
“O que explica esse cenário são as taxas de juros elevadas, que reduziram a demanda por produtos industriais. Isso, agora, está impactando no emprego”
Em agosto deste ano, diante das quedas na produção, emprego, utilização da capacidade instalada e desânimo das expectativas, a indústria brasileira atingiu seu “pior desempenho para o mês nos últimos 10 anos”, afirmou a Confederação Nacional da Indústria (CNI), na última quinta-feira (18).
“O que explica esse cenário são as taxas de juros elevadas, que reduziram a demanda por produtos industriais. Isso, agora, está impactando no emprego”, declarou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo. “A sondagem industrial de agosto reforça um quadro negativo para a indústria, que já vem sendo verificado há algum tempo pelos empresários”.
Em agosto, houve quedas na produção (caiu para 47,2 pontos) e no número de empregados (recuou para 48,4 pontos) na comparação com julho, ante ao mês anterior. “O que normalmente não acontece no período”, destaca Marcelo Azevedo.
Os indicadores de sondagens da CNI variam de 0 a 100 e são separados pela linha divisória de 50 pontos. Ou seja, quanto mais distante da linha de corte, em direção ao zero, maior e mais disseminado é o recuo.
O resultado de evolução da produção industrial de agosto é o mais baixo para o mês em dez anos, desde que o indicador marcou 42,7 pontos em 2015.
“Normalmente nos últimos anos, sobretudo, a gente vê um crescimento da atividade”, chama a atenção Azevedo. “A produção, inclusive, teve uma queda bastante considerável nessa comparação de julho para agosto na visão dos empresários. Houve uma queda na utilização da capacidade instalada nessa mesma comparação de julho para agosto, percentual que fica abaixo do verificado nos últimos anos”, ressalta o economista.
Na passagem de julho e agosto de 2025, a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) da Indústria retraiu de 71% para 70%. Esse é o menor percentual observado desde agosto de 2024 (72%), mas idêntico ao de agosto de 2023 (70%).
A CNI também informou que, neste mês de setembro, os índices de expectativa de demanda e de compra de insumos e matérias primas recuaram de 0,8 ponto, para 52,3 pontos, enquanto o segundo caiu para 51,3 pontos.
A expectativa de números de empregados até subiu, 0,3 pontos, totalizando 49,6 pontos, mas se mantém abaixo da linha divisória de 50 pontos. Assim como de quantidade exportada, que se manteve inalterada (46,6 pontos) em setembro.
“Esse cenário negativo, que é explicado em boa parte pelas altas taxas de juros”, reforça o analista da CNI, “já vem sendo carregado desde o início do ano e com o tempo a gente consegue perceber cada vez mais uma piora nos índices de atividade e agora também nos índices de emprego e nas expectativas para os próximos seis meses”.
Na última quarta-feira (17), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu permanecer com o nível da taxa básica de juros (Selic) em 15% ao ano.
Após a reunião, a CNI afirmou que “a manutenção de taxa de juros estratosférica é injustificada e agrava sufoco da indústria”. Para a entidade da indústria, a “decisão do Banco Central ignora sinais claros de desaceleração da atividade econômica e queda da inflação, conjuntura que demanda urgência na redução de juros para evitar prejuízos maiores à economia e aos trabalhadores”.