A inflação recorde do último período continuou pesando mais no bolso dos mais pobres, revelou pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgada nesta segunda-feira (14).
A alta de preços que penaliza as famílias de menor renda se concentrou, em maio, em bens e serviços cujos preços deveriam ser administrados pelo governo: como energia elétrica, gás de cozinha, combustíveis e medicamentos.
O Indicador Inflação por Faixa de Renda registrou aceleração na pressão inflacionária para todas as faixas de renda, mas a alta de preços percebida pelos mais pobres foi, no mês, quase o dobro do que a sentida pelos mais ricos.
De acordo com o estudo, a inflação sobre a população que tem renda domiciliar inferior a R$ 1.650,00 passou de 0,45% em abril para 0,92% em maio.
A inflação acumulada em 12 meses até maio foi de 8,91% para as famílias mais pobres, patamar bem acima dos 6,33% observados no segmento mais rico da população. Neste contexto, as famílias de renda mais baixa foram penalizadas pela alta de 15,4% nos preços de alimentos para o domicílio.
Segundo o IPEA, a diferença da inflação entre as faixas de renda se explica porque as famílias mais pobres destinam maior parcela de seus orçamentos para as contas mensais, produtos essenciais e alimentação – justamente os que estão aumentando, sem regulação, desde o começo da pandemia.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE, indicador no qual o Ipea se baseia para o estudo, verificou altas de 5,4% no preço da energia elétrica, de 1,6% na tarifa de água e esgoto, de 1,2% no gás de botijão e de 4,6% no gás encanado. O avanço desses preços, que se inserem nos custos de “habitação” contribuiu em 0,42 ponto porcentual para a inflação da mais baixa renda, o equivalente a 46% de todo o aumento de preços percebido por esse segmento de renda em maio.
Também houve preção na inflação vindo dos aumentos da aumentos da gasolina (2,9%), etanol (12,9%) e gás veicular (23,8%).
Essa parcela da população que mais sofre com a carestia computa parte dos que ficaram sem qualquer renda durante a pandemia – desempregados e trabalhadores informais que foram socorridos pelo auxílio emergencial de R$ 600 no ano passado. A renda de emergência, contudo, foi suspensa em 2021, a despeito do recrudescimento do contágio e o alto nível de desemprego, retornando em abril para um valor de, em média, R$ 175.