indonésia, Sutopo Purwo Nugroho, estimou em 2,4 milhões de pessoas afetadas. Avaliação ainda mais dificultada porque eletricidade e comunicações estão cortadas e as estradas estão severamente danificadas ou bloqueadas por deslizamentos de terra. Ainda não há dados sobre a devastação em Donggala, de 300 mil habitantes, na entrada da baía atingida pelo terremoto e tsunami, a segunda maior cidade atingida.
Fotos que receberam confirmação de autenticidade pelas autoridades mostraram corpos sendo alinhados ao longo da rua em Palu no sábado, alguns em sacos e outros com os rostos cobertos com roupas. Quando o tsunami chegou, ao anoitecer de sexta-feira, centenas de pessoas aguardavam na praia turística de Talise o início de um festival e muitas foram varridas pelas águas.
Conforme o órgão indonésio, o tsunami viajou pelo mar aberto a uma velocidade de 800 quilômetros por hora antes de alcançar a entrada estreita da longa baía onde fica Palu. O primeiro terremoto, de magnitude 5,9 na escala Richter, foi seguido por outro, de magnitude 7,5 e epicentro localizado a 10 km de profundidade e 80 km ao norte de Palu. As ondas chegaram a até 6 metros de altura, mas em meio ao pânico algumas pessoas se salvaram subindo em árvores.
Jan Gelfand, que chefia a delegação da Cruz Vermelha Internacional na Indonésia, afirmou que as pessoas em Sulawesi estão precisando “desesperadamente de água, comida e atendimento médico”. A Cruz Vermelha está tentando conseguir clínicas móveis, equipes cirúrgicas e cozinhas de campanha para a região. “Há uma necessidade enorme e acho que ainda não vimos o pior”, assinalou, preocupado com o que será encontrado em Donggala, que fica mais próxima ao epicentro do terremoto.
As equipes de socorro se desdobram para tentarem encontrar sobreviventes. Elas escavaram a mão para libertar 24 pessoas presas nos escombros do hotel Roa-Roa, em Palu. “O que agora precisamos desesperadamente é de maquinário pesado para limpar os escombros. Tenho minha equipe no terreno, mas é impossível confiar apenas em sua força para fazer isso”, disse à AFP Mohamed Syaugi, chefe da Agência Nacional de Busca e Resgate. Outro sobrevivente foi retirado das ruínas de um restaurante.
Também atingido pelo terremoto, o aeroporto de Palu está fechado para vôos comerciais, operando apenas com os aviões da ajuda na pista que restou. Um controlador de vôo morreu ao ficar dentro da torre de controle do aeroporto em meio ao terremoto até um vôo de passageiros completar a decolagem com segurança, em ato de heroísmo que está comovendo os indonésios. Todos já haviam deixado o prédio. Quando ele pulou para deixar o local, quebrou as pernas e sofreu lesões internas e morreu no hospital dos ferimentos.
Em Palu, a orientação das autoridades é que as pessoas não voltem ainda para suas casas como precaução. Uma mulher relatou à AFP que “a cada minuto uma ambulância traz corpos” e que a água potável “é escassa”. Há relatos de saque de minimercados por sobreviventes desesperados por alimentos. Persiste o medo por causa dos tremores secundários que não cessam. Famílias continuam chegando aos abrigos ao ar livre para atendimento, carregando os poucos pertences que puderam pegar em mochilas e sacolas.
Localizada no chamado Círculo de Fogo do Pacífico, a Indonésia, um dos países mais populosos do mundo, com 260 milhões de habitantes, é frequentemente afetada por terremotos por estar localizada no ponto de encontro de quatro placas tectônicas continentais. Já ocorreram terremotos em Palu em 1927, 1968 e, agora, 2018. O país ainda se recuperava dos terremotos de agosto, que mataram mais de 430 pessoas na ilha de Lombok.