Em fevereiro o IPCA ficou em 1,01%, maior taxa para o mês desde 2015. Nos últimos 12 meses, o que mais pesou na alta da inflação, de modo geral, foram os combustíveis, que acumulam avanço de 33,33%, segundo o IBGE
Ainda sem contabilizar o explosivo aumento nos preços dos combustíveis anunciado esta semana pelo governo Bolsonaro, a inflação oficial do país em fevereiro medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,01%. É a maior taxa para o mês desde 2015. Em 12 meses, a alta acumulada é de 10,54%.
O índice divulgado nesta sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não contabiliza o aumento de 18,8% no preço da gasolina e de 24,9% do diesel, divulgados pela direção da Petrobrás na quinta-feira (10), justificado pela alta da cotação do barril de petróleo no mercado internacional provocado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
Responsável pela disparada dos preços, Bolsonaro diz que não tem nada com isso, que não tem como interferir nos preços dos combustíveis – que mantém atrelados ao dólar e ao barril do petróleo, culpa os governadores, o ICMS, e faz jogo de cena de quem está muito preocupado, provavelmente com sua reeleição. A alta da inflação no governo Bolsonaro foi impulsionada pela disparada nos preços -, que ele dolarizou – dos combustíveis e dos alimentos. E em plena pandemia. Assim como os combustíveis, os preços da carne bovina, do arroz, do feijão, do óleo de soja, dispararam, tirando da mesa do brasileiro até o tradicional cafezinho (em doze meses, acumula alta de 61,19%!), e Bolsonaro pregava a troca de feijão por fuzil.
E nada teve ou tem a ver com a pandemia ou o conflito entre Rússia e Ucrânia. Enquanto grande parcela da população brasileira empobrece e busca comida na “fila dos ossinhos”, 9os acionistas da Petrobrás enriqueceram: foram transferidos R$ 101 bilhões em dividendos para os acionistas, maioria estrangeiros. Com o fim dos estoques reguladores pelo governo Bolsonaro, os preços no mercado interno ficaram à mercê dos preços do mercado internacional e faltou comida na mesa do brasileiro. As exportações de carne, soja, frango, continuaram bombando.
Nos últimos 12 meses, o que mais pesou na alta da inflação, de modo geral, foram os combustíveis, que acumulam avanço de 33,33%, diz o IBGE. Em doze meses até fevereiro, a gasolina acumula alta de 32,62%, o diesel de 40,54% e o etanol de 36,17%.
Como o preço dos combustíveis tem impacto direto não só sobre o consumo – mas também sobre a produção e fretes dos mais variados produtos – podemos esperar uma disparada ainda mais severa e generalizada dos preços, em meio a um elevado número de desempregados, subempregados, endividados e com a renda desabando.
“Quando se tem uma alta no diesel e na gasolina, isso acaba tendo um efeito disseminado na economia como um todo, afetando transporte e frete, e também de outros setores, e isso acaba gerando uma alta de preços em vários produtos e serviços que compõem o IPCA”, destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov, acrescentando que os combustíveis tem um peso de 7,73% na composição do índice de inflação do país.
PREÇO DOS ALIMENTOS EM DISPARADA
Outra pressão importante para a composição do IPCA do mês passado veio do aumento de preços do grupo de Educação, com variação de 5,61% no mês passado. O aumento se deve ao reajuste das mensalidades e custos do material escolar.
Os demais avanços vieram do grupo de Habitação – aqui está incluído aluguéis, o preço do gás de cozinha e da energia elétrica, por exemplo. O gás de botijão acumula alta de 27,63% em 12 meses, por exemplo, enquanto o preço da energia elétrica já subiu 29%.