Com as negociações sobre o Brexit com a União Europeia em impasse, 500 mil pessoas marcharam em Londres no sábado (20), em apoio à realização de um segundo referendo sobre o teor do acordo que ainda não se completou. Na semana passada, a primeira-ministra Theresa May e negociadores europeus começaram a debater a possibilidade de esticar a data limite, para superar as divergências que persistem, a principal delas quanto à fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte.
As divisões entre os conservadores quanto ao acordo do Brexit têm jogado água no moinho dos derrotados no plebiscito de 2016, que agora pedem uma “nova chance”. May já se manifestou terminantemente contra, dizendo que o povo já decidiu. Conforme as pesquisas, a população está dividida 50% a 50%.
Entre os trabalhistas, estava presente no ato o prefeito de Londres, Sadiq Khan. Os liberais democratas decidiram se opor ao Brexit, enquanto os verdes rechaçam um Brexit “extremo”. Jeremy Corbyn, o líder trabalhista inglês, tem apoiado a preservação de laços com o mercado único europeu sob algum tipo de união aduaneira e prometeu que o partido votará contra um acordo insatisfatório do Brexit. Mas ainda não embarcou, abertamente, no “segundo referendo”.
O Partido Nacional Escocês enviou à manifestação de Londres mensagem prometendo apoio a um referendo que inclua a “opção de permanecer na UE”. O comício pela revisão do Brexit havia tido um comparecimento bem menor em junho, 100 mil pessoas.
Nem chega a ser uma surpresa: o fica ganhou na cosmopolita Londres e perdeu nos rincões arrasados pelo neoliberalismo que, de Thatcher a May, passando por Tony Blair, não cessa, só mudando a legenda do partido que a aplica. No barco dos conservadores, ninguém se entende e toda a semana se diz que, dessa vez, May não escapa. Defensores de proa do Brexit não escondem sua feição xenófoba, racista e oligárquica, como Boris Johnson e Nigel Farange, causando apreensão em boa parte dos que assumiram o Brexit como uma revanche à era Thatcher e filhotes.
Ninguém se entende no minguante governo May. Enquanto esta durante a semana acenou aos negociadores europeus com uma prorrogação do prazo final do acordo, o próprio ministro para o Brexit de May, Dominic Raab, foi à televisão dizer exatamente o contrário, de que a Grã Bretanha não aceitará tal extensão do período de transição que não tenha uma data limite clara ou que não preserve a capacidade de Londres decidir quando sair da união aduaneira.
Há rumores de que o que um representante acerta com Bruxelas num dia, logo em seguida vem outro inglês para desfazer: o Brexit se transformou num labirinto. Os falcões do Brexit querem sair da União Européia para ir para o colo de Trump, para preservar a city londrina, há décadas um apêndice lucrativo da banca de Wall Street, do eurodólar aos produtos tóxicos made in USA. O Sinn Fein ameaça chamar à unificação irlandesa, se for reimposta uma fronteira dura entre as duas partes da nação. A Escócia almeja realizar novo referendo da independência. E May precisando sobreviver, um dia de cada vez.