
“A inadimplência deve seguir em alta, pressionada por juros mais elevados e menor acesso ao crédito”, afirma a entidade
A inadimplência e o endividamento das famílias brasileiras voltaram a crescer em abril, informou pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgada na quarta-feira (07).
Atingindo especialmente as famílias de renda mais baixa, a entidade vê o movimento como consequência do encarecimento do crédito com o aumento sistemático das taxas de juros. No mesmo dia em que a pesquisa foi divulgada, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), decidiu elevar mais uma vez a Selic (taxa básica de juros) para 14,75% ao ano.
“A persistente concentração da inadimplência entre as famílias de menor renda reflete uma combinação de fatores estruturais, como a informalidade e o alto custo do crédito para esse público”, afirmou em nota João Marcelo Costa, economista da CNC.
O percentual de famílias inadimplentes, ou seja, que estão com dívidas em atraso, teve crescimento expressivo de março para abril, passando de 28,6% para 29,1%. Além disso, a entidade vê como “preocupante” o aumento do número de famílias que afirmam não ter condições de pagar suas dívidas: 12,4% entre inadimplentes. Em abril do ano passado, o índice estava em 12,1%.
RENDA CADA VEZ MAIS COMPROMETIDA
O nível de endividamento das famílias também chama atenção na pesquisa, atingindo 77,6% dos lares, ante 77,1% em março. O comprometimento médio da renda com dívidas subiu para 30% em abril, sendo que 20,5% das famílias afirmam já comprometerem mais da metade de seus ganhos com as dívidas.
“A análise histórica ainda mostra que, apesar de o percentual de endividados oscilar dentro de uma margem estreita nos últimos meses, a capacidade de pagamento das famílias tem se deteriorado”, alerta a CNC.
MAIS APERTO ENTRE OS MAIS POBRES
No recorte por renda, as famílias que recebem até três salários-mínimos enfrentam a situação mais crítica: 81,1% estão endividadas e, 37%, inadimplentes. Ultrapassando a média geral, 17,5% afirmam que não tem condições de pagar suas dívidas. A diferença é expressiva quando comparada às famílias que ganham mais de dez salários mínimos, destaca a CNC. Neste recorte, apenas 15,2% estão inadimplentes e 5,4% afirmam que não conseguirão quitar as dívidas atrasadas.
As projeções da CNC apontam um crescimento contínuo do endividamento ao longo de 2025. “A inadimplência, por sua vez, também deve seguir em alta, pressionada por juros mais elevados e menor acesso ao crédito”, afirma a entidade.
A pesquisa da CNC apura as dívidas com cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, cheque pré-datado e prestações de carro e casa.