Investigadores dizem que responsabilidade pelo planejamento da defesa – que não foi feita – era do general Carlos Feitosa Rodrigues e do coronel Wanderli Baptista da Silva Junior, ambos indicados por Heleno
O inquérito policial militar aberto para investigar os militares que deveriam ter protegido o Palácio do Planalto diante dos ataques golpistas de 8 de janeiro apontou, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, responsabilidade de dirigentes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) indicados pelo general Augusto Heleno.
Sua permanência nos cargos até o dia 8 de janeiro permitiu a eles executarem o plano de sabotagem à defesa do Palácio do Planalto.
A conclusão cita ainda a sigla DSeg, do Departamento de Segurança Presidencial. À época, essa secretaria era chefiada pelo general Carlos Feitosa Rodrigues. Ele chegou ao cargo em 2021, na gestão do general Augusto Heleno, um dos instigadores do golpe. O inquérito afirma que, no âmbito do GSI, “resta evidente” que “o planejamento, o acionamento e o emprego” de militares “no tocante às ações ligadas à manutenção da integridade física do Palácio do Planalto e adjacências” cabia à secretaria ocupada por Rodrigues.
Como no caso do general Carlos Feitosa, a situação se repetia no Departamento de Segurança Presidencial da secretaria. O diretor era o coronel Wanderli Baptista da Silva Junior, que também havia sido nomeado por Augusto Heleno e ainda não tinha sido substituído no cargo na data do ataque. Ele ficava diretamente abaixo de Carlos Feitosa Rodrigues na estrutura interna do gabinete.
O relatório é categórico ao afirmar que, de acordo com o protocolo que define as ações do GSI e do Comando Militar do Planalto na defesa do Palácio (chamado de Plano de Operações Escudo), competia ao DSeg “acionar o deslocamento” da tropa de choque do Exército.
Também era obrigação da secretaria “buscar informações indispensáveis ao planejamento de ações preventivas” junto à Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e aos órgãos da Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal, o que não foi feito.
A Folha faz uma comparação entre duas manifestações. O inquérito constatou que o número de militares no dia 8 de janeiro era menor do que o de 31 de julho do ano passado, quando Jair Bolsonaro (PL) convocou manifestantes contra o STF. Na ocasião, a segurança do Planalto havia sido reforçada por 110 militares – o equivalente a uma subunidade ou três pelotões. No dia 8 de janeiro, o Comando Militar do Planalto enviou apenas um pelotão (36 homens) por volta das 12h.
O relatório detectou e relatou a sabotagem executada pelos militares indicados por Heleno. “Desta forma, é possível concluir que, sendo realizado um planejamento das ações de segurança adequado, com o acionamento de valor de tropa suficiente, a execução das ações de segurança por parte das tropas do CMP [Comando Militar do Planalto] teria melhores condições de êxito”, diz.
“Nesse sentido, a invasão ao Palácio do Planalto poderia ter sido evitada ou minimizado os danos patrimoniais sofridos”, completa o documento.
O inquérito militar afirma que, devido à falta de planejamento do general Carlos Feitosa Rodrigues, as tropas em campo não tinham condições de reagir à investida golpista. Por isso, diz que “não foram encontrados indícios de crime militar ou crime comum na atuação das tropas”.
“Devido a uma previsão de ‘normalidade’ por parte daquele órgão [Secretaria Presidencial] – que não se verificou na realidade -, o efetivo solicitado ao CMP e empregado foi abaixo do necessário diante do grande número de invasores e do comportamento agressivo dos mesmos.”
“Noutro vértice, conclui-se que há indícios de responsabilidade da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial/Dseg quanto à invasão do Palácio do Planalto, considerando que houve falha no planejamento e na execução das ações”, aponta o inquérito militar.
Imagens do circuito interno de câmeras do Palácio do Planalto durante a invasão mostraram não só o baixo número de homens no local, mas também falta de comando. A entrada principal do prédio ficou desguarnecida por cerca de 45 minutos. O inquérito foi aberto em 11 de janeiro para averiguar a atuação da tropa. A investigação foi conduzida pelo coronel Roberto Jullian da Silva Graça, hoje chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Planalto.