Juros altos e inadimplência afastam os compradores. Apesar da queda nas vendas, as multinacionais não arredam pé dos sobrepreços de monopólio
Em um cenário de consumo retraído por conta dos juros altos, queda na renda e elevada inadimplência, as montadoras de veículos instaladas no país estão paralisando a produção de suas fábricas para dar conta do estoque em excesso. De acordo com reportagem do Estadão, os estoques de veículos das montadoras atingiram, nos primeiros dois meses de 2023, o maior volume dos últimos três anos.
O aumento do volume de automóveis encalhados nos pátios das montadoras é representado pelos resultados das vendas: no primeiro trimestre, logrou o segundo pior resultado dos últimos 17 anos, só acima do mesmo período de 2022 – quando a indústria automotiva ainda colhia os resultados da pandemia e da restrição de ofertas de peças. A análise de dados foi feita a partir de relatório da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).
O setor atribui a falta de compradores aos juros – que encarecem a produção, inviabiliza financiamentos e contribui para o alto índice de endividamento das famílias.
Ao divulgar a Carta da Anfavea de abril, na segunda-feira (10), com os resultados do setor no mês de março, a entidade ressaltou que “apesar da melhora dos números de março, a produção acumulada no primeiro trimestre está cerca de 50 mil unidades abaixo dos níveis pré-pandemia”.
De janeiro a março foram produzidos 538 mil autoveículos, apenas 8% a mais do que o mesmo período do ano passado, quando a crise dos semicondutores estava no auge. No primeiro trimestre, o volume de produção de veículos pesados desabou.
Para o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, se no ano passado a falta de componentes teve um peso grande para o setor, “agora há outros fatores provocando férias coletivas, como o resfriamento da demanda”.
As vendas no trimestre, de 472 mil unidades, uma alta de 16,3% sobre o mesmo período do ano passado, “poderia significar sinais de recuperação”, diz a Anfavea em nota, “mas, na verdade, a base de 2022 é muito baixa”.
Com o desempenho abaixo do previsto, o setor começou abril com quase 204 mil veículos em estoque, número que chega perto ao volume de abril de 2020, quando a pandemia começou.
FÁBRICAS PARADAS
Ao menos 12 das 27 fábricas de carros e caminhões do país já interromperam ou vão interromper ao menos parte da produção, indica a reportagem.
Exemplos disso são as paralisações de fábricas divulgadas recentemente, como a que produz caminhões da Volkswagen em Resende. A empresa decidiu suspender contratos de trabalho, o chamado layoff, por três meses a partir de maio.
Outros anúncios foram das fábricas da Mercedes-Benz, Scania e Volvo, que estão fechando turnos de trabalho ou reduzindo o volume diário de produção.