A inflação na “porta da fábrica” disparou e acumula em doze meses até novembro alta de 19,69%. A maior elevação da série iniciada em dezembro de 2014, segundo o Índice de Preços ao Produtor (IPP), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na terça-feira (5). O IPP acompanha as variações de preços dos insumos adquiridos pela indústria de transformação de 23 setores e da indústria extrativa, excluindo impostos e fretes.
Em novembro, o IPP registrou alta de 1,39% em relação ao mês de outubro. No ano, a taxa acumula um aumento de 18,92%. Segundo o IBGE, o maior impacto para a formação do indicador no mês de novembro foi de alimentos.
A indústria de alimentos como um todo pesa em torno de 25% do IPP e durante a pandemia da Covid-19 os preços dispararam ao longo do ano passado. No acumulado do ano, de janeiro a novembro, a alta é de 32,01%. Em doze meses, o aumento é de 35,19%, segundo o IPP.
As cadeias alimentares derivadas de cada uma dessas matérias primas fizeram os preços explodirem nos supermercados. O setor da fabricação de alimentos foi fortemente impactado pelos aumentos da soja, trigo, leite, carnes, entre outros, puxado pelas vendas para o exterior na esteira do aumento do dólar durante o ano e pela inércia do governo Bolsonaro que nada fez para impedir a especulação e disparada nos preços dos alimentos para o consumidor.
Houve altas de preços em 19 das 24 atividades avaliadas e as que tiveram as maiores variações percentuais no acumulado do ano foram: indústrias extrativas (47,23%), alimentos (32,01%), metalurgia (31,83%) e madeira (31,07%). No acumulado em 12 meses as quatro maiores variações de preços ocorreram em indústrias extrativas (43,52%), alimentos (35,19%), metalurgia (31,08%) e madeira (29,92%).
A Indústria extrativista, com a expressiva participação do segmento de óleo e gás, com elevado grau de dependência de insumos importados, apresenta a maior variação na composição do índice. Ainda que em novembro tenha tido uma variação negativa de 2,05% sobre outubro, em relação a setembro teve um aumento de 9,71%.
A fabricação do setor identificado na pesquisa de “outros produtos químicos” tiveram seus insumos, que depende de importações, as respectivas altas: no acumulado do ano até novembro, de 23,04%, e em doze meses, alta de 20,90%.
O recrudescimento dos aumentos dos insumos comprados pelas indústrias extrativas e de transformação é assustador , devendo repercutir fortemente nos preços do varejo em geral. A indústria, o comércio e o setor de serviços devem absorver parte do custo resultante da queda da renda, repassando a outra parte para os consumidores. Ambos ficarão no prejuízo, certamente mais às famílias.
A percepção que a análise, mesmo que preliminar, indica é que um dos fatores para explicar a inflação que está se espraiando na economia concentra-se, em grande medida, no aumento do dólar, quase 30% em 2020, encarecendo as importações, das quais, em maior ou menor grau, a grande maioria dos setores da indústria se tornou dependente.
Essa situação é reflexo da brutal desindustrialização provocada nesses últimos trinta anos, pelo menos, pelo câmbio com o dólar subvalorizado impondo uma concorrência desleal à produção nacional. Esse fator, combinado com as taxas de juros indecentes que travaram o investimento privado e o estrangulamento do investimento público, é extremamente perverso à economia brasileira.