Inflação na meta desmascara pretexto do BC para seguir asfixiando o país

Protesto contra os juros altos em frente à sede do Banco Central. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Arquivo Agência Brasil

Boletim Focus estima inflação em 4,46% no ano e mantém Selic em 15%. Juro real sobe e economia desacelera

Os bancos voltaram a reduzir a estimativa de inflação de 2025, que caiu de 4,55% para 4,46%, segundo o Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), nesta segunda-feira (17).  No entanto, mesmo com a inflação esperada entrando dentro do intervalo do teto de 4,5%, o “mercado” manteve a previsão da Selic (taxa de juros básica da economia) em 15% este ano.  

A mediana das previsões dos bancos e demais rentistas para a Selic está em 15% há praticamente 5 meses (21ª semana consecutiva), com a expectativa de inflação em queda, fazendo com que a taxa real ultrapasse os 10% ao ano. Como efeito negativo, a economia brasileira desanimou e, segundo cálculos do próprio BC, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresentou um recuo de 0,9% no terceiro trimestre deste ano, com os principais setores produtivos, indústria (1-%) e serviços (-0,3%) registrando recuos no período. 

O resultado oficial do PIB deste período será divulgado em 4 de dezembro pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo indicador.  No segundo trimestre, o PIB cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre de 2025, o que foi bem abaixo da alta de 1,3% do primeiro trimestre deste ano.   

Em 2024, o PIB do Brasil havia subido 3,4%, após ter crescido 3,2% no ano anterior. A expectativa do mercado para 2025 é de um crescimento de 2,16%. Na semana passada, o governo revisou para baixo a previsão de crescimento do PIB para 2,2% este ano, ante previsão de 2,3% em setembro. 

“O ritmo de atividade seguiu em desaceleração no terceiro trimestre, repercutindo o alto patamar dos juros reais (…) Essa desaceleração já era esperada, e repercute efeitos defasados e cumulativos da política monetária restritiva em vigor [taxa Selic elevada]”, reclamou o Ministério da Fazenda. 

O juro alto encarece o crédito aos consumidores e empresas, reduzindo o consumo e os investimentos no país. Ele também cria obstáculos para renegociação de dívidas, além de aumentar as despesas do Estado com o pagamento dos juros da dívida pública, que deve bater R$ 1 trilhão no final deste ano. 

O arrocho monetário está sendo mantido com o “mercado” sinalizando uma tendência de queda nas expectativas de inflação. Para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador de inflação oficial do Brasil, de outubro, por exemplo, as projeções giravam entre 0,10% a 0,20%.  O índice mensal anunciado pelo IBGE, na última terça-feira (11), foi de 0,09%, o menor índice para um mês de outubro desde 1998, quando foi registrado alta de 0,02%.  

De janeiro a outubro deste ano, a inflação acumula alta de 3,73%. Dois dias após a divulgação do IPCA, o banco Itaú divulgou que reduziu a projeção de inflação para 2025, que caiu de 4,6% para 4,5%, mas que segue projetando um corte na Selic só em janeiro de 2026.   

INSANIDADE

Na quarta-feira passada, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, disse que os dados mostram que a economia brasileira “está desacelerando, crescendo a taxas menores”, mas que a taxa de juros deve permanecer num patamar restritivo por um período bastante prolongado, por que o BC entende que tem que perseguir o centro da meta de inflação do governo, que é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,50% a 4,50%. 

Para desmotivar qualquer esperança de que haverá cortes de juros neste ano. “O comando legal está claro. A meta [de inflação] é 3%, e o Banco Central vai perseguir esta meta de 3%. É isso que nós estamos fazendo”, disse Galípolo, em coletiva à imprensa, agindo como se a política monetária estivesse presa a questões meramente técnicas e não uma decisão política, como também critica até o tucano e ex-senador da República, José Serra.  

“As indicações de convergência do índice para a parte interna das bandas de variação em torno dos 3% da meta são inequívocas. E, convenhamos, apostar tudo numa meta de 3% de inflação, mesmo com a turbulência com que o mundo tem convivido, é uma insanidade”, escreveu em artigo recente. 

“Por favor, não venham com a ladainha de que o Banco Central é um organismo meramente técnico. É da natureza da política monetária que ela seja uma política do Estado […] A decisão do Banco Central sobre os juros, em novembro, indica que o País parece ter feito uma opção pela estagnação”, disse Serra, em seu texto intitulado, “A nova velha Selic e a opção pela estagnação”.  

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