
“A Indústria e varejo ampliado, com mercados mais dependentes do crédito e dos níveis de juros, são os que desaceleraram mais”, alerta o instituto sobre a economia no primeiro trimestre
O Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) avalia que no primeiro trimestre de 2025 o cenário econômico brasileiro já reflete os impactos da política monetária restritiva adotada pelo Banco Central (BC) para frear o crescimento da economia. “Em comparação com o início do ano passado, todos os grandes setores da economia assinalaram moderação de seu ritmo de crescimento no 1º trim/25, sintoma da elevação da taxa de juros que vem sendo feita pelo Banco Central”, destacou o Iedi no dia 15 de maio.
“A Indústria e varejo ampliado, com mercados mais dependentes do crédito e dos níveis de juros, são os que desaceleraram mais”, completou o instituto, ao apontar que, no primeiro trimestre deste ano a indústria cresceu +1,9% o que é menor que a alta de +3,1% registrados no último trimestre de 2024, enquanto o varejo saiu de +3,3% para +1,1% frente ao mesmo período do ano anterior.
Por sua vez, o crescimento do setor de serviços foi de +3,8% no quarto trimestre de 2024 para +2,4% nos primeiros três meses deste ano, “na comparação interanual, mas os dados de curto prazo apontam deterioração adicional (-0,2% com ajuste)”, alertou o instituto.



De acordo com análise do Iedi, em artigo publicado na última semana, a indústria que contribuiu fortemente para o crescimento econômico do ano passado, nos primeiros meses de 2025 já apresenta perda de dinamismo em três dos quatro grandes segmentos da indústria e em 68% dos ramos analisados. “A parcela de ramos no vermelho também dobrou de 16% no 4º trim/24 para 32% no 1º trim/25”, destacou o Iedi.
Leia a seguir o artigo na íntegra:
PERDA DE TRAÇÃO INDUSTRIAL
No primeiro trimestre de 2025, a indústria brasileira seguiu crescendo, mas a um ritmo mais modesto, refletindo a mudança para uma conjuntura de taxas de juros elevadas. A desaceleração do setor, já presente no final do ano passado, foi reforçada nos primeiros meses de 2025 e ganhou amplitude, ainda que o resultado de março, isoladamente, não tenha sido ruim.
No acumulado em jan-mar/25, a produção industrial registrou +1,9% na comparação interanual, bem menos do que os +3,9% do 3º trim/24 e +3,1% do 4º trim/24. Muito desse resultado deveu-se ao mês de março, que teve alta de +3,1% ante mar/24 e de +1,2% na série com ajuste sazonal, após dois meses seguidos de estabilidade.
No trimestre como um todo, o resultado favorável de mar/25 não conseguiu evitar uma perda de tração em três dos quatro macrossetores industriais e em 68% dos ramos acompanhados pelo IBGE. A parcela de ramos no vermelho também dobrou de 16% no 4º trim/24 para 32% no 1º trim/25.
A produção de bens de capital, que, após um longo período negativo, entre meados de 2022 e início de 2024, vinha crescendo a taxas de dois dígitos (+14,2% no 4º trim/24), registrou +5,2% em jan-mar/25, com a desaceleração de bens de capital para transporte, indústria, energia e, principalmente, de bens de capital de uso misto, que ficaram virtualmente estagnados.
Este macrossetor também foi o único a não se sair bem em mar/25, quando o agregado da indústria progrediu em relação aos meses anteriores, como já mencionado. Sua produção caiu -0,7% frente a fev/25, já descontada a sazonalidade, e -0,2% em contaste com mar/24.
É um sinal do peso da elevação das taxas de juros no país e também das incertezas crescentes no período, em especial, devido aos efeitos das mudanças no comércio mundial promovidas pelo protecionismo dos EUA. Isso reforça o quadro de perda de fôlego do investimento neste início de ano.
A produção de bens de consumo duráveis, também sensível ao nível dos juros, teve desaceleração mais acentuada naqueles itens que demandam um comprometimento maior do orçamento das famílias ou mais endividamento. São os casos de automóveis (de +14,1% no 4º trim/24 para +8,7% no 1º trim/25) e eletrodomésticos da linha branca (de +20% para +5,1%). O segmento de móveis também deixou de crescer a taxas de dois dígitos.
Apesar disso, os bens de consumo duráveis seguem sendo o macrossetor que mais cresce, com uma desaceleração moderada do 4º trim/24 (+17,25) para o 1º trim/25 (+11,6%).
Já nos bens intermediários, o resultado caiu pela metade do final de 2024 (+2,8% em out-dez) para o início de 2025 (+1,3% em jan-mar), em boa medida devido ao ramo automobilístico (de +19,7% para +9,6%). Outros fatores foram a perda de dinamismo de insumos para a construção civil, siderurgia e embalagens e o declínio da produção de celulose e de insumos derivados de petróleo.
Por fim, o único macrossetor a melhorar de situação em relação ao último trimestre do ano passado, mas sem retomar o vigor prevalecente na maior parte de 2024, foi o de bens de consumo semi e não duráveis, que registrou +0,6% em jan-mar/25 ante -0,2% em out-dez/24. A melhora veio da produção de combustíveis, mas também se apoiou na relativa resiliência do abate de suínos e aves e do setor farmacêutico.
O mês de mar/25, a despeito do avanço na produção, também foi acompanhado de redução dos estoques, o que pode contribuir para uma continuidade da expansão nos meses seguintes. Segundo a CNI, apenas 20% dos setores apontavam existência de estoques excessivos. O problema é que a demanda também pode ter se enfraquecido, o que explicaria a deterioração da avaliação dos empresários industriais da situação corrente dos negócios de abr/25, nos indicadores tanto da CNI, como da FGV e do PMI Manufacturing.