Em média, a expectativa de vida caiu 1,5 anos (78,8 para 77,3). A queda, no entanto, não foi igual para todos: os hispânicos apresentaram 3 anos de queda, os negros 2,9, enquanto que entre os brancos a perda foi de 1,2 anos
A média da expectativa de vida nos EUA caiu um ano e meio nos últimos 18 meses, conforme dados liberados na quarta-feira (21) pelo governo federal norte-americano.
Segundo os dados, a expectativa de vida no período que vai do início do segundo semestre de 2019 até o final do ano de 2020 caiu de 78,8 para 77,3 anos. Essa queda foi desproporcional, não aconteceu por igual nas diversas camadas da população. Entre os hispânicos a queda foi de 3 anos, enquanto que entre os negros foi 2,9 anos e de 1,2 entre os brancos.
A queda na expectativa de vida foi a maior desde a Segunda Guerra Mundial e foi causada principalmente pela inépcia do governo de Donald Trump que, atolado no negacionismo, levou à morte de 600 mil norte-americanos no período.
Como observou a Dra. Mary Basset, ex-secretária de Saúde da cidade de Nova Iorque e professora em Saúde e Direitos Humanos da Universidade de Harvard, “o coronavírus desnudou as profundas desigualdades quanto ao acesso à saúde, coisa que não superamos”.
Para ela, o fato de que a vacinação se acelerou com o novo governo “não significa que essas perdas serão, com isso, superadas. Isso é mero pensamento sem embasamento”.
Entre os fatores apontados para essa disparidade entre as diversas populações há diferenças entre o acesso a cuidados médicos para os brancos, hispânicos e negros. Além disso, os negros e hispânicos que compõem a maior parte dos trabalhadores com menor escolaridade estão mais condicionados a tomar transporte para ir ao trabalho – enquanto que entre os brancos a proporção dos empregados em sistemas de home office é maior – assim como a proporção é também diferenciada entre os que trabalham em serviços denominados de ‘linha de frente’, a exemplo de garçons e cozinheiros, motoristas de ônibus, trabalhadores em limpeza e garis.
Além das mortes, há ainda os efeitos para as populações mais atingidas, efeitos que ainda vão perdurar quando a crise da pandemia estiver superada. “Se fosse apenas a pandemia, bastaria que ela viesse a estar sob controle para que retomássemos grande parte das perdas”, afirma a Dra. Elizabeth Arias, uma das pesquisadoras que produziu o informe.
“Podemos seguir vendo os efeitos indiretos da pandemia durante algum tempo adiante”, acrescentou a Dra. Arias.
A questão é que muitos dos norte-americanos cujos parentes morreram na pandemia estão vivendo dolorosas perdas.
É o caso de Denise Chandler, de Detroit, mulher negra, mãe de oito filhos, que se tornou máe-chefe de família após perder o pai e o marido para a pandemia.
“Eu vejo muitas crianças órfãs e muitas mulheres sem seus maridos”, declarou Denise.
Ela própria teve que ficar sem trabalhar por um ano para ajudar seus filhos a se recuperarem das perdas. Ainda agora, seus filhos, diz ela, ainda imploram para que ela não saia para trabalhar com medo de que ela fique doente e também a percam.
Denise também denuncia que o hospital da sua região, é de qualidade “inferior aos padrões” e que foi para lá que seu marido, Richard, de 35 anos, foi levado acometido do vírus. “Se ele fosse branco, não teria ido parar naquele hospital”, diz ela.