Inflação oficial encerrou o ano em 4,52%, maior alta desde 2016
Puxada pelo preço dos alimentos, a inflação oficial do país registrou em 2020 um avanço de 4,52% – o maior desde 2016. Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA) foram divulgados nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A inflação acumulada no ano passado extrapolou a meta do governo, de 4% nos 12 meses, e também surpreendeu as expectativas do mercado financeiro, que previa 4,37% de acordo com o último boletim Focus, do Banco Central.
No ano marcado pela pandemia e por recordes no desemprego, a pressão de 14,09% de aumento no conjunto de alimentos e bebidas tornou ainda mais difícil a vida das famílias brasileiras. Esse foi o maior aumento em 18 anos.
Segundo o IBGE, os alimentos responderam sozinhos por quase metade da inflação do ano, com um impacto de 2,73 pontos percentuais sobre o índice geral.
No decorrer dos meses, os preços do arroz, óleo de cozinha, feijão e outros itens indispensáveis da cesta básica estamparam manchetes. Com a produção sendo direcionada para as exportações aprovaitando a onda de alta de preços internacionais, o governo federal nada fez para conter a crise ou regular preços.
Os preços do óleo de soja (103,79%) e do arroz (76,01%) dispararam no acumulado do ano passado. Outros itens importantes na cesta das famílias também tiveram altas expressivas, como o leite longa vida (26,93%), as frutas (25,40%), as carnes (17,97%), a batata-inglesa (67,27%) e o tomate (52,76%).
CONTA DE LUZ MAIS CARA
Depois da alimentação, o segundo maior impacto sobre a inflação de 2020 partiu do segmento habitação, que acumulou alta de 5,25% no ano. Segundo o IBGE, esse aumento foi influenciado, sobretudo, pela alta no custo da energia elétrica (9,14%), outra tarifa que deveria ser administrada.
Já o terceiro maior impacto partiu de artigos de residência, que acumularam alta de 6% no ano.
O IBGE destacou que, em conjunto, os grupos de alimentação e bebidas, de habitação e de artigos de residência responderam por quase 84% da inflação de 2020.
INFLAÇÃO ACELERA EM DEZEMBRO: MAIOR DESDE 2003
Apenas em dezembro, houve aumento de 9,34% nas tarifas de energia elétrica – contribuindo para que a inflação do mês disparasse 1,35%, a mais alta desde 2002.
“Tivemos dez meses consecutivos de bandeira tarifária verde, e em dezembro a gente teve a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que tem custo adicional de R$ 6,24 a cada 100 kw/h consumidos. Essa mudança tarifária contribuiu bastante para esse resultado de alta de 9,34% no mês da energia elétrica”, destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
SERVIÇOS EM QUEDA
A inflação de serviços fechou 2020 com alta acumulada de 1,73%, a menor da série histórica. Para o IBGE e analistas, esse movimento é uma resposta da crise do setor – o mais impactado pela pandemia do coronavírus
Na passagem de novembro para dezembro, a inflação de serviços avançou 0,83%. Para o gerente da pesquisa, contudo, essa aceleração não reflete recuperação de demanda.
“Ainda não dá para falar em aquecimento de demanda (em serviços), há ainda muita incerteza. A gente nota uma aceleração de novembro para dezembro, mas pode ser uma sazonalidade do fim de ano. A gente tem que aguardar para ver se isso vai se manter, observando a questão do auxílio emergencial, por exemplo. E há também toda a questão da saúde pública e da vacinação”, ponderou.
SEM EMPREGO, SEM AUXÍLIO EMERGENCIAL E NOVOS REAJUSTES
Com os preços nas alturas e o desemprego atingindo mais de 14 milhões de pessoas, as perspectivas são de que o início de 2021 seja muito difícil para os brasileiros, a despeito da suposta recuperação propagandeada pelo governo.
Além disso, o IBGE destaca que os aumentos represados em 2020 por conta da pandemia devem ser compensados este ano e fazer a inflação pesar ainda mais no bolso.
“Tivemos muitos reajustes represados em 2020 por causa da pandemia e que podem vir a impactar o índice de janeiro, caso venham a ser aplicados”, disse Kislanov.