Frente à queda da renda das famílias, as vendas da indústria de leite longa vida recuaram 3,5% no ano passado, para 6,7 bilhões de litros, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Lácteos Longa Vida (ABLV).
Tal resultado ruim só foi visto em 2018, quando a greve dos caminhoneiros prejudicou o transporte. Ainda assim, naquele ano, o recuo foi de 2%.
“Com a diminuição da renda da população e a alta dos preços das matérias-primas, o ano de 2021 representou um grande desafio para a indústria de alimentos e para a cadeia láctea em particular”, resume o presidente da ABLV, Laércio Barbosa, ao jornal Valor.
A carestia dos preços trazida pelo governo Bolsonaro, somada à queda abrupta da renda do trabalhador, outro feito desta má gestão, os brasileiros estão deixando de consumir itens básicos, como produtos derivados do leite. Segundo uma pesquisa do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga), quase 10% dos consumidores deixaram de comprar iogurte, queijo, entre outros laticínios nos últimos meses.
Em 12 meses até março, o Leite Longa Vida acumula alta de 14,53%, superando a inflação oficial do país – medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, que fechou em alta de 11,30% para o mesmo período analisado.
A alta da inflação no Brasil é provocada, principalmente, pelos preços que são administrados pelo governo federal, como gasolina (alta de 27,48% em 12 meses), do óleo diesel (alta de 46,47% em 12 meses), gás de cozinha (alta de 29,56%, em 12 meses) e da energia (alta de 28, 52% em 12 meses).
No mês passado, o preço do leite pago ao produtor teve uma elevação de 3,3% em relação a fevereiro e chegou a R$ 2,21 – o maior valor para um mês de março, de acordo com a série histórica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da USP, iniciada em 2004.
Para os consumidores finais, nesta semana, na capital paulista, era possível encontrar a caixinha de leite acima dos R$ 5 nas gôndolas dos supermercados da cidade.
Em Minas Gerais, principal Estado produtor de leite do país, o preço médio pago ao produtor saltou de R$ 2,13 por litro na primeira quinzena para R$ 2,42 na segunda quinzena de fevereiro, uma alta de 13,9%, de acordo com os dados do Cepea.
Para este ano, a indústria de lácteos já prevê dificuldades na compra da principal matéria-prima, o leite cru, diante das condições do clima que não foram favoráveis, além da alta generalizada dos insumos, sobretudo os relacionados à alimentação animal. Alinha-se isso aos custos do frete – pressionado pela alta do diesel (46,47% em 12 meses), o preço do leite deve se manter em patamares elevados nos próximos meses, penalizando ainda mais os consumidores.