Condições do povo não param de piorar
42% da população adulta está inadimplente, aponta levantamento do SPC
Dessa vez até o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), declarou que a derrubada no emprego com carteira assinada, em junho, nada teve a ver com a greve dos caminhoneiros. Pelo contrário, disse Tiago Barreira, do Ibre-FGV, as demissões na indústria e no comércio “não correspondem à recuperação econômica” alardeada pelo governo. As demissões, disse Barreira, “vão muito além dos efeitos da greve dos caminhoneiros”.
Foram 20.470 demissões (já descontadas as admissões) na indústria de transformação e 20.971 demissões no comércio.
Somente no comércio e indústria, portanto, foram 41.441 demissões em um único mês.
O resultado é do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), estatística oficial do Ministério do Trabalho para registro da atividade do mercado de trabalho formal – ou seja, com carteira assinada.
O resultado geral (611 demissões) é pouco significativo – pois reflete as admissões sazonais na agricultura, onde o Caged registrou 40.917 postos de trabalho a mais.
O mais relevante é que a farsa da “recuperação econômica” foi desmoralizada. Agora, com a sua variante, a de que tudo estava maravilhoso antes da greve dos caminhoneiros. Logo, tudo era culpa dos caminhoneiros e da sua greve – não importa o quê.
Um economista de uma consultoria, Thiago Xavier, da Tendências, apontou que, no primeiro trimestre, a média do emprego com carteira assinada estava negativa “em 15 mil e agora está negativa em 20 mil, pelos dados dessazonalizados”.
Segundo o seu cálculo, se corrigidas as diferenças devidas à época do ano, o saldo do Caged em junho “foi negativo em 70 mil vagas, na série dessazonalizada, após saldo negativo de 7 mil em maio. Desde o começo do ano, já havia sinais de piora”.
A questão é que os adeptos da falsa recuperação tentaram estribar-se na greve dos caminhoneiros para fugir da derrubada de sua própria invenção.
Mas isso tornou-se insustentável. Tudo o que pode ser dito é que houve algumas oscilações, mas sempre no fundo do poço, ou seja, a depressão permanece – e irá permanecer, enquanto não mudar a política econômica.
O que tornou-se óbvio para a maioria das pessoas: basta ver os índices de Meirelles nas pesquisas eleitorais.
Não houve sujeito que mais alardeou a suposta “recuperação” do que Meirelles. Não houve sujeito tão apresentado como “fiador” dessa “recuperação” do que Meirelles.
No entanto, suas preferências eleitorais são tão ridículas – para quem foi propagandeado, maciçamente, como o condestável e gênio (?!) da economia – que revelam o fracasso de toda essa ridícula campanha.
Na segunda-feira, “O Globo” saiu com a seguinte manchete: “País só vai superar a recessão em 2020, prevê FGV”.
Obviamente, se continuar a atual política, nem em 2020.
Mas não é isso o mais importante, nesse caso.
Acontece que o jornal que mencionamos – e os outros órgãos de comunicação do mesmo grupo – estiveram entre os primeiros (talvez os primeiros) a tocar fanfarras pela “recuperação” de Meirelles. Sua principal comentarista econômica repetiu inúmeras vezes que a recessão ficara para trás, logo acompanhada por suas versões subsidiárias – aquelas senhoritas que aparecem na “Globo News”.
Agora, nesta manchete, se reconhece que o país ainda está em recessão – e que tão cedo não vai “superar” essa recessão. A previsão é atribuída à FGV, mas isso também é uma mudança: a própria FGV, sob gerência neoliberal, também garantia, até há pouco, que estávamos em plena “recuperação”.
Não existe nenhuma necessidade econômica de que a recessão se estenda até 2020, o que significariam seis anos de crise, de destruição das forças produtivas, em especial, as energias do trabalho nacionais.
Obviamente, quem não consegue conceber outra política econômica que não seja a monstruosidade atual, tem que, em suas previsões, esticar a crise até ao infinito no tempo – ou inventar “recuperações”.
Mas é claro que uma política de aumento dos investimentos públicos, de baixa dos juros, de aumento do salário real e dos empregos – portanto, expansão do mercado interno – e proteção da indústria nacional, da iniciativa estatal e privada não-monopolista, pode tirar-nos do abismo atual em pouco tempo.
O resultado do Caged em junho, de certa forma, ao acabar com farsas e ilusões, abre o caminho nesse sentido, ao revelar, ainda que não inteiramente, qual é a realidade.
Reforma Trabalhista
Em vigor desde novembro do ano passado, a Reforma Trabalhista, colocada em prática por Temer, já mostra o impacto sobre o emprego formal. Os contratos de trabalho de jornada plena estão sendo substituídos por contratos de horas (a chamada jornada intermitente). Em junho, o Caged computou 2,7 mil registros líquidos a mais de contratados com jornada reduzida e instável. O resultado disso são salários e direitos arrochados.
O salário médio de admissão em junho, por exemplo, foi de R$ 1.534,69, enquanto a média de demissão foi de R$ 1.688,25. Isso significa que houve uma queda de R$ 12,26 no salário de admissão na comparação com o mês anterior.
Na prática, além de rasgar os direitos conquistados pela CLT, a “reforma” afrouxa a fiscalização sobre as contratações e facilita as demissões – ao contrário de “modernizar as relações de trabalho” e “aquecer o mercado”, como o governo diz.
PRISCILA CASALE